sábado, 26 de maio de 2018

CAPÍTULO 27 - Não fuja

CAPÍTULO 27
— Eu preciso falar com ele. Dentro da bolha — sussurrei, segurando o braço de Shakur
com determinação assim que ele entrou na gruta principal. Não sei por quanto tempo fiquei ali,
camuflada em suas sombras e imersa em meus conturbados pensamentos. Algo me dizia que
eu precisava ficar. Eu tinha de arrumar um meio de estar com Richard sem a presença de
ninguém.
— É muito perigoso. Para ambos. — Seus passos paralisaram, mas ele não parecia
surpreso em me ver.
— Não importa. Estaremos correndo risco em qualquer lugar que nos encontrarmos e eu
preciso conversar com ele — rebati e pude escutar o peso da ansiedade em minha voz. —
Sabemos que nossas chances são mínimas e que não apenas Windston, mas todos os clãs
estão vigiados a uma altura dessas. Não haverá para onde ir.
Shakur levou as mãos às têmporas e fechou os olhos.
— Richard não pode sair da minha vida simplesmente assim — continuei, acelerada. —
Eu preciso me despedir, ter uma recordação de um momento bom em meio a essa
tempestade de horrores.
— Nina, não me peça isso. Você viu o que lhe aconteceu da vez anterior. — Ele
balançava a cabeça. — Pode não suportar um contato maior e eu não me perdoaria se...
— Algo me diz que nada de ruim vai acontecer comigo, mas, se estiver enganada, saiba
que não poderia ter me dado presente melhor. — Levantei seu rosto, fazendo-o olhar para
mim.
— Eu não posso. Minhas forças...
— Por favor, pai. Por favor.
Seus lábios se entreabriram e Shakur arregalou os grandes olhos azuis, agora intensos e
brilhantes. Sem conseguir conter o tremor nas pernas e a lágrima que rolava, joguei-me sobre
ele, abraçando-o com toda a minha força e angústia. Algo se insinuava em minha mente e
afirmava que aquela poderia ser a última vez que o veria também.
— E-Eu... — suspirou alto. — Tudo bem, Pequenina. Vocês dois têm duas horas antes
que o dia amanheça — murmurou em meus ouvidos enquanto acariciava meus cabelos. — Que
Tyron me perdoe e nos ajude.
Sorri, ainda com a cabeça afundada em seu peitoral. Pude escutar as batidas aceleradas
de seu coração.
— Obrigada, pai. Por tudo.
#
— Shakur, eu não... — Richard começou a protestar, mas estreitou os olhos e se
empertigou no lugar quando, atordoado, identificou quem entrava pela caverna e rolava a
pedra atrás de si. Em seguida éramos envolvidos pela cápsula de energia branca. — Nina?!
Mas como...?
— Presente do meu pai. Precisamos conversar — sussurrei, apesar de saber que não
era preciso. A bolha era à prova de som.
— Não errou o aposento? — indagou com acidez, fulgurando meus olhos com tanta
força, tanta luz, que quase perdi a fala e me dobrei no lugar. Tudo em Richard era intenso, viril,
além. Tudo nele era muito. Sua ira e sentimentos, suas ações e reações. Tive de me lembrar
como respirar em meio à estática do ambiente e às toneladas de oxigênio sufocando meu
raciocínio quando meus olhos se deparam com a miragem à minha frente: ele tinha os cabelos
negros caindo pelo rosto, desgrenhados, estava descalço e sem camisa, e, para complicar as
coisas para o meu lado, as tiras da sua calça estavam soltas, deixando-a perigosamente baixa
em sua cintura, o peitoral esculpido de músculos e cicatrizes contraindo-se com velocidade
assustadora.
— Eu não amo o John. Nunca amei — custei a encontrar minha boca em meio à
palpitação enlouquecida de meu coração.
— Você precisa dormir. Eu preciso descansar e... — Havia um halo negro, profundo,
envolvendo suas pedras azuis-turquesa e sua atitude hostil. Vi ciúmes, perturbação, ternura, ira
e temor refletirem nelas.
— Obrigada — dei um passo em sua direção e senti o sangue correr muito rapidamente
para a minha cabeça. Tinha de me manter focada. Nada do que ele dissesse conseguiria
alterar meu humor. Richard engoliu em seco, mas permaneceu paralisado no lugar. — Pelo
que fez por mim. E pelo que ainda vai fazer.
Seus lábios se separaram um pouco, mas ele não disse uma palavra sequer.
