terça-feira, 1 de maio de 2018

CAPÍTULO 4 - Não fuja

CAPÍTULO 4
— Isso é ridículo! — trovejou Shakur e tive a impressão de que os homens de branco
tremeram por um instante. — Vocês estão brincando com coisa séria. Há centenas de anos
não fazemos isso. Para que acordar Malazar?
Havia uma sensação de inquietude no ar. A acústica não parecia mais tão perfeita como
antes e escutei os uivos do vento fazendo um coro mórbido, como se houvesse um choro de
espíritos do lado do grande domo de energia. Von der Hess pareceu desconfortável com a
situação. Estremeci.
— Foi decisão da maioria, caro Shakur — respondeu Sertolin com a voz rouca.
— O que querem provar com isso?
— Que o que ele fez foi grave demais! — intrometeu-se Napoleon. Sertolin mantinha a
cabeça baixa e andava de um lado para o outro. Napoleon avançava com claro sarcasmo na
voz: — Preciso relembrá-lo, caro líder, de que esse resgatador matou Collin, seu próprio filho,
tornou-se um desertor, fez uso das pedras-bloqueio, acobertou a híbrida e ainda a ajudou a
fugir? Isso sem contar com os rumores que chegaram até nós, mas que não temos como
comprovar já que a híbrida ainda se encontra viva...
— Que rumores? — questionou Shakur, a voz dura como o aço.
— Que Richard de Thron tentou acasalar com a híbrida!
Shakur pareceu não esperar por aquela resposta e, apesar de ter sido um único instante,
vi quando ele engoliu em seco e hesitou. Foi o tempo suficiente para que todos os magos
olhassem em minha direção. Sertolin continuava a encarar o chão enquanto o murmurinho
generalizado dos soldados preencheu os vazios naquela atmosfera artificial em que nos
encontrávamos.
— A catacumba de Malazar servirá de exemplo para os zirquinianos que ousarem violar
as normas de forma tão absurda como Richard de Thron o fez! — bradou Napoleon.
— Deixem-me concluir o serviço e vingar a morte de meu filho, Collin. Permitam-me levar
esse resgatador para Thron e submetê-lo aos castigos de meu reino. Dou-lhes minha palavra
que eu mesmo me encarregarei da sua partida — pediu o líder de negro e Napoleon repuxou
os lábios, segurando um meio sorriso de satisfação por presenciá-lo fazer esforço descomunal
e engolir seu orgulho. Shakur nunca pedia, ele mandava. — No final das contas dará no
mesmo e não sujeitaremos Zyrk a um mal sobre o qual não teremos controle, caro conselheiro.
— É tarde demais — rebateu o homem cadavérico. — O Grande Conselho não volta
atrás em suas determinações.
— Mesmo quando tem ciência de um erro? — indagou Wangor enfrentando-os. — Sendo
assim, acho que não são muito diferentes de nós, meros zirquinianos.
Meu avô era realmente bom com as palavras, como todos diziam. Kaller concordou,
liberando uma risada mordaz em retribuição e Shakur balançou a cabeça positivamente.
Mesmo sem esboçar movimento, por um breve instante, vi uma expressão vívida se formar na
face do abatido Leônidas. Von der Hess parecia agitado. Era impressão minha ou os líderes
começavam a se entender e ir contra o Grande Conselho?
— Pense antes de expressar suas opiniões, Wangor — advertiu-o Napoleon. Sertolin
permanecia com a fisionomia pensativa. — Está decidido! Richard de Thron será levado para
execução na catacumba de Malazar assim que chegarmos a Sânsalun.
— Seus estúpidos! — Shakur forçou uma gargalhada alta. Sua paciência tinha ido para o
espaço. — Não enxergam que é com o demônio que estarão lidando?
— Malazar já recebeu oferendas em sua catacumba no passado e nada aconteceu! —
rebateu Trytarus.
— Nada aconteceu porque Zyrk era um caos na época! Seria muito esforço para uma
recompensa tão pequena. Mas agora temos a híbrida em nosso poder, seu idiota! Ou você
acha que a besta não tem conhecimento disso?
