terça-feira, 25 de setembro de 2018

13 - COMO TRATAR MÉDIUNS - Irmão X

13 - COMO TRATAR MÉDIUNS
Você pergunta a mim, Espírito desencarnado, qual a maneira adequada de tratar os
médiuns. Alega que muitos passaram por seu clima individual, sem que pudesse
compreendê-los. Começam a tarefa, entusiásticos, e, lestos, abandonam a sementeira.
Alguns sustentam o serviço por algum tempo; outros, contudo, não vão além de alguns
meses. Muitos se afastam, discretos, recuando deliberadamente, ao passo que outros
tantos resvalam, monte abaixo, atraídos por fantasias tentadoras.
Afirmando seu amor à doutrina que nos irmana agora, você indaga com franqueza: como
tratar essa gente, para que o Espiritismo não sofra hiatos nas demonstrações da
sobrevivência?
Não tenho pretensões a ensaísta de boas maneiras. Malcriado quanto tenho sido, falece-
me recurso para escrever códigos de civilidade, mesmo no "outro mundo".
Creio, todavia, que o médium deve receber tratamento análogo ao que proporcionamos a
qualquer ser humano normal.
Trata-se de personalidade encarnada, com obrigações de render culto diário à refeição,
ao banho e ao sono comum. Deve atender à vida em família, trabalhar e repousar,
respeitar e ser respeitado. Não guardará o talento mediúnico, à maneira de enxada de
luxo que a ferrugem carcome sempre, mas evitará a movimentação intempestiva de suas
faculdades, tanto quanto o ferreiro preserva a bigorna. Cooperará, com satisfação, no
esclarecimento dos problemas da vida, junto aos estudiosos sinceros; todavia, não
entregará seus recursos psíquicos à curiosidade malsã dos investigadores sem
consciência, detentores de leviandade incurável, a pretexto de colaborar com os cientistas
do clube dançante, que vazam comentários acadêmicos, entre um sorriso de mulher bela
e uma dose de aguardente rotulada de uísque.
Esta é uma definição sintética que me cumpre fornecer, de passagem; entretanto, já que
você se refere ao amor que assegura consagrar ao Espiritismo edificante, conviria sondar
a própria consciência.
Realmente, são inúmeros os companheiros que se precipitam da tarefa mediúnica ao
resvaladouro do desencanto e do sofrimento, como andorinhas de vôo alto, atiradas,
semimortas, do firmamento ao bojo escuro do abismo. Vemos, no entanto, que se os
pássaros, algumas vezes, descem ao círculo tenebroso, sob o fascínio de perigosa ilusão,
na maioria dos casos caem mutilados sob golpes de caçadores inconscientes.
Doloroso é dizer; contudo, quase todos os médiuns são anulados pelos próprios amigos,
sem maior consideração...
O plano superior traça o programa de trabalho, benéfico e renovador. O funcionário da
instrumentalidade concorda com os seus itens e dispõe-se a executá-lo, mas,
escancarada a porta do serviço, a chusma de ociosos adensa-se-lhe em torno.
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Esqueçamos a fileira compacta dos investigadores e curiosos que transformam em cobaia
o primeiro doente psíquico que lhe cai sob as unhas. As reclamações insaciáveis dos
próprios irmãos de ideal são mais venenosas. Identificando-as, somos forçados a
reconhecer que os espiritistas modernos têm muito de aprender acerca do equilíbrio
próprio, antes que o primeiro médium com tarefa definida possa cumprir integralmente
sua missão.
O intermediário entre os dois planos move-se com extrema dificuldade para entregar às
criaturas terrestres a mensagem de que é portador. Se os adversários gratuitos recebem-
no a pedradas de ironia, os afeiçoados principiam por erigir-lhe pedestal envolto em
grossas nuvens de incenso pernicioso. O servidor inicia o ministério, quase sempre às
tontas, embriagado pelo aroma ardiloso do elogio desregrado. Dentro em pouco tempo,
não sabe como situar-se. Os adeptos e simpatizantes da causa se incumbem de
convertê-lo em permanente motivo de espetáculo. Quando o exibicionismo não se prende
à tentação de convencer os vizinhos, fundamenta-se em supostas razões de caridade.
Intensifica-se a luta entre a esfera superior, que deseja beneficiar o caminho coletivo com
a projeção da nova luz sobre a noite dos homens, e a arena terrestre, onde os homens
cuidam de manter, com desespero, os seus interesses imediatos na carne. O responsável
direto, pela ação mediúnica raramente segue marcha regular. Se permanece no serviço
do ganha-pão digno, os companheiros se encarregam de perturbá-lo, chamando-o
insistentemente para fora do reduto respeitável em que procura ganhar a vida com a
nobreza e honestidade.
Se mostra alguma instabilidade na realização, improvisam-se tribunais acusadores, ao
redor dele; mas se revela perseverança no bem, surge, com mais ímpeto, o assédio de
elementos arrasadores, ansiosos por derrubá-lo. Se permanece no posto, é obrigado a
respirar solidão quase absoluta, de vez que as exigências do serviço se multiplicam, por
parte dos companheiros de fé, enquanto seus domésticos e afins, em regra geral, dele se
afastam, cautelosamente, por não haverem nascido com a vocação da renúncia. Passa a
viver, compulsoriamente, as existências alheias, inibido de caminhar na própria rota. É
compelido a ingerir, com o almoço, fluidos de desesperação e inquietude de pessoas
revoltadas e intemperantes que o buscam, ostentando o título de sofredores. Debalde
namora o banheiro com saudade de água salutar na pele suarenta, porque os legítimos e
falsos necessitados da própria confraria lhe absorvem as horas, reclamando atenção
individual. Trabalha no setor cotidiano de ação, sob preocupações e expectativas
infindáveis da guerra nervosa. É quando consegue a estação de pouso noturno, alcança o
leito de corpo esfalfado e a resistência em frangalhos.
Se o vanguardeiro não retrocede, fustigado pelos demônios da imprudência e da
insensatez e se não se faz presa de entidades maliciosas que o conduzem ao palco da
"triste figura", cabe-lhe o destino da válvula gasta prematuramente.
Liga-se o aparelho radiofônico, entretanto, a mensagem chega rouquenha ou não pode
enunciar-se. A máquina delicada estala e chia inultimente. A eletricidade e a revelação
sonora continuam existindo, mas o aparelho complicou-se, não pela lei do uso e, sim,
pelos golpes do abuso.
Compreende, acaso, o que estou comentando?
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A força espiritual e a contribuição renovadora dos missionários da sabedoria vibrarão
junto de vocês, todavia, como se exprimirem convenientemente se os interessados
perseguem os aparelhos registradores e os inutilizam, através da exaustão e do
vampirismo, portadores da enfermidade e da morte?
Como somos forçados a reconhecer, meu caro, é tão difícil encontrar médiuns aptos a
lidarem com os espiritistas do primeiro século de codificação kardeciana, como é raro
encontrar espiritistas que saibam lidar com eles...

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