Simplesmente não respondeu. Mantive-me firme e desatei a contar os intermináveis segundos
até visualizar sua energia agressiva perder a força e uma expressão estranha, indecifrável,
permanecer tempo demais em seu semblante.
— Eu não... fiz... nada demais — murmurou, tentando esconder qualquer tipo de emoção
em sua face.
— Nada? No meu dicionário é justamente o oposto: você fez tudo, Rick. Assumiu a morte
de Collin e foi condenado ao Vértice para me proteger, pagou com moedas de ouro para que
eu fosse levada viva para Storm, me resgatou do Pântano Negro e da Floresta Fria, lutou
contra mercenários, bestas da noite e Von der Hess para me salvar — disparei acelerada. Ele
empalideceu e, embora sua testa tenha se enchido de vincos, sua expressão se suavizou. —
Você fez isso tudo por mim, para me manter viva.
— Eu fiz o que foi preciso, e... — Captei a dor em sua voz. Meu corpo reagiu
imediatamente.
— Shhhh! — interrompi-o com urgência. — Eu sei que você vai se entregar quando o dia
clarear. Vai tentar despistar os homens do Grande Conselho e nos dar algum tempo extra
para fuga. E, se já o conheço bem, vai deixar que eles o eliminem no final para que não o
levem para a Catacumba de Malazar. Sei o que planeja aí dentro — apontei para seu coração
e abri um sorriso triste. — Morrer pela lâmina de uma espada e não pela garra de uma
besta... Uma morte honrosa para um guerreiro excepcional como você.
— Não tenho opção. — Ele começou a andar de um lado para o outro, o duelo de
tormentos sendo travado dentro de si.
— Tinha a opção de se despedir de mim — afirmei segurando a todo custo as emoções
que ameaçavam me engasgar a qualquer instante. Meu tempo com ele seria mínimo. Não me
perdoaria se perdesse um segundo sequer.
— Despedir?! — Ele quis parecer feroz, mas cambaleou, mal conseguindo ficar de pé ou
esconder o discreto choro camuflado em seu timbre de voz. — Depois que a conheci, parece
que é tudo o que tenho feito, porra! E toda vez que isso acontece a dor que sinto aqui — ele
bateu com a mão no peito — fica insuportável! Morrer por uma espadada ou garra de besta,
como acabou de dizer, não me apavora tanto quanto o momento em que preciso enfrentá-la
dessa forma! — ele arfava, perdendo o controle da razão e finalmente conseguindo expor seus
sentimentos. — Essa maldita dor é muito pior que qualquer ferimento! Parece que estão
rasgando a minha alma e tacando fogo nos pedaços! Estou queimando por dentro, Nina.
Comecei a morrer no dia em que a conheci. Morro um pouco mais a cada segundo que preciso
me despedir de você, a cada instante que desejo te tocar e não posso. — Sua dor era tão
cristalina, tão verdadeira que me senti a pior de todas as bestas ou maldições. Eu o estava
matando... — Estar vivo e não poder te ter é pior que morrer, Tesouro.
— Mas pode ser diferente. — Antes que ele pudesse reagir, segurei suas mãos e o fiz
olhar para mim.
— Você não sabe o que diz, Nina! — Seu corpo respondeu, estremecendo com o meu
contato. Seus lábios se afastaram e seus olhos brilharam, num misto de desejo e
atordoamento, enquanto ele lutava para não encarar a minha boca. Então ele contraiu a testa
com força e, desvencilhando-se de mim, desatou a balançar a cabeça de um lado para o
outro.
Eu sabia que havia tanto a dizer, satisfações a exigir e segredos a desvendar, mas não
era isso que minhas células e espírito desejavam sofregamente naquele instante. Menos de
dois meses haviam se passado desde que nos conhecemos em Nova Iorque, e foi tudo tão
louco, tão intenso, tão completo... A sensação que me tomava era de que estávamos juntos
desde sempre. Uma voz berrava dentro de mim e afirmava que tudo havia acontecido
exatamente para culminar ali.
Com ele.
Naquele momento.
E para sempre.
