quinta-feira, 11 de outubro de 2018

29 - O ESPÍRITO QUE FALTAVA - IRMÃO X

29 - O ESPÍRITO QUE FALTAVA
Quando Dona Arlinda chegou ao grupo espiritista, desejosa de curar-se das perturbações
que a assediavam, foi atendida pelo orientador Dagoberto, dedicado protetor espiritual
dos necessitados.
– Quero sarar – dizia a iniciante – e servir à Doutrina. A mediunidade é um ministério
celestial. Se Deus me achar digna, aqui estarei para trabalhar com afinco e devotamento.
Reparando-lhe as boas disposições, o diretor da casa facilitou-lhe o acesso aos fluidos
renovadores.
– Preciso de espíritos que me curem! – reclamava a obsidiada, lamuriando-se – e, tão
logo me refaça, seguirei a verdade e servi-la-ei até ao fim de meus dias...
O benfeitor deu-se pressa em angariar a colaboração de clínicos competentes da
espiritualidade, que a ajudassem na recuperação do equilíbrio.
Em breve, Dona Arlinda estava robustecida, feliz. Perdera as fobias inquietantes. Estava
curada, enfim.
Prosseguia freqüentando as pequenas assembléias doutrinárias, mas mudara a
conversa...
– Se Amaro, meu marido, obtivesse um emprego, sentir-me-ia mais disposta ao trabalho
mediúnico. Mas assim...
E terminava, suspirando:
– Se os espíritos caridosos nos amparassem...
Dagoberto interveio, solicitando a cooperação de al um benfeitores que, indiretamente,
agindo sem alarde, através dos fios invisíveis da inspiração, lhe situaram o esposo em
serviço digno, convenientemente remunerado.
Dona Arlinda, agora, era menos pontual às sessões iluminativas; fazia-se, contudo,
portadora de novas alegações.
– Como contribuir na lavoura da mediunidade? Meus dois filhos, Fernando e Rodolfo,
cercam-me de preocupações infindáveis... Sabemos que as atividades dessa natureza
exigem paz... Com as angústias que trago na cabeça, a calma é impossível. Se os
espíritos me ajudassem a encaminhá-los...
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Voltou o protetor a socorrê-la, trazendo-lhe à casa o decisivo concurso de sábios
educadores desencarnados que modificaram as tendências dos rapazes, melhorando-
lhes os impulsos e conduzindo-os a louváveis institutos de ensino.
Solucionado o problema, Dona Arlinda encontrou nova necessidade:
– Graças a Deus – afirmava –, tenho sido muito feliz em minhas súplicas. Mas, como
iniciar a colaboração nos círculos da mediunidade? Enquanto não nos mudarmos de
residência, qualquer tentativa seria improfícua. Imaginem que sou diariamente hostilizada
pelos vizinhos. Necessito, antes de tudo, afastar-me do ambiente. Enquanto isto não se
der...
E rematava:
– Se os espíritos me auxiliassem a favor da mudança...
Dagoberto, prestativo, correu a cooperar. Não dispunha de corretores no “outro mundo”,
mas conhecia amigos que sabiam amparar sem prejuízo de ninguém.
Em poucas semanas, a senhora permutava o domicílio acanhado por residência arejada e
espaçosa.
Beneficiada de tantos modos diferentes, teve dificuldade de alinhar pretextos de ordem
material e falou, supostamente preocupada, aos companheiros do grupo:
Estou pronta para a tarefa mediúnica...
Entretanto, como encetá-la? Aguardo a influência dos irmãos invisíveis, em nossa mesa
de orações, tempo enorme!... Qual nada! Não registro a menor vibração diferente, em
torno de mim! estou mesmo sem rumo...
E concluía, reticenciosa:
– Se os espíritos me desenvolvessem...
O benfeitor de sempre movimentou as possibilidades imediatas e trouxe companheiros
esclarecidos que passaram a colaborar no esforço de iniciação da candidata.
Dona Arlinda foi crivada de apelos e advertências. Os amigos do Além falaram-lhe da
caridade, da educação, do serviço ao próximo. Conduziram doentes ao seu coração,
proporcionando-lhe valiosas oportunidades de praticar a ciência de elevação.
Necessitados sem número, tangidos por forcas imponderáveis, sitiaram-lhe a porta.
Era convidada às manifestações do bem, através de todos os clarins da vida espiritual.
A futura missionária, porém, negou-se redondamente. Queria o ministério mediúnico, mas
não suportava a visão de doenças, experimentava receios indefiníveis ante as pessoas
perturbadas, não dissimulava o desequilíbrio nervoso que a acabrunhava, em qualquer
ação de socorro às entidades sofredoras. Temia complicações, não desejava ser julgada
pela opinião pública.
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Reproduzia queixas e fugas, duas vezes por semana, ante os colegas espantados,
quando Dagoberto, o prestimoso amigo espiritual, certa noite se comunicou no grupo,
satisfeito e bem humorado, como de costume. Finda a preleção, na qual distribuiu
precioso encorajamento, Dona Arlinda interpelou-o, suplicando :
– Meu protetor, ajude-me! Preciso progredir!
Poderei contar com a sua ajuda para meu desenvolvimento?
O interpelado respondeu, enigmático:
– Sim?... A mediunidade, antes de ser um fenômeno, é trabalho dos semelhantes!...
Dona Arlinda pretendia promessas mais claras e aduziu :
– Os protetores me auxiliarão?
Dagoberto sorriu e ajustou:
– Eu, agora, minha irmã, só conheço um espírito que pode socorrê-la. Um, apenas. Sem
ele, sua felicidade nunca virá,.
– Oh! qual? – interrogou a senhora, dominada pela volúpia de implorar proteção diferente
– farei preces, inclui-lo-ei em minhas súplicas diárias!...
Com surpresa geral, Dagoberto informou :
– É o espírito da boa vontade. Para encontrá-lo, não precisa, dirigir-se ao “outro mundo”.
Ele está no seu mundo mesmo.
Pesado silêncio caiu sobre todos e a sessão foi encerrada, sem outras consultas.

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