sábado, 30 de dezembro de 2017

o homem mais rico do mundo (aqui vai ser postado cada capitulo do livro)


Dois

Então sucedeu que uma caravana fortemente escoltada logo partiu
de Damasco transportando certificados de propriedade e ouro para
aqueles que dirigiam cada um dos empórios de Hafid. De Obed, em
Joppa, a Reuel, em Petra, cada um dos dez administradores recebeu a
notícia da retirada e do presente de Hafid em pasmado silêncio. Finalmente, após fazer sua última parada no empório em Antipatris, estava
finda a missão da caravana.
O mais poderoso império comercial de seu tempo não mais
existia.
Com o coração pesado de tristeza, Erasmo mandou avisar ao
amo que o depósito estava vazio e que os empórios não mais ostentavam
a orgulhosa bandeira de Hafid. O mensageiro regressou com um pedido
de que Erasmo se encontrasse imediatamente com o amo, próximo à
fonte, no peristilo.
Hafid estudou o rosto de seu amigo e perguntou:
– Fez tudo?
– Tudo, meu senhor.
– Não se aflija, meu bom amigo, e siga-me.
Apenas o som de suas sandálias ecoava no gigantesco aposento
quando Hafid levou Erasmo para a escadaria de mármore que ficava
ao fundo. Sais passos diminuíram momentaneamente ao se
aproximarem de um solitário vaso de fluorita numa prateleira de madeira
de árvore cítrica e ele observou que a luz do sol tinha mudado a cor do
vidro, de branco para púrpura. Sua face, envelhecida pelos anos, estampou um sorriso.
Então os dois velhos amigos começaram a subir os degraus que
levavam ao quarto sob a cúpula do palácio. Erasmo notou que a guarda
armada não mais existia. Finalmente ganharam o patamar e pararam,
visto que ambos estavam quase sem fôlego pelo esforço da subida.
Depois seguiram para o segundo patamar e Hafid retirou a pequena
chave do cinto, destrancou a pesada porta de carvalho e forçou-a com
o corpo, com o que ela se abriu, rangendo. Erasmo hesitou até que seu
amo acenasse para entrar e, então, avançou timidamente para o quarto
onde ninguém tivera permissão para entrar, por cerca de trinta anos.
No ambiente cinzento e empoeirado, a luz irradiava de pequenas
torres acima de Erasmo, que se agarrou ao braço de Hafid até que seus
olhos se acostumaram à semi-escuridão. Com um leve sorriso, Hafid
observou Erasmo, que, locomovendo-se lentamente, saiu num quarto
vazio, exceto por um pequeno baú de cedro iluminado por um feixe de
luz solar num canto.
– Não esta desapontado, Bramo?
– Não sei o que dizer, senhor.
– Não esta desapontado com os móveis? Certamente, o conteúdo
deste quarto tem sido assunto de conversa de muitos. Você nunca
especulou sobre o mistério que envolve tudo que aqui se encontra e
que eu guardo tão zelosamente por tanto tempo?
Erasmo assentiu com a cabeça.
– É verdade. Tem havido muita conversa e muitos rumores, pelos
anos, quanto ao que nosso amo guarda escondido aqui na torre.
– Sim, meu amigo, e muitos deles eu ouvi. Tem-se dito que aqui
se guardam barris de diamantes, lingotes de ouro, ou animais selvagens,
ou pássaros raros. Certa vez um persa, mercador de tapetes, deu a
entender que talvez eu mantivesse aqui um pequeno harém. Lisha riu,
ao imaginar-me com uma coleção de concubinas. Mas, como você pode
ver, nada há aqui, exceto um pequeno baú. Agora, venha para cá.
Os dois agacharam-se ao lado do baú e Hafid cuidadosamente
começou a soltar as correias de couro que o envolviam. Ele inalou a
fragrância do cedro e, finalmente, empurrou a tampa, que se abriu sem
dificuldade. Erasmo curvou-se à frente e espiou sobre o ombro de Hafid
o conteúdo da arca. Olhou para Hafid e balançou a cabeça espantado.
Nada havia na arca senão pergaminhos... pergaminhos de couro.
Hafid estendeu a mão e gentilmente retirou um dos rolos. Por
momentos, apertou-o ao peito e cerrou os olhos. Uma calma tranqüila
pairou-lhe sobre o rosto, apagando as marcas da idade. Então, pôs-se
de pé e apontou para o baú.
– Fosse este quarto enchido até as vigas de diamantes, seu valor
não superaria o que seus olhos vêem nesta simples caixa de madeira.
Todo o êxito, felicidade, amor, paz de espirito e riqueza de que desfruto
provêm diretamente do que está contido nestes poucos pergaminhos.
Meu débito para com eles e para com o sábio que os confiou ao meu
cuidado não pode jamais ser retribuído.