— Sei sim — murmurei em baixo tom e segurei seu rosto arisco em minhas mãos. —
Escolher você foi optar pelo caminho mais difícil, Richard. Tive de abraçar o desafio e a
dúvida, acolher as lágrimas. Não pense que foi fácil. — Era impossível conter o tremor em
meus lábios e a secura em minha boca. — Escolher você foi, apesar de tudo, aceitar como eu
realmente sou: a maldição, o milagre, o mistério. Percebi que ambos somos imagens
refletidas, partes de uma mesma moeda primorosa e defeituosa. Onde um termina, o outro
começa. O fim e o início unidos no meio. Somos ambos a vida e a morte do outro, fazemos
parte da mesma energia. Se eu serei a sua morte, não se esqueça de que você é a minha vida
— aproximei meu rosto lentamente do dele. Ele estremeceu com a proximidade, ainda lutava
internamente. — Eu te amo, Richard. Não tenho dúvidas do meu sentimento. Quero tentar
outra vez.
— É tudo o que mais desejo na vida, Nina — sua voz ressoou rouca e repleta de emoção
no silêncio que nos envolvia e meu corpo respondeu, arrepiando-se por inteiro. A pulsação
enlouquecedora por trás dos meus ouvidos crescia rapidamente. — Mas eu não posso. Você
viu o que eu lhe fiz e...
— Naquela vez eu já não estava bem, Rick! — rebati com urgência. — Eu havia acabado
de sobreviver ao Pântano Negro e era atacada por uma dor de cabeça implacável muito antes
de você aparecer.
— Nina, eu também quero acreditar que podemos fazer... isso. Mas eu temo a minha
força e Guimlel afirmou que Zyrk...
— Que se dane Guimlel, Tyron, e o mundo! Não vou dar mais ouvidos a ninguém! De que
adianta sobreviver se serei vetada dos meus amores? — bradei e ele arregalou os olhos. —
Perdi minha mãe pela segunda vez e agora vou perder você, Rick! Eu não aguento mais ter de
me privar de amar e só existe uma única coisa que me impede de desistir de tudo: a fé em
nós, nesse sentimento que nos une. Por favor, não me faça desistir dele também. Por favor,
não me afaste — implorei. — Eu preciso de você. Preciso muito — confessei com a voz
embargada, jogando qualquer traço de vergonha remanescente e a possível verdade para bem
longe.
Precisava controlar o temor que se insinuava dentro de mim. Não queria imaginar que, em
alguns instantes, tudo poderia acabar da mesma forma trágica que ocorreu na casa da Sra.
Brit. Ainda assim, morrer nos braços da pessoa amada parecia-me uma morte melhor, bem
melhor. Respirei fundo e percebi que, mesmo com medo das consequências, tinha de confiar
cegamente naquela ligação, na energia que nos unia. Aceitar sua imperfeição e complexidade
sem qualquer tipo de restrição. E, mesmo dentro do turbilhão de sentimentos controversos e
atitudes desencontradas, Richard dera-me provas contundentes de seu amor por mim.
Estreitando os olhos, Richard encarou meus lábios com tanta vontade que minhas pernas
ficaram imediatamente anestesiadas. Ele parecia não acreditar no que acabara de escutar e,
imerso na tensão do momento, brindou-me com um sorriso deslumbrante. Senti-me derretendo
da cabeça aos pés. Seu sorriso era lindo, fascinante, tão raro...
— Ah, Nina... — ele balançava a cabeça, mas não parecia haver negação em seu rosto.
— Só vamos tentar... — Meu coração já acelerado começou a bombardear o peito
freneticamente. Era uma rendição! Richard entrelaçou os dedos nos meus e, com a respiração
irregular, puxou-me para junto de si e me ergueu do chão com um só braço. Com o olhar
vidrado, sua outra mão acariciava meu rosto enquanto ele me carregava. — Só tentar, ok? —
repetiu rouco e urgente.
Ele me acomodou lenta e carinhosamente sobre sua cama improvisada no chão e se
deitou vagarosamente sobre mim. A excitação em sentir seu peso, presa sob seu corpo
grande, firme e musculoso era enlouquecedora. Seus lábios roçaram meu pescoço, pouco
abaixo da orelha, contornando-o delicadamente até a ponta do ombro. Richard não mergulhou
em mim, sôfrego e desesperado como da vez anterior, mas lenta e meticulosamente acariciou
e beijou cada centímetro de meu corpo exposto, delineando com calma e deliberação o
formato da minha boca, o sulco, a depressão, e meus lábios responderam, arfando, inalando
seu ar, abrindo-se com a sua chegada. Minha pele ardia em brasas, queimando de desejo,
sob as carícias de sua língua úmida e dedos hesitantes. O fogo estava de volta, mais ardente
e impiedoso do que nunca.