— Meça suas palavras ao falar comigo, Shakur! — ameaçou nervoso o tal do Trytarus.
— Não se esqueça de que também podemos condenar um líder à catacumba! Vejo um futuro
muito sombrio em seu caminho.
— Suas visões estão há mais de uma década atrasadas, caro colega! Se não percebeu,
eu já vivo nesse caminho sombrio há muito tempo! Diga algo relevante, imbecil! — Shakur
trovejou.
— Não! — advertiu de forma séria Sertolin para o mago vidente ao vê-lo se empertigar
no lugar.
— Vejo sua partida dessa dimensão! — Trytarus bradou sem dar atenção ao alerta de
Sertolin. Shakur havia ferido seu orgulho. — E... ocorrerá... em breve... Argh!
Sertolin balançava a cabeça, inconformado, enquanto Trytarus se contorcia ao seu lado,
a pele ficando arroxeada, a garganta emitindo um chiado estranho. Ele estava asfixiando.
— Milorde, não! — intercedeu Braham. — Acalme-se, meu senhor. Estamos todos
tensos. Trytarus errou, mas não o puna. Liberte o nosso irmão, magnânimo.
Silêncio generalizado.
Constatado: o pequenino Sertolin era realmente poderoso. Ele mal parecia fazer esforço
para punir o outro sujeito que também era um mago. Após um momento de expectativa,
Sertolin piscou forte e Trytarus caiu no chão ao seu lado, zonzo e aspirando o ar de maneira
desesperada.
— Mestre, desculpe, eu não sei o que deu em mim, eu... — tentou argumentar Trytarus,
mas Braham fez um sinal com a cabeça para que ele ficasse quieto. Ele parecia ser muito
sensato, mesmo sendo o mais jovem de todos. Sertolin continuava com o semblante
transtornado, ilegível. Não conseguia entender, mas podia jurar que detectei um lampejo de
amargura por detrás daquele seu acesso de fúria.
A visão de Trytarus gerou emoções opostas entre os presentes. Shakur não era um
sujeito que gerasse sentimentos pela metade. Era tudo ou nada. Se alguém não o adorava, na
certa o odiava. E isso ficou estampado no que acabava de observar ao meu redor: sem
sucesso, Wangor e Kaller tentaram disfarçar seu contentamento mantendo uma postura
impassível e diplomática. Von der Hess e Kevin escancararam o sorriso de satisfação. Os
homens de Thron, por sua vez, ficaram apáticos, quase um bando de zumbis. Em poucos dias
eles perderam seu norte, seus adorados líderes. Sem Richard, Collin ou Shakur, quem iria
comandá-los? Senti-me muito mal por eles. Sabia que Richard matara Collin para me salvar e
os abandonara por minha causa. Agora Shakur também acabaria morrendo e uma voz sinistra
sussurrava em meus ouvidos que eu seria a culpada. Chacoalhei a cabeça e observei Shakur
por um instante. Sua figura intimidadora e fria, o corpo inteiro sempre coberto de negro, suas
cicatrizes de queimaduras, os resquícios de alguém que já sofrera o suficiente por muitas
vidas, e, sem que eu conseguisse mapeá-la, senti uma emoção estranha se espalhar por
minha alma...
Shakur pareceu perceber que eu o observava, encarou-me com vontade e, após enrijecer
por um momento, desatou a gargalhar. Realmente gargalhar de felicidade. Parecia
imensamente satisfeito com a notícia de sua morte iminente. Pobre criatura!
— Eu já morri há muito tempo, seu idiota! — disse em meio às insanas gargalhadas. —
Mas agora sou eu quem fará uma previsão que não esperará décadas para acontecer, caros
colegas. Aliás, direi o dia exato — rebateu Shakur com sarcasmo demoníaco. — Dentro de
quatro luas essa dimensão estará arruinada se vocês continuarem com essa ideia absurda da
oferenda na catacumba de Malazar. Não há magia que consiga deter tal demônio, seus
estúpidos! Se não fosse por Chawmin, Malazar estaria solto há muito tempo e nada do que
conhecemos existiria. Nada.
