domingo, 4 de novembro de 2018

48 - A ATITUDE DO GUIA - IRMÃO X

48 - A ATITUDE DO GUIA
Sob nosso olhar atento, o Guia do grupo começou a desempenhar suas funções de
orientador, explicando:
– Enriqueçamos nossa vida, de bênção. A morte, meus irmãos, é simples modificarão de
roteiros exteriores; preparai-vos, no entanto, a fim de atravessar-lhe os umbrais, com a
precisa luz. A encarnação terrestre representa curso de esclarecimento e ascensão.
Alegria e dor, contentamento e insatisfação, fartura e escassez constituem oportunidades
de engrandecimento para a alma. Nosso problema fundamental, portanto, não é tão
somente crer ou descrer. É imperioso aplicar os princípios da fé às situações difíceis da
experiência humana, como quem espanca as sombras. De que nos serviria a confiança
na Providência Divina sem aproveitarmos os dons da Previdência Celeste que nos situou
o espírito em aprendizado laborioso, tendo em vista nossa própria felicidade? Tudo, pois,
que fizerdes nos setores do bem, enquanto na transitória passagem pela Terra, é
essencial para a eternidade.
Se o Supremo Pai apenas aguardasse de nós outros o incenso da adoração, que
expressaria a grandiosa oficina do mundo? Brilhariam o Sol e a Lua, resplandeceriam as
estrelas, correriam as fontes, frutificariam as árvores, trabalharia o vento simplesmente
para satisfazer um punhado de crentes ociosos? Contentar-se-ia Deus, o Criador
Infatigável, em erguer para os filhos da Terra apenas um templo suntuoso onde
repousassem indefinidamente, sem qualquer finalidade progressiva? É indispensável,
desse modo, renovarmos o entendimento, elevando-nos em espírito para a Imortalidade
Vitoriosa. Junto de vós outros, alinham-se ferramentas preciosas na edificação sublime.
Chamam-se “obstáculos”, “provas” e “lutas”. Utilizando-as para o bem, sereis, em breve,
senhores de oportunidades mais altas, nos círculos de iluminação. Fadados ao glorioso
destino de cooperadores do Eterno, urge compreenderdes a importância de viver na
Crosta da Terra, como é importante para o aprendiz a justa apreciação da escola que o
prepara e edifica. O sofrimento, por isso mesmo, aí no mundo é apelo à ascensão. Sem
ele, seria difícil acordar a consciência para a realidade superior. Aguilhão benéfico, o
sofrimento evita-nos a precipitação nos despenhadeiros do mal, auxilia-nos a prosseguir,
entre as margens do caminho, mantendo-nos a correrão necessária ao êxito do plano
redentor. Busquemos, assim, aproveitar-lhe as bênçãos renovadoras, praticando a
fraternidade em todos os ângulos da bendita peregrinação para a frente. Não nos
interessa o passado escuro. Recebamos a claridade compassiva do presente, construindo
qualidades santificantes no santuário interior, convertendo-nos em tabernáculos vivos da
Vontade Augusta e Misericordiosa do Eterno. Para isso, meus amigos, auxiliemo-nos uns
aos outros, procuremos a verdade e o bem, atendendo as exigências do amor cristão.
Sem essa atitude pessoal de transformação para o entendimento e aplicação do Cristo, é
impossível aguardar mundos melhores, paisagens felizes ou venturas sem fim...
Nesse momento, o orientador interromper-se.
Finalizara a preleção? não sabíamos ao certo.
 123
Parecia disposto a retomar o fio das formosas definições, quando se adiantou um
cavalheiro da pequena assembléia de companheiros encarnados.
Julguei-o inclinado a exprimir amor, júbilo, gratidão. Teria estendido a palavra do Guia que
afinal de contas, em boa sinonímia, era, ali, o condutor, o que dirige, o que mostra a
frente. Longe disso. O irmão mencionado assumiu atitude de consulente inquieto e
interrogou, demonstrando absoluta despreocupação de quanto ouvira :
– Meu mestre, que me diz dos bens que me surrupiaram? O furto de que fui vítima
representa muitíssimo para mim. Não devo esquecer o futuro... Os advogados de meus
parentes parecem ganhar a causa... Devo esperar algum socorro? Espantalho, reparei
que o benfeitor espiritual não reagiu. Assumiu paternal expressão no semblante calmo e,
no mesmo diapasão de voz, comentou:
– No assunto, meu amigo, creio mais oportuna sua invocação à polícia. Procure a seção
de perdas e danos...
Logo após, rogou a bênção de Jesus para todos e, retirando-se da organização
mediúnica, tornou ao nosso meio.
Sob forte assombro, referi-me à incompreensão do grupo que visitávamos.
O generoso orientador, porém, distante de qualquer desapontamento, observou:
– Não vos aflijamos. Conheço este irmão, desde muito. Há dois mil e oitocentos anos,
aproximadamente, era ele membro de uma associação de ensinos secretos, nas
vizinhanças do Templo de Zeus, em Olímpia, enquanto eu, por minha vez, exercia as
funções de humilde instrutor espiritual. Na primeira vez em que me materializei, no círculo
de estudos em que ele se encontrava, explanando a simbologia dos mistérios órficos, de
maneira a adaptá-los à Luz Divina, levantou-se na assembléia e pediu-me socorro para
encontrar algumas jóias perdidas.
– Oh! Oh! – aduzi, sarcástico – há quase três milênios? e este homem ainda é o mesmo
caçador de arranjos materiais?
O Guia tocou-me os ombros, paternalmente, e acrescentou, compassivo:
– Nada de mais, meu caro. Continuemos trabalhando, em benefício de todos. Vinte e oito
séculos são a canta de meu nobre concurso. Trata-se de equação que nós mesmos
podemos fazer... Há quantos milênios, porém, Jesus nos auxilia e tudo faz em nosso
favor, malgrado a nossa impermeabilidade e resistência?!...
Afagou-me a cabeça e concluiu, interrogando:
– Não acha?
Fiz por minha vez um sorriso amarelo e calei-me.

Nenhum comentário:

Postar um comentário