— Se sentir algo estranho, se eu fizer alguma coisa... errada, você deve me dizer na hora
— sussurrou, encarando-me tenso de repente.
— Eu direi — assenti ainda perdida dentro do frenesi enlouquecedor. O mundo parecia
diferente daquele ângulo. Mais sombrio, mais perigoso. E absurdamente mais excitante com
Richard sobre mim, preenchendo meu campo de visão e se tornando o meu universo. Ele
encheu o ar ao meu redor até não sobrar nada além dele, do calor do seu corpo e seu cheiro
pungente. Comecei a me afogar, mergulhando em suas cicatrizes, caindo em pedaços em
seus braços musculosos, sufocando no seu ar, cada centímetro do meu corpo pulsando
dolorosamente de prazer, derretendo-se em meio aos seus beijos febris. Suas pedras azuis se
transformaram em cristais resplandecentes, confidenciando-me a confusão de emoções que o
tomavam: felicidade, angústia, desejo, temor, expectativa. Só agora me dava conta de que
todas aquelas emoções eram novas para ele também. Naquele sentido, Richard era tão
inexperiente quanto eu! Vibrei intimamente ao imaginar que passaríamos por aquela primeira
experiência juntos. E se conseguíssemos...
— Oh, Tyron! Você... — sussurrou com a voz trôpega, espremendo a palavra em minha
pele, tatuando-a em minha alma. — Não tem ideia... Do que faz comigo — seu peito era um
terremoto, fazendo meu corpo tremer em resposta, desejando implodir em milhares de
pedaços. — Não imagina... quantas vezes sonhei com isso, quantas vezes eu... — ele arfava
com força em minha orelha, gerando uma sequência ininterrupta de calafrios em minha pele
febril. Suas mãos trêmulas, insaciáveis, percorriam meu colo desnudo e chegaram à alça do
meu vestido. — Não tem ideia... — disse com a voz rouca de tesão —, do quanto eu a desejo,
do que seria capaz de fazer por você.
Suas palavras eram lavas incandescentes derretendo dentro de mim, gerando uma
sensação ao mesmo tempo arrasadora e maravilhosa.
— Você me deixa louco, Nina. Muito... louco...
— Rick! — soltei um arquejo, subitamente sem fôlego quando ele segurou meus dois
pulsos com apenas uma das mãos, prendendo-os acima da minha cabeça, e encheu meu
pescoço de beijos cada vez mais quentes e molhados.
— Ah, Tesouro — ele gemeu, pressionando-me contra o chão, e seus lábios cobriram os
meus com carinho e cuidado. Seus dedos ganhavam coragem e avançaram por todas as
curvas do meu corpo, fazendo-me tremer de felicidade e excitação a cada toque enquanto se
desfaziam cuidadosamente da montoeira de panos que me cobriam e se livravam da calça
comprida. Finalmente estávamos os dois completamente nus nos braços um do outro e sentiame
plena como nunca antes na vida, sem qualquer sinal de vergonha, fraquezas ou escuridão.
Não havia conflitos que pudessem romper a barreira impenetrável que a força do nosso amor
havia erguido. O mundo nunca pareceu tão perfeito, como se as quatros dimensões tivessem
finalmente entrado nos eixos e se alinhado de maneira única e magnífica. — Você é linda
demais — disse com os olhos vidrados, os dedos roçando as laterais do meu rosto. — Eu
nunca imaginei que poderia ser tão... tão...
— Tão...?
Richard suspirou alto e passou a língua por minha clavícula enquanto seus dedos
roçavam minha cintura e faziam uma trilha de fogo pelas laterais das minhas coxas. Seu peito
arfando muito, sem fôlego, quando confessou olhando bem dentro dos meus olhos, a testa
prensada contra a minha, o nariz tocando o meu, a voz mais rouca do que nunca: — Tão
perfeito. Estou tão... perdidamente apaixonado por você.
Explosão. Minha pele pegou fogo e meu corpo entrou em combustão. Ele acabava de me
matar e nem imaginava. Transformei-me em pedaços de felicidade espalhados pelo chão.
— Eu te amo, Richard — confessei num murmúrio impregnado de ardor e admiração. —
E vou te amar por toda a minha vida.
