quinta-feira, 1 de novembro de 2018

46 – A REVOLUÇÃO CRISTÃ - IRMÃO X

46 – A REVOLUÇÃO CRISTÃ
Ouvindo variadas referências ao novo Reino, Tomé impressionara-se, acreditando o povo
judeu nas vésperas de formidável renovação política. Indubitavelmente, Jesus seria o
orientador supremo do movimento a esboçar-se pacífico para terminar, com certeza, em
choques sanguinolentos. Não se reportava o Mestre, constantemente, à vontade do Todo-
Poderoso? Era inegável o advento da era nova. Legiões de anjos desceriam
provavelmente dos céus e pelejariam pela independência do povo escolhido.
Justificando-lhe a expectativa, toda gente se agrupava, em redor do Messias, registrando-
lhe as promessas.
Estariam no limiar da Terra diferente, sem dominadores e sem escravos.
Submetendo, certa noite, ao Cristo as impressões de que se via possuído, d’Ele ouviu a
confirmação esperada:
– Sem dúvida – explicou o Nazareno –, o Evangelho é portador de gigantesca
transformação do mundo. Destina-se à redenção das massas anônimas e sofredoras.
Reformará o caminho dos povos.
– Um movimento revolucionário! – acentuou Tomé, procurando imprimir mais largo
sentido político a definição.
– Sim – acrescentou o Profeta Divino –, não deixa de ser...
Entusiasmado, o discípulo recordou a belicosidade da raça, desde os padecimentos no
deserto, a capacidade de resistência que assinalava a marcha dos israelitas, a começar
de Moisés, e indagou sem rebuços:
– Senhor, confiar-me-ás, porventura, o plano central do empreendimento?
Dirigiu-lhe Jesus significativo olhar e observou:
– Amanhã, muito cedo, iremos ambos ao monte, marginando as águas. Teremos talvez
mais tempo para explicações necessárias.
Intrigado, o apostolo aguardou o dia seguinte e, buscando ansioso a companhia do
Senhor, muito antes do sol nascente, em casa de Simão Pedro, com surpresa encontrou-
o à espera dele, a fim de jornadearem sem detenha.
Não deram muitos passos e encontraram pobre pescador embriagado a estirar-se na via
pública. O Messias parou e acercou-se do mísero, socorrendo-o.
– Que é isto? – clamou Tomé, enfadado – este velho diabo e Jonas, borracho renitente.
Para que ajudá-lo? Amanhã, estará deitado aqui ás mesmas horas e nas mesmas
condições.
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O Companheiro Celeste, todavia, não lhe aceitou o conselho e redargüiu:
– Não te sinto acertado nas alegações. Ignoras o princípio dd experiência de Jonas. Não
sabes por que fraqueza se rendeu ele ao vicio. È enfermo do espírito, em estado grave:
seus sofrimentos se agravam à medida que mergulha no lamaçal. Realmente vive
reincidindo na falta. Entretanto, não consideras razoável que o serviço de escorro exige
também o ato de começar?
O aprendiz não respondeu, limitando-se a cooperar na condução do bêbado para lugar
seguro, onde caridoso amigo se dispôs a fornecer-lhe lume e pão.
Retomavam a caminhada, quando pobre mulher, a toda pressa, veio implorar ao Messias
lhe visitasse a filhinha em febre alta.
Acompanhado pelo discípulo, o Salvador orou, ao lado da pequenina confiante,
abençoou-a e restituiu-lhe a tranqüilidade ao corpo.
Iam saindo de Cafarnaum, mas foram abordados por três senhoras de aspecto humilde
que desejavam instruções da Boa-Nova para os filhinhos. O Cristo não se fez rogado.
Prestou esclarecimentos simples e concisos.
Ainda não havia concluído aquele curso rápido de Evangelho e Jafé, o cortador de
madeira, veio resfolegante suplicar-lhe a presença no lar, porque um filho estava morto e
a mulher enlouquecera.
O Emissário de Deus seguiu-o sem pestanejar, à frente de Tomé silencioso. Reconfortou
a mãezinha desvairada, devolvendo-a ao equilíbrio e ensinou à casa perturbada que a
morte, no fundo, era a vitória da vida.
O serviço da manhã absorvera-lhes o tempo e, assim que se puseram a caminho, em
definitivo, eis que uma anciã semi-paralítica pede o amparo do Amigo Celestial. Trazia a
perna horrivelmente ulcerada e dispunha apenas de uma das mãos.
O messias acolhe-a, bondoso. Solicita o concurso do apóstolo e condu-la a sítio vizinho,
onde lhe lava as feridas e deixa-a convenientemente asilada.
Prosseguindo viagem para o monte, mestre e discípulo foram constrangidos a atender
mais de cinqüenta casos difíceis, lenindo o sofrimento, semeando o bom ânimo,
suprimindo a ignorância e espalhando lições de esperança e iluminação. Sempre
rodeados de cegos e loucos, leprosos e aleijados, doentes e aflitos, mal tiveram tempo de
fazer ligeiro repasto de pão e legumes.
Quando atingiram o objetivo, anoitecera de todo. Estrelas brilhavam distantes. Achavam-
se exaustos.
Tomé, que mostrava os pés sangrentos, enxugou o suor copioso e rendeu graças a Deus
pela possibilidade de algum descanso. A fadiga, porém, não lhe subtraíra, a curiosidade.
Erguendo para o Cristo olhar indagador, inquiriu :
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