95-O AMIGO OCULTO
“Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não
conhecessem.” — (LUCAS, capítulo 24, versículo 16.)
Os discípulos, a caminho de Emaús, comentavam, amargurados, os
acontecimentos terríveis do Calvário.
Permaneciam sob a tormenta da angústia. A dúvida penetrava-lhes a alma,
levando-os ao abatimento, à negação.
Um homem desconhecido, porém, alcançou-os na estrada. Oferecia o
aspecto de mísero peregrino. Sem identificar-se, esclareceu as verdades da
Escritura, exaltou a cruz e o sofrimento.
Ambos os companheiros, que se haviam emaranhado no cipoal de
contradições ingratas, experimentaram agradável bem-estar, ouvindo a
argumentação confortadora.
Somente ao termo da viagem, em se sentindo fortalecidos no tépido
ambiente da hospedaria, perceberam que o desconhecido era o Mestre.
Ainda existem aprendizes na “estrada simbólica de Emaús”, todos os dias.
Atingem o Evangelho e espantam-se em face dos sacrifícios necessários
àeterna iluminação espiritual. Não entendem o ambiente divino da cruz e
procuram “paisagens mentais” distantes... Entretanto, chega sempre um
desconhecido que caminha ao lado dos que vacilam e fogem. Tem a forma de
um viandante incompreendido, de um companheiro inesperado, de um velho
generoso, de uma criança tímida. Sua voz é diferente das outras, seus
esclarecimentos mais firmes, seus apelos mais doces.
Quem partilha, por um momento, do banquete da cruz, jamais poderá
olvidá-la. Muitas vezes, partirá mundo a fora, demorando-se nos trilhos
escuros; no entanto, minuto virá em que Jesus, de maneira imprevista, busca
esses viajores transviados e não os desampara enquanto não os contempla,
seguros e livres, na hospedaria da confiança.
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