Então Richard se afastou de mim e vi quando a última parte da sua armadura finalmente
caiu por terra e ele se desmanchou bem na minha frente. Emocionado, ele tinha as bochechas
rosadas quando acariciou meu pescoço e piscou inúmeras vezes antes de me presentear com
outro sorriso deslumbrante, ainda mais hipnotizante que o anterior. Meus olhos, maravilhados,
alternavam-se de seu rosto irretocável para as marcas em seu peitoral esculpido de músculos.
Estremeci com a visão de seu corpo nu e musculoso à minha frente. Acho que o mesmo
aconteceu com ele porque, no instante seguinte, contraía os olhos, segurava meu rosto com
ambas as mãos e enterrava os lábios nos meus com fúria e vontade arrasadora.
— Ah, Nina — gemeu alto. As veias do seu pescoço haviam dobrado de tamanho e a
pele alva faiscava, rubra de desejo. Sua pulsação estava irregular demais, urgente demais, e
ele me beijava sôfrega e desesperadamente. — Você me deixa louco.
— Eu quero você, Rick — pedi agoniada em meio aos espasmos de puro sentimento que
me roubavam o fôlego e o equilíbrio.
— Eu sempre fui seu, Tesouro. Desde o início. Muito antes de reconhecer para mim
mesmo. — Richard tornou a se afastar de mim. Desta vez seu olhar estava pesado, carregado
de emoção, infinito. — Quero que saiba que o que está acontecendo aqui é real e só você foi
capaz de gerar... isso em mim — ele puxou uma de minhas mãos e a levou ao coração
acelerado. — Que se eu pudesse escolher, seria sempre você, Nina. Se existisse um meio de
paralisar o tempo, alguma forma de impedir o amanhã eu...
— Shh! Apenas me ame — coloquei um dedo em seus lábios. Não queria saber do
amanhã. Eu tinha o agora com o homem que eu amava e não permitiria que nada estragasse
aquele momento. Richard entreabriu os lábios e estreitou o olhar. Estremeci com a nova visão:
estava felino!
Ele repuxou o canto da boca em seu sorriso mortalmente sedutor e, segurando
delicadamente uma das minhas pernas, passou a língua em cada um dos meus dedos dos
pés. A visão era arrebatadora demais. Estremecimento. Fervor. Sensações. Entrega. — Esta
noite eu juro que vou fazer você esquecer-se de tudo, meu amor. Da vida, da morte — lambeu
meus tornozelos —, do ontem, do hoje e do amanhã — roçou minhas panturrilhas com a barba
por fazer —, das suas dúvidas e temores — destacou cada palavra com emoção arrasadora
enquanto depositava beijos febris nos meus joelhos. — Por fora, você é o meu dia e a minha
noite — deslizou a língua pela parte interna da minha coxa direita —, o certo e o errado, o sim
e o não, a minha certeza e a minha dúvida. — Passou para a perna esquerda e, lentamente,
mas muito lentamente, sua língua quente começou a subir, fazendo caminhos sinuosos de
carinho e tortura. Eu ia explodir de prazer. Tinha certeza que não ia suportar nem um segundo
a mais. Ele estava me destruindo. — Por dentro, você é Zyrk, Intermediário, Vértice e Plano.
Você é o meu universo, as quatro dimensões da minha existência. — Paralisou sua investida e,
com voz pulsando ardor e sentimento, liberou a frase que deu sentido à minha existência e ao
nosso encontro, desintegrou os resquícios de incertezas e desacorrentou o amor enlouquecido
que eu vinha sufocando desde o momento que me deparei com suas preciosas pedras azuisturquesa:
— Você é meu tudo, Nina Scott. Sim, eu quero você. Quero tudo seu. Cada piscar,
cada milímetro, cada segundo da sua existência. Sim, eu a desejo. Mas é bem mais do que
isso, meu amor. Não é apenas porque você mexe comigo de uma forma primitiva, porque
perco o controle de quem deveria ser na sua frente, porque meu corpo pega fogo, meu
coração acelera e tudo em mim explode quando toco em você, mas porque, se nada disso
fosse possível, ainda que não pudéssemos... — sua voz falhou —, eu ainda seria o homem
mais feliz do universo se você me aceitasse na sua vida e se compartilhasse seu mundo
comigo. Eu te amo, Nina Scott. Por dentro e por fora. — Então seus olhos latejaram com fúria
e ele avançou, do jeito que mais me deixava louca, faminto e selvagem, sobre meu corpo nu.
E ele me fez a mulher mais feliz do mundo.
Mesmo que este mundo estivesse em ruínas do lado de fora daquela bolha

Nenhum comentário:

Postar um comentário