— Se vai morrer em breve, por que se preocupa tanto com o que vai acontecer com
Zyrk, caro Shakur? — sibilou Von der Hess.
— Porque não desejo que um bando de imbecis como vocês acabem destruindo tudo que
construí! Porque a nossa dimensão será arruinada num piscar de olhos.
— Sei... Um líder sanguinário e maníaco por poder como você querendo nos pregar essa
moral? Acha que acreditamos nesse seu amontoado de desculpas esfarrapadas? Diz logo o
seu plano, mascarado. Você nunca joga para perder — alfinetou Von der Hess.
“Shakur nunca joga para perder.” As mesmas palavras de Rick... Céus! Seria uma nova
jogada dele? Quem estava falando a verdade?
— Meu plano é arrancar sua cabeça de lombriga com as minhas próprias mãos e colocála
como aperitivo para Malazar — rosnou Shakur. — Na certa a besta morreria envenenada e
ficaríamos finalmente livres!
— Calados! — ordenou Sertolin quando um ruído ensurdecedor preencheu o lugar, e
várias trincas, vários curtos-circuitos pipocaram pela bolha de energia que nos envolvia,
permitindo que uma ventania violenta forçasse caminho por elas. De repente, tudo voltou a
ficar em silêncio e, quando dei por mim, todos os membros do Conselho denunciavam
fisionomias que variavam entre enfurecidas ou preocupadas.
— Guimlel! — berrou assustado um dos magos de branco que até então permanecera
calado. — Como conseguiu entrar?
A aparição intempestiva de Guimlel me fez recordar de imediato da promessa que havia
lhe feito e que não consegui cumprir: afastar-me de Richard se realmente o amasse e
quisesse mantê-lo vivo. Um nó de culpa se formou em minha garganta, mas uma pontada de
esperança crescia em minha alma. Guimlel não estaria ali à toa. Ele veio ajudar Richard!
— Esqueceu com quem está falando, Artholil? Trytarus não previu minha aparição? —
Guimlel estalou a língua com claro desdém e abriu um sorriso forçado. Imaginei que Shakur
acharia graça daquela piada, mas sua postura rígida e seu semblante hostil mostravam o
contrário. Guimlel continuou: — Aliás, devo confessar que foi decepcionante esse escudo
energético que colocaram aqui. Achei que após a minha saída vocês desenvolveriam uma trava
mais forte, algo que realmente os protegesse de visitas inoportunas — disse essa última frase
displicentemente enquanto fazia varredura em todos.
— Você não é bem-vindo aqui, Guimlel — rebateu Napoleon nervoso. — Não foi
convocado.
— Eu me convoquei — respondeu o médium sem alterar o tom de voz brincalhão. Com
os lábios repuxados, Guimlel olhou rapidamente em minha direção e fechou a cara. Ao ver
Richard desacordado próximo a Shakur, sua expressão ficou ainda pior e suas pupilas
vibraram. Eu poderia jurar que sua ira seria voltada para mim, à minha cáustica presença na
existência de Rick, mas estranhamente era o líder de negro a quem ele encarava com fúria. E
parecia ser recíproco, porque Shakur estava com a postura mais enrijecida do que antes.
Apesar de ser magro e não ter o porte largo de Shakur, Guimlel era uma figura igualmente
imponente com seus quase dois metros de altura.
— E posso saber por qual motivo, caro Guimlel? — indagou Sertolin de forma educada.
A expressão vacilante do pequenino líder demonstrava que ele era atormentado por algum tipo
de conflito.
— Para relembrar a fraca memória dos caros colegas — Guimlel respondeu de forma
gentil.
— Sobre que assunto especificamente? — insistiu Sertolin.
— Sobre o grave erro com relação à execução de Richard de Thron!
Graças a Deus!
Pelo olhar de assombro das pessoas ali presentes, tudo indicava que era verdade o que
a Sra. Brit havia me contado: ninguém sabia que Guimlel foi como um pai adotivo para Richard
durante onze anos.
— Eu admiro seus lampejos de loucura, caro Guimlel — suspirou Von der Hess. — Achoos
sedutoramente corajosos.