Assustado pelo tom de voz de Hafid, Erasmo recuou e perguntou:
– É este o segredo a que o senhor se referiu? Este baú se acha de
alguma maneira ligado à promessa que o senhor tem de cumprir ainda?
– A resposta é “sim” a ambas as suas perguntas.
Erasmo passou a mão pela testa molhada de suor e fitou Hafid
com descrença.
– Que está escrito nestes pergaminhos, que lhes confere valor
maior que o de diamantes?
– À exceção de um, todos estes pergaminhos contêm um
princípio, uma lei, ou uma verdade fundamental, escritos num único
estilo, para ajudar o leitor a entender seu significado. Para se tornar um
mestre na arte de vender, deve-se aprender e praticar o segredo de cada
um destes pergaminhos. Quando se dominam estes princípios, tem-se
o poder de acumular toda a riqueza que se deseja.
Erasmo fitou o pergaminho com assormbro.
– Rico até mesmo como o senhor?
– Até mais rico, se quiser.
– O senhor afirmou que, à exceção de um, todos estes pergaminhos contêm princípios de venda. O que contém o último
pergaminho?
– O último pergaminho, como você o chama, é o primeiro que
deve ser lido, já que cada um é numerado para ser lido em seqüência
especial. E o primeiro contém um segredo que tem sido dado a poucos
sábios através da história. Em verdade, ele ensina a maneira mais efetiva
de aprender o que está escrito nos demais.
– Parece ser uma tarefa difícil de realizar.
– É, na verdade, uma tarefa simples, desde que se queira pagar o
preço, em tempo e concentração, até que cada princípio se torne uma
parte da personalidade de cada um; se torne como um hábito.
Erasmo meteu a mão no baú e retirou um pergaminho.
Segurando-o gentilmente entre os dedos, passou-o afoito para Hafid.
– Perdoe-me, meu amo, mas por que razão não partilhou estes
princípios com outros, especialmente aqueles que labutam há muito
tempo com o senhor? Se o senhor sempre mostrou tanta generosidade
em todas as outras questões, como é que todos que venderam pelo
senhor não ganharam a oportunidade de ler estas palavras de sabedoria
e, dessa maneira, enriquecer também? Afinal de contas, todos seriam
melhores vendedores com tão valiosa sabedoria. Por que o senhor
manteve para si estes princípios por todos estes anos?
– Eu não tinha escolha. Há muitos anos atrás, quando estes
pergaminhos foram a mim confiados, prometi sob juramento que
partilharia seu conteúdo com apenas uma pessoa. Até hoje não entendo
o raciocínio desse estranho pedido, mas ordenaram-me aplicar os
princípios dos pergaminhos à minha própria vida, até que um dia alguém
aparecesse e necessitasse, mais do que eu quando jovem, da ajuda e
orientação neles contidas. Disseram-me que mediante algum sinal eu
reconheceria a pessoa a quem deveria passar os pergaminhos, mesmo
que tal pessoa não soubesse estar a procurá-los.
“Esperei com paciência e enquanto esperava apliquei estes
princípios como me foi permitido fazer. Com sua sabedoria tornei-me
o que muitos chamam ‘o maior vendedor do mundo’, assim como
aquele que me legou esses pergaminhos foi proclamado ‘o maior
vendedor de seu tempo’. Agora, Erasmo, talvez você entenda, afinal,
por que algumas de minhas ações através dos anos lhe pareceram
estranhas e impraticáveis e, contudo, resultaram em êxito. Sempre foram
meus feitos e decisões guiados por estes pergaminhos; portanto, não
foi através de minha sabedoria que adquirimos tantos talentos de ouro.
Fui apenas o instrumento de realização.
– O senhor ainda crê que aquele que deve receber tais pergaminhos do senhor, meu amo, aparecera- após tanto tempo?
– Sim.
Hafid recolocou gentilmente os pergaminhos e fechou o baú. De
joelhos, falou, brandamente:
– Você ficará comigo até esse dia, Erasmo?
O guarda-livros adiantou-se, banhado por uma luz branda, e eles
se apertaram as mãos. Ele assentiu com a cabeça e depois se retirou do
quarto, como se sob uma ordem inefável de seu amo. Hafid repôs as
correias de couro no baú, ergueu-se e dirigiu-se para uma pequena torre.
Passando por ela, seguiu para um palanque que cercava a grande cúpula.
Um vento do Levante soprava-lhe a face, trazendo consigo o
aroma de lagos e do deserto na distância. Ele sorriu como se estivesse
postado sobre os telhados de Damasco e seus pensamentos
retrocederam tempo adentro...

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