terça-feira, 8 de maio de 2018

CAPÍTULO 11 – Dias atuais

CAPÍTULO 11 – Dias atuais
— É tudo que posso fazer por ele. Espero que Labrítia chegue logo — murmurou Sertolin
em tom grave para Guimlel. Ele havia colocado Richard em um campo de força branco
leitoso. Angustiada, mal percebi que fincava as unhas em minha própria pele. O estado de Rick
era grave.
Com exceção de Shakur, os demais líderes foram dispensados. O governante de Thron
foi preso por desobedecer a todas as ordens dadas e partir para violentas agressões verbais
a Napoleon. Kaller, Leônidas e Von der Hess pareceram aliviados com a dispensa. Wangor,
meu avô, permaneceu pensativo e taciturno durante todo o tempo e, antes de acatar a ordem
dos magos, piscou enigmaticamente para mim, fazendo um gesto com as mãos e me pedindo
calma. Meu coração imediatamente se agitou dentro do peito. Podia sentir que Wangor estava
bolando alguma alternativa para me tirar dali e tive medo de que ele viesse a fazer alguma
besteira irreversível. Não cogitava a hipótese de perdê-lo também.
Um zunido alto e uma luz roxa ganharam intensidade ao meu redor. Os magos estavam
alterando o campo magnético que envolvia a minha cela, deixando-a barulhenta e apenas
parcialmente transparente. Assustada, olhei para os demais casulos de força e vi que, assim
como o meu, o mesmo acontecia com as celas dos outros três prisioneiros, Kevin, Shakur e
Richard. Antes dos magos retornarem ao seu descanso na grande tenda e da parede de
energia arroxeada dificultar minha visão e audição, presenciei Shakur levando as mãos aos
ouvidos e os berros acalorados de Kevin.
— Droga! — xinguei alto ao receber um choque e ter meu corpo repelido com violência
ao tentar socar o campo de energia. Liberei uma risada irônica ao perceber que as chances de
fuga ficavam ainda mais complicadas. O Grande Conselho não brincava em serviço.
Meus berros sucumbiram, sussurros roucos massacrados pelo zunido que me envolvia.
Levei as mãos à cabeça e deixei meu corpo escorregar dentro dos limites seguros do maldito
casulo. A madrugada daquela noite sem fim avançava. Forçava-me a resistir aos tentáculos do
sono que, valendo-se da minha exaustão, acariciavam sorrateiramente minhas pálpebras sem
resistência. Eu tinha de ficar acordada, eu precisav...
Naquele silêncio sepulcral um clarão de luz vermelha explodia nas minhas retinas. Reabri
os olhos e meu coração foi à boca quando, dentro das brasas incandescentes, identifiquei
duas silhuetas dentro do casulo de energia de Richard. Não havia dúvida de que aquele vulto
de quase dois metros de altura e ligeiramente curvado era Guimlel. Ao seu lado, uma pessoa
baixa e gordinha gesticulava sem parar: a Sra. Brit!
Claro! Como não imaginei isso antes? A tal Labrítia era a Sra. Brit!
Desesperada, berrei seu nome o mais alto que meus pulmões permitiram. Em vão. O
zunido do campo de força era absurdamente alto e sobrepujava todos os sons ao redor. De
repente o clarão avermelhado ficou ainda mais intenso, ganhou tons de laranja, expandindo-se
dentro do casulo onde eles estavam. Por trás da silhueta gorducha da Sra. Brit e de Guimlel,
ambos com os braços levantados, o vulto de um corpo era suspenso no ar. Quase engasguei
de emoção. Eu o reconheceria em qualquer dimensão: era Richard!
Graças a Deus! Ela o estava curando!
Vi a energia mudar de cor, ganhar nuances de roxo, verde e azul-claro enquanto envolvia
seu corpo inanimado. Lágrimas de felicidade me escapavam. Um pranto de esperança e alívio.
Ele sobreviveria! E onde havia vida, existiam chances. Ainda havia esperança para nós.
Haveríamos de arranjar um meio de escapar de toda aquela loucura.
De repente, a luz começou a falhar e Richard desabou no chão à frente deles. Perdi o ar
ao ver o mago sacudir o corpo de Rick com desespero. A silhueta da Sra. Brit abaixou os
braços e assumiu uma postura abatida, a cabeça curvada sobre os ombros. Não era preciso
explicar aquela expressão corporal: derrota.
Como assim?! Richard estava tão mal a ponto deles terem desistido? Ele não... Droga!
Não podia ser! Os meus ferimentos naquele pântano negro foram horríveis e a Sra. Brit os
curou em apenas um único dia. Como ela não foi capaz de sarar as feridas dele? A silhueta
de Richard começou a desaparecer, a luz alaranjada perdeu intensidade até ficar do tamanho
da cabeça de um alfinete. E se apagou. A escuridão absoluta tornou a me envolver. Comecei a
asfixiar, tomada por nova onda de desespero.
— Não! Não! Não! Sra. Brit! — Ignorando os choques violentos, mordi os lábios e
comecei a socar o campo magnético que me aprisionava. A ideia de perder Richard para
sempre me sufocava e quando dei por mim eu não apenas berrava, mas jogava todo meu
corpo contra a espessa parede de energia. Meu lado direito ardeu por inteiro e não mais
respondia aos meus comandos. Braços e pernas eram eletrocutados, mas meus gritos de
sofrimento pouco tiveram a ver com as feridas que se abriam em minha pele. A dor vinha de
dentro, como se os cortes fossem internos, como se todas as minhas células estivessem
sendo rasgadas à força. Ainda assim meus ganidos estridentes não conseguiam sobrepujar a
espessa barreira. Lancei minhas unhas ensanguentadas contra o campo magnético na insana
tentativa de criar uma trinca, uma saída. Em vão. Não me permiti desistir e chorar. Eu
precisava lutar. Rick me pediu para ser forte e agora era a hora de provar.
Mas, Deus, o que fazer se a melhor curandeira de Zyrk falhara? O que a estava
impedindo de salvá-lo? Ela sempre curou todo mundo...
Um pensamento estalou em minha mente e meu pulso deu outro salto.
Nem sempre! Um enorme sorriso se abriu em minha face e tive de fazer força para
segurar a emoção que me invadia. A Sra. Brit não conseguiu curar Wangor, meu avô!
Não conseguiu porque a ferida dele não era física, mas sim uma chaga da alma.
Regozijei-me no lugar. Não eram os ferimentos externos, mas sim os do coração que
impediam Richard de reagir. E, para aquele tipo de injúria, ela nunca teria a cura.
Mas eu sim!
Eu acordei meu avô e ia fazer o mesmo pelo homem que eu amava! Pela morte que se
deixou abater e agora morria porque havia se apaixonado por mim. Uma sensação de
arrebatamento indescritível tomou conta de todo meu corpo. Eufórica, senti as palmas das
minhas mãos esquentarem. Sorri ao reconhecer aquele sinal, a reação do que a coragem
desencadeava em minhas células.
Eu haveria de conseguir! Por Rick. Por minha mãe. Por mim.
Concentrei todas as minhas forças, pensei em coisas boas, no insensato amor que ainda
me mantinha respirando, e lancei minhas mãos ensanguentadas contra o campo magnético.
Pouco tempo tive de suportar a dor das descargas de eletricidade, pois, no instante seguinte,
eu tocava o ar e meu corpo despencava para o lado de fora do casulo.
— Argh!
Reconheci o zunido de energia e a luz ofuscante de imediato. Ainda caída, levantei a
cabeça e, de assombro, deparei-me com a pessoa à minha frente.
Oh!

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