— Obrigado — respondeu Guimlel, estalando o pescoço como se estivesse se alongando
antes de dar início a uma luta.
— Pare com esse showzinho e fale logo! — trovejou Shakur impaciente.
— Vejo que seu temperamento continua o mesmo — rebateu o médium com um sorriso
cínico, mas seu olhar felino denunciava o contrário.
Foi a primeira vez que Shakur ameaçou sair de seu lugar, mas recuou, provavelmente ao
se chocar com o campo de energia que o envolvia. O poderoso Guimlel, diferentemente de
todos nós, passeava livremente pelo domo. Recordei-me das explicações da Sra. Brit de que
ele havia pertencido ao Grande Conselho no passado, e que saíra de lá desde que fora taxado
como louco.
— Diga logo, Guimlel! — ordenou Sertolin, começando a perder a paciência.
— Antes de condenarem qualquer zirquiniano ao Vértice, o Grande Conselho deveria
checar com os mensageiros interplanos a respeito da procriação da vítima.
— Não fazemos essa tolice há anos! — guinchou Napoleon.
— Pois eu sempre averiguo — retrucou Guimlel de forma enigmática. — Tive a sorte de
tomar conhecimento de algo fabuloso. Por que não checam o que os mensageiros me
disseram desta vez?
— Meu líder afirma que se é para discutir tais bobagens ele prefere se retirar. Não está
se sentindo bem — replicou a voz ofídica de Von der Hess.
— Você fica — ameaçou Shakur.
— Quem pensa que é para me dar ordens, mascarado? — rebateu Von der Hess. —
Nós estamos nesta reunião porque desejamos e sairemos quando bem entendermos. — Von
der Hess ajeitou o capuz na cabeça e passou os braços ao redor de Leônidas. — Até a
próxima, caros senhores — concluiu e acenou para o Conselho.
O som estridente de uma trovoada aconteceu no mesmo instante em que ele se
despedia. A seguir havia silêncio e...
Von der Hess e Leônidas permaneciam ali!
— Soltem-nos! — Von der Hess ordenou nervoso, olhando de maneira assustada de
Sertolin para Shakur. — O que está havendo aqui?
— Se importa em ficar por mais alguns minutos conosco, caro Leônidas? — indagou
Sertolin repentinamente. O velho líder tinha os olhos arregalados. Guimlel abriu um sorriso
preocupado, Wangor e Kaller permaneciam atordoados e a metade visível do rosto de Shakur
estava deformada de ódio. Ele empurrava os braços para cima, como se quisesse se ver livre
daquela barreira invisível.
— Meu senhor está exausto e... — Von der Hess titubeou e recuou.
— Eu aguento — confirmou Leônidas com um gesto positivo de cabeça. — Você nunca
me contou sobre essa questão de procriação, Hess.
— Não ia desgastar sua frágil saúde com tolices, meu senhor — respondeu o mago
albino.
— Se eu soubesse disso, talvez as coisas pudessem ter sido diferentes... Se meu
Daniel... — A voz de Leônidas saía num murmúrio sofrido.
— Ninguém muda o destino, milorde — Von der Hess respondeu ao seu líder, mas
encarava Shakur de um jeito diferente, como se o analisasse com interesse agora.
— Eu quero ver o que esses mensageiros interplanos disseram para ele. — O líder de
Marmon apontou para Guimlel.
— Ótimo! — rebateu Guimlel satisfeito. Ele gesticulava como um apresentador de
programas de auditório. — Como todos já sabem — explicou olhando para os líderes —, os
mensageiros interplanos nos relatam o melhor dia e parceiro de procriação para os
zirquinianos. Mas não se trata apenas disso. O que está em jogo é a manutenção do poder. É
por isso que temos os melhores exemplares do nosso lado. Nossos filhos são belos, fortes e
inteligentes, enquanto as crias das sombras continuam cada vez piores. O Grande Conselho
sabe que precisa de crias “adequadas” para manter o tênue equilíbrio de Zyrk. — Guimlel tinha
a expressão modificada agora. Parecia que dava uma espécie de repreensão aos líderes. —
Não é mera coincidência que os filhos dos líderes sejam os melhores resgatadores de Zyrk...
