quinta-feira, 20 de setembro de 2018

8 - ROTEIRO - Irmão X

8 - ROTEIRO
A requisição de palpites do plano invisível é tão velha quanto o mundo.
O primeiro templo consagrado à fé religiosa na Terra terá sido, certamente, um tribunal de
súplicas, em que o homem primitivo buscava a manifestarão dos deuses.
E, em todos os tempos, o grito de socorro abafou o hino de hosanas.
O espírito encarnado no Planeta desempenha, acima de tudo, o papel de Édipo, rolando
na tela das circunstâncias tecida por ele mesmo. O filho de Laio, contudo, decifrou os
enigmas que lhe eram propostos pela Esfinge, nos arredores de Tebas, enquanto que o
homem comum se apavora e cai, ante os problemas da Morte, ao redor do sepulcro.
Todavia, não evocamos a imagem para urdir considerações literárias em torno do tema
antigo. Lembramos aqui o afã dos amigas terrestres, procurando-nos o concurso fraternal
a fim de resolverem as questões que lhes dizem respeito. Os “vivos” pedem orientação
aos “mortos” com estranho fervor, como se os esgares do transe final do corpo nos
houvessem promovido a magos infalíveis. Organizações caridosas e personalidades
mediúnicas são diariamente atormentadas, no Espiritismo, de mil modos, por milhares de
solicitações dessa natureza. Com facilidade, renovaríamos no mundo os deliciosos
oráculos gregos, cheios de fantasia pagã, se a luz do Cristo não nos presidisse agora aos
impulsos, porque, sem dúvida, a massa de reclamações e de pedincharia endereçadas à
nossa esfera é de espantar.
Simpatizantes da causa doutrinária querem pareceres do Além, acerca das mudanças do
câmbio, de querelas judiciais ou surpresas do subsolo...
No entanto, não é para esses trêfegos consulentes de médiuns invigilantes que
alinhavamos as presentes observações.
Reportamo-nos aos companheiros sinceros que pedem um roteiro de espiritualidade para
os serviços da vida.
Permanecem cansados e desiludidos, afirmam alguns. Inquietos e torturados, declaram
outros. Pretendem de nós, por vezes, longos comunicados repletos de itens informativos.
Exigem particularidades. Desejam que nos pronunciemos sobre a conduta que lhes
compete na sociedade e no lar. Muitos nos situam ingenuamente entre os juízes de toga
flamejante e aguardam de nossas mãos libelos fulminatórios, como se não estivéssemos
igualmente em luta por extinguir os próprios defeitos e sanar as próprias imperfeições.
É para esses que recordamos as normas esposadas atualmente por nós. A única diretriz
respeitável que poderíamos indicar aos companheiros de reta intenção é o retorno à
estrada do Cristo. À exceção dos espíritos missionários que consumiram a existência na
renúncia santificante, o que estamos fazendo além do túmulo, em boa linguagem, é o
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trabalho de lavanderia. Temos a roupa suja e é impossível prosseguir sem vestes limpas,
através de caminhos iluminados e claros.
A receita lógica, portanto, para a comunidade doa irmãos encarnados, é o reajustamento
no bem legítimo. Os interessados na aquisição de conhecimento e santidade encetem o
esforço no próprio círculo. Quem se candidate à elevação, principie por elevar-se quem
pretenda o convívio das entidades superiores, comece por emergir do vale fundo em que
se concentram os motivos mais baixos da vida e subam para o monte da iluminação...
Não esperem que os desencarnados lhes venham assinalar deficiências. Também nós,
convalescentes da alma, experimentamos a sede de cura definitiva.
Certa feita, enunciou Oscar Wilde que a arte de dar conselhos consiste em indicarmos
para os outros aquilo de que mais carecemos. Não incidiríamos, depois da morte, pelo
menos nós, os pecadores confessos, em erro semelhante.
Busquemos todos o Conselheiro Divino.
Conjuguemos com Ele os verbos orar e vigiar, perdoar e amar, ajudar e servir. Iniciemos a
tarefa pelos irmãos incompreensivos mais próximos.
A época da revelação espiritual, por entre laboratórios e gabinetes de pesquisa, deve ter
passado para os estudiosos leais, que procuram a luz. A atualidade pede recolhimento no
próprio ser. A mente necessita centralizar-se, a fim de sentir a claridade sublime do Alto,
na intimidade da consciência.
Ai dos que não dominarem o corcel da imaginação na corrida que a civilização moderna
improvisou para a morte!...
Se os aprendizes do mundo permanecem, efetivamente, à espera de orientação, por
parte daqueles que os precederam na grande jornada, ouçam nosso apelo: Recorramos a
Jesus, não só no título de Salvador Glorioso da Humanidade, mas também na condição
de Mestre para a nossa experiência individual. Quantos estiverem entediados da exibição
de “compridas túnicas” da extravagância, entre os fariseus de todos os tempos, voltem
conosco à simplicidade original. Lavemos o pensamento nas fontes cristalinas da
Verdade. Façamo-nos crianças e, buscando o Eterno Amigo, supliquemos a Ele com
sinceridade infantil:
– Senhor, ouvimos-Te a palavra, quando chamavas os pequeninos. Ensina-nos a
caminhar, a servir e a viver!...
E estejamos convictos de que o Guia dos Século; nos tomará as mãos frágeis, sereno e
acolhedor, para conduzir-nos “através dos vales da sombra e da morte”, onde, em
companhia d’Ele, “não temeremos mal algum”.

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