quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O maior vendedor do mundo parte 6

SeisQuase duas semanas depois que a caravana regressara à base em
Palmira, Hafid foi despertado em sua cama de palha, no estábulo, e
chamado à presença de Pathros.
Dirigiu se com rapidez ao dormitório do amo e parou, incerto,
ante a enorme cama que reduzia o tamanho de seu ocupante. Pathros
abriu os olhos e desvencilhou-se das cobertas até sentar-se ereto. Seu
rosto estava descarnado e as veias inchavam-lhe as mãos. Era difícil
acreditar que se tratasse do mesmo homem com quem falara apenas
doze dias antes.
Pathros moveu-se para a parte mais baixa da cama e o jovem
sentou-se cuidadosamente na beirada, esperando que o ancião falasse.
Até mesmo a voz de Pathros era diferente, em som e timbre, daquela
na última reunião.
– Meu filho, você ainda tem muitos dias para reexaminar suas
ambições. Existe ainda, dentro de você, a vontade de se tornar um
grande vendedor?
– Sim, meu senhor.
O ancião assentiu com a cabeça.

– Então, que assim seja. Planejara gastar muito mais tempo com
você, mas, como pode ver, há outros planos para mim. Embora me
considere um bom vendedor, sinto-me incapaz de vender à morte seu
afastamento de minha porta. Ela tem esperado há dias, como um cão
faminto à porta de nossa cozinha. Como o cão, ela sabe que finalmente
encontrara a porta aberta...
Um acesso de tosse interrompeu Pathros e Hafid continuou inerte,
enquanto o ancião lutava com a falta de ar. Finalmente, a tosse parou e
Pathros sorriu com debilidade.
– Nosso tempo juntos é breve, de maneira que vamos começar.
Primeiro, retire o pequeno baú de cedro de debaixo da cama.
Hafid ajoelhou-se e puxou um pequeno baú com correias de
couro. Colocou-o sob o contorno que Pathros traçou com os pés na
cama. O ancião pigarreou:
– Há muitos anos, quando minha posição era inferior a de um
guardador de camelos, tive o privilégio de socorrer um viajante do
Oriente que fora atacado por dois bandidos. Ele insistiu em que eu
salvara sua vida e quis recompensar-me, embora eu não procurasse
nenhuma recompensa. Como eu não tinha família, nem economias,
convenceu-me a voltar com ele para sua casa e família, onde fui aceito
como um dos seus.
“Um dia, depois que me acostumara a minha nova vida, ele me
apresentou este baú. Dentro havia dez pergaminhos de couro, todos
numerados. O primeiro continha o segredo de aprender. Os outros
continham todos os segredos e princípios necessários para tornar-me
uma pessoa de grande êxito na arte de vender. Então, a seguir, foi-me
ministrada, todos os dias, a palavra sábia dos pergaminhos, e com o
segredo de aprender, do primeiro pergaminho, finalmente memorizei
palavra por palavra de todos os pergaminhos até que elas se tornassem
parte de minhas maneiras e de minha vida. Elas se tornaram hábito.
“Finalmente, recebi de presente com o baú, contendo os dez
pergaminhos, uma carta selada e uma bolsa com cinqüenta moedas de
ouro. A carta selada não era para abrir até que meu lar adotivo estivesse
fora de vista. Despedi-me da família e esperei até alcançar a rota