— Meu Daniel era imbatível — Leônidas liberou um choro fino. — Ainda hoje não acredito
na morte estúpida que teve.
Vi Wangor engolir em seco e abaixar a cabeça. Leônidas não sabia sobre o fato de ter
sido Dale, meu pai, o responsável pela morte de Daniel, seu filho?
— Dale era meio instável, mas também era muito bom com as armas, caro Wangor —
comentou Guimlel com um sorriso mordaz.
Wangor permaneceu cabisbaixo e nada respondeu.
Meu pai era instável. O que todos queriam dizer com aquilo? Guimlel sabia que Dale
matou Daniel e tripudiava sobre meu avô?
— Não foi o seu caso, mascarado. Você não teve muita sorte com a sua cria — Guimlel
tornou a se dirigir a Shakur, que, para minha surpresa, também não reagiu. Pelo contrário, vi
seus ombros tombarem após fechar os olhos. Perto dele, o corpo ferido de Richard tinha
espasmos involuntários, como se estivesse em convulsão.
Ah, não! Ele estava piorando!
— Aonde quer chegar, Guimlel? — Havia expectativa no tom de voz de Sertolin.
— Que a situação mudou, Mon Senhor! — Guimlel ficou repentinamente sério. — Que
não é apenas com inteligência que se ganha uma batalha e se governa uma dimensão.
Precisamos de homens! Termos os melhores exemplares é ótimo, mas não teríamos número
de soldados suficientes para enfrentar uma batalha caso nossas sombras se unissem e
rebelassem contra nós. Não percebem? Elas estão se multiplicando desordenadamente. E,
graças ao descaso dos senhores com relação a essa checagem com os mensageiros
interplanos — disse com fisionomia feroz —, algumas sombras tiveram crias com elevado grau
de inteligência. Estas poucas cabeças pensantes se tornarão líderes e perceberão que estão
em número superior ao nosso. Logo incutirão na mente de seus comandados a se voltarem
contra nós. Não seremos apenas depostos, seremos eliminados, e Zyrk será governada pela
escória do mundo! Não enxergam que a estupidez dos senhores está condenando Zyrk, assim
como a segunda dimensão? Precisamos nos preparar! Existem horrores mais iminentes do que
a híbrida!
— Vá direto ao ponto, Guimlel — ordenou Sertolin, visivelmente desconfortável com a
situação.
— Richard de Thron só poderá cumprir sua pena após a data de seu acasalamento —
disse por fim.
— O quê?! — questionou Napoleon intransigente.
— Os mensageiros afirmaram que ele será o procriador do exemplar mais poderoso que
Zyrk já produziu nesses milhares de anos, o único que poderá enfrentar Malazar e matar as
bestas da noite! Tornaremos a ter poder e faremos a balança do domínio voltar a pender para
o nosso lado.
Naquele instante a felicidade que senti por saber que Richard teria mais algum tempo de
vida foi parcialmente corroída por um ciúme enlouquecedor. Saber que quem desfrutaria
aquele momento mágico com Richard não seria eu, mas sim Samantha, fez ferver minha mente
e hormônios. Fui trazida à realidade pela risada falsa de Von der Hess. Shakur permanecia
imóvel e de cabeça baixa, os demais líderes estavam atordoados com a notícia enquanto os
senhores do Conselho argumentavam entre si.
— Mas o resgatador de Thron está em péssimas condições. Morrerá antes mesmo de
chegar ao dia do seu acasalamento — soltou Leônidas em alto tom.
— Não se o nobre Conselho me permitir chamar uma pessoa para tratá-lo — retrucou
Guimlel para Sertolin.
O pequeno líder ficou pálido e, sem que eu pudesse esperar, desapareceu bem diante de
nossos olhos. Alguns segundos depois ele estava de volta e trazia uma caixa brilhosa em suas
mãos enrugadas.
— O que ele diz é verdade — anunciou Sertolin. — Chamem Labrítia! O condenado
ficará preso até a data de seu acasalamento e, em seguida, será dado em sacrifício a
Malazar.

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