segunda-feira, 5 de novembro de 2018

49 - HOMENS PRODÍGIOS - IRMÃO X

49 - HOMENS PRODÍGIOS
Conta-se que André, o discípulo prestimoso, tão logo observou o Senhor à procura de
coopera-dores para o ministério da salvação, compareceu, certo dia, à residência de
Pedro, com três companheiros que se candidatavam à divina companhia.
Recebeu-os Jesus, com serenidade e brandura, enquanto o apóstolo apresentava os
novatos com entusiasmo ingênuo.
– Este, Mestre – disse, tocando o braço do mais velho –, é Jacob, filho de Eliakim, o
condutor de cabras, que tem maravilhosas visões do oculto. Já viu os próprios demônios
flagelando homens imundos e, quando visitou Jerusalém, na última peregrinação ao
Templo, viu flamas de fogo celeste sobre os Pães da Proposição. Enxergou também os
espíritos de gloriosos antepassados entre os sacerdotes, surpreendendo sublimes
revelações do invisível.
Ante a expectação do Divino Amigo, o aprendiz acentuou:
– Parece-me excelente companheiro para os nossos trabalhos.
Jesus, contudo, pousando no candidato os olhos firmes, fez interrogativo gesto para
Jacob, que, docemente constrangido pela silenciosa atitude dele, informou:
– Sim... é verdade... Sou vidente do que está em secreto e pretendo receber lições da
nova escola. No entanto, receio a opinião pública,. Trabalho em casa de Prisco Bitínio, o
chefe romano, e recebo salário compensador. Se souberem por lá que freqüento estas
fileiras, provavelmente me expulsarão... Perderei meus proventos e minha família talvez
sofra fome...
Fêz-se grande quietude em torno. Jesus manteve-se quase impassível. Seus lábios
mostravam ligeiro sorriso que não chegava a evidenciar-se, de todo.
André, todavia, interessado em colocar os amigos no quadro apostólico, indicou o
segundo, judeu de meia-idade, que revelava no olhar arguciosa inteligência :
– Este, Senhor, é Menahem, filho de Adod, o ourives. Possui ouvidos diferentes dos
nossos e costuma ser contemplado por sonhos milagrosos.
Escuta vozes do céu, anunciando o futuro com exatidão, e no sono recebe avisos
espantosos. Já descobriu, por esse meio, as jóias de Pompônia Fabrina, quando romanos
ilustres visitaram Cesaréia. Incontáveis são os casos em que funcionou na qualidade de
adivinho vitorioso. Passando por Jerusalém, foi procuração por sacerdotes ilustres que,
com êxito, lhe puseram à, prova as estranhas faculdades. Leu papiros que se achavam a
distância e transmitiu recados autênticos de grandes mortos da raça.
Após ligeiro intervalo acentuou:
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– Não seria ele valioso colaborador para nós?
O Cristo fixou. o olhar lúcido no apresentado e Menahem de explicou:
– Sim, realmente ouço vozes do céu e resolvo em sonho diversos problemas, acerca, dos
quais sou consultado. Desejaria participar da nova fé, mas,estou preso a muitos
compromissos. Não poderia vir assIduamente... Meu sogro Efraim, o mercador de
perfumes, é riquíssimo e está prestes a descansar com os nossos que já desceram ao
repouso. Sou o herdeiro de sua grande fortuna e sei que se escandalizará com a minha
adesão à crença renovadora... assim considerando, preciso ser cauteloso... Não posso
perder o enorme legado...
Identificando a estranheza que provocava, apressou-se a reforçar:
– Ainda que eu me pudesse desprender de bens tão preciosos, precisaria atender à
mulher e aos filhos...
Novo silêncio pesou na paisagem doméstica.
À frente do Messias, que não se manifestava em sentido direto, o pescador diligente
apresentou o terceiro amigo:
– Aqui, Mestre, temos Moab, filho de Josué, o cultivador. É um prodígio nas Escrituras.
Todos os escribas o olham invejosos e despeitados, porquanto é conhecido pelo dom de
escrever com incrível desenvoltura, a respeito de todos os assuntos que interessam o
povo escolhido. Homens importantes de Israel formulam para ele vários enigmas,
referentes à Lei e aos Profetas, e ele os resolve com triunfo absoluto... Por vezes, chega
a escrever em línguas estrangeiras e há quem diga que, sobre ele, paira o espírito do
próprio Jeová...
Calou-se o apóstolo e, no ambiente pesado que se abateu na sala, o escriba milagroso
esclareceu:
– Efetivamente, escrevo em misteriosas circunstâncias. Uma luz semelhante a fogo desce
do firmamento sobre as minhas mãos e encho rolos enormes com instruções e descrições
que nem eu mesmo sei entender... Proponho-me a seguir os princípios do Reino Celeste,
aqui na Galileia. Não posso, entretanto, comprometer-me muito. Na cidade santa, estou
ligado a um grande revolucionário que me prometeu alto encargo político, logo depois de
assassinarmos o Procurador e eliminar alguns patrícios influentes. Quero aproveitar as
minhas faculdades na restauração de nossos direitos... Conquistarei posição, ouro, fama,
evidência... Por isso, não posso aceitar deveres muito extensos...
A quietude voltou mais envolvente.
André, todavia, ansioso por situar os novos elementos no colégio galileu, perguntou ao
Cristo:
– Mestre não estás procurando associados para o serviço redentor? Admitirás os nossos
amigos.

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