comercial para Palmira antes de abrir a carta. A carta, em essência,
mandava-me tomar as moedas de ouro, aplicar o que aprendera dos
pergaminhos e começar uma nova vida. Mandava, ainda, partilhar
sempre a metade da riqueza adquirida, fosse ela qual fosse, com outras
pessoas menos afortunadas, mas que não desse os pergaminhos de
couro nem os partilhasse com ninguém até o dia em que eu recebesse
um sinal especial que dissesse quem fora o próximo escolhido para
recebê-los.
Hafid balançou a cabeça:
– Não entendo, senhor.
– Explicarei. Permaneci a espera dessa pessoa e do sinal por
muitos anos e enquanto esperava apliquei o que aprendi dos
pergaminhos para acumular uma grande fortuna. Quase cheguei a
acreditar que tal pessoa jamais apareceria antes de minha morte, até
que você regressou de sua viagem a Belém. Meu primeiro
pressentimento de que você fora o escolhido para receber os
pergaminhos veio-me quando você apareceu sob a estrela brilhante
que o seguira de Belém. Em minha alma tentei compreender o
significado desse fato, mas resignei-me a não desafiar as ações dos
deuses. E então, quando você disse que cedera a túnica, que significava
tanto para você, algo dentro de minha alma falou e disse que minha
longa procura terminara. Descobrira finalmente aquele a quem fora
ordenado ser o próximo a receber o baú. Estranho mas, logo que soube
ter descoberto a pessoa certa, a energia de minha vida começou
lentamente a se esvair. Agora, vejo-me próximo do fim, mas minha
longa procura terminou e eu posse partir deste mundo em paz.
A voz do ancião enfraquecera, mas ele cerrou os punhos ossudos
e curvou-se para junto de Hafid.
– Ouça atentamente, meu filho, já que não terei forças para repetir
estas palavras.
Os olhos de Hafid estavam úmidos ao aproximar-se de seu amo.
Suas mãos tocaram-se e o grande vendedor inalou o ar com esforço.
– Lego-lhe agora este baú e seu valioso conteúdo, mas antes há
certas condições com as quais você deve concordar. No baú há uma

bolsa com cem talentos de ouro. Isso o capacitará a viver e comprar
um pequeno sortimento de tapetes com os quais você pode entrar no
mundo dos negócios. Poderia deixar-lhe grande riqueza, mas isso seria
um terrível desserviço. Muito melhor é que você se torne o maior e
mais rico vendedor do mundo, sozinho. Como vê, não me esqueci do
seu grande sonho.
“Parta imediatamente para Damasco. Lá, encontrará infinitas
oportunidades de aplicar o que os pergaminhos lhe ensinarão. Logo
que arranjar um alojamento, abra apenas o pergaminho Número Um.
Leia-o repetidamente, até entender por completo o método secreto que
ele descreve e que você usará para aprender os princípios do êxito em
vendas, contidos em todos os outros. Tão logo aprenda de cada pergaminho, pode começar a vender os tapetes que comprou e, se combinar
o que aprender com a experiência que adquirir e continuar a estudar
cada pergaminho como foi instruído, suas vendas crescerão em número
a cada dia. Minha primeira condição, então, é que você prometa sob
juramento que seguirá as instruções do pergaminho Número Um. Concorda?
– Sim, senhor.
– Bom, bom... e, quando aplicar os princípios dos pergaminhos,
tornar-se-á muito mais rico do que jamais sonhou. Minha segunda
condição é que deve constantemente distribuir a metade de seus ganhos
com aqueles menos afortunados do que você. Não deve haver nenhum
desvio desta condição. Concorda?
– Sim, senhor.
– E, agora, a condição mais importante de todas. Você está
proibido de partilhar os pergaminhos ou a sabedoria neles contida com
os outros. Um dia surgirá alguém que lhe transmitirá um sinal, como a
estrela; suas ações generosas foram o sinal que eu procurava. Quando
isto acontecer, você reconhecerá o sinal, mesmo que a pessoa que o
transmite ignore ser ela a criatura escolhida. Quando seu coração lhe
assegurar que você está certo, então passará para ele ou ela o baú e seu
conteúdo, e quando isso for efetivado não haverá nenhuma necessidade
de impor condições ao recebedor como foram impostas a mim e agora,

por meu intermédio, a você. A carta que recebi muito tempo atrás
ordenava-me que o terceiro a recebê-los podia partilhar sua mensagem
com o mundo se assim o desejasse. Você promete executar essa terceira
condição?
– Prometo.
Pathros suspirou de alivio como se um grande peso tivesse sido
retirado de suas costas. Sorriu fracamente e colheu a face de Hafid na
concha de suas mãos ossudas.
– Pegue o baú e parta. Não mais o verei. Vá com o meu amor e
meus votos de êxito, e que possa sua Lisha finalmente partilhar toda a
felicidade que seu futuro trará.
As lágrimas rolavam sem receio pelas faces de Hafid ao pegar o
baú e atravessar a porta aberta do dormitório. Ele parou um instante do
lado de fora, colocou o baú no chão e voltou em direção ao seu amo:
– O fracasso jamais me surpreenderá se minha decisão de
vencer for suficientemente forte?
O ancião sorriu levemente e assentiu. E ergueu a mão em adeus  

Nenhum comentário:

Postar um comentário