IIII. O Imperador |
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O Arcano da Autoridade, da Paternidade e da Obediência |
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Compilação de Constantino K. Riemma
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IIII. O Imperador |
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Tarot de Marseille (1750) |
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Sentado num trono com as pernas cruzadas, um homem coroado é visto de perfil. Em sua mão direita traz um cetro que termina por um globo e pela cruz, enquanto a outra mão segura o cinto. |
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No primeiro plano, à direita, um escudo com a imagem de uma águia parece apoiar-se no chão. |
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Um colar amarelo prende uma pedra (ou um medalhão) de cor verde. A coroa se prolonga extraordinariamente por detrás da nuca. |
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O trono, uma cadeira em cujo braço esquerdo se apoia o Imperador, repousa — como a mesa do Arcano I — sobre um terreno aparentemente árido, do qual brota uma solitária planta amarela. |
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Ao contrário do emblema da Imperatriz, a águia do Arcano IIII olha para a esquerda. O desenho das águias, por outro lado, difere notavelmente num e noutro caso. |
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A notação IIII, no topo do desenho, que ocorre também nos arcanos VIIII, XIIII e XVIIII não é habitual na numeração romana (que registraria IV, IX, XIV e XIX). |
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Essa forma de grafar, porém, faz parte da tradição gráfica do Tarô, tal como aparece na versão de Marselha e na maioria das coleções de cartas antigas. |
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Significados simbólicos |
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O poder, o portal, o governo, a iniciação, o tetragrama, o quaternário, a pedra cúbica ou sua base. Proteção paternal. |
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Firmeza. Afirmação. Consistência. Autoridade. Poder executivo. Influência saturnina-marciana. Concretização, habilidades práticas, ordem, estabilidade, prestígio. |
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Interpretações usuais na cartomancia |
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Direito, rigor, certeza, firmeza, realização. Energia perseverante, vontade inquebrantável, execução do que está resolvido. Protetor poderoso. |
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Mental: Inteligência equilibrada, que não despreza o plano utilitário. |
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Emocional: Acordo, paz, conciliação dos sentimentos. |
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Físico: Os bens, o poder passageiro. Contrato firmado, fusão de sociedades, situação do acordo. Saúde equilibrada, mas com tendência à exuberância excessiva. |
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Desafios e sombra: Resultados contrários ao pretendido, ruptura do equilíbrio. Queda. Perda dos bens, da saúde ou do domínio sobre coisas e seres. Oposição tenaz, hostilidade preconcebida. Teimosia, adversário obstinado; assunto contrário aos interesses. Autodestruição, grande risco de ser enganado. Autoritarismo, tirania, absolutismo. |
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História e iconografia |
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Alguns estudiosos chamam atenção para um aspecto significativo desta figura: o Imperador tem as pernas cruzadas. Este detalhe corroboraria a tese de inspiração germânica do arcano, visto que no antigo direito alemão esta posição era prescrita ritualmente para os altos magistrados (1220). No entanto, imagens semelhantes e igualmente antigas aparecem nas iconografias francesa e inglesa, representando altos dignitários. |
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O caráter cerimonial e prestigioso do cruzar as pernas pode ter uma origem mais remota, possivelmente oriental, já que isso não é habitual no panteão greco-romano. |
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O antigo simbolismo, convertido em liturgia pela codificação alemã, admite também um profundo sentido psicológico: cruzar as pernas e os braços indica concentração volitiva, encerra o protagonista na sua esfera pessoal e, do ponto de vista gestual, afirma claramente o desejo de individuação. |
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Outros detalhes merecem ser assinalados a propósito desse personagem. É comum, associar o simbolismo do Tetragrammatonà figura do Imperador. É sabido que o tetragrama traduz ao nome de Deus omitindo-o, ao decompô-lo no nome das letras que o formam: Yod – He – Vau– He. |
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A leitura do nome das letras (grafadas da direita para a esquerda, em hebraico), dá Jehová, que não é o nome de Deus, mas alusão a ele. |
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O Imperador (1455) |
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Tarot Gringonneur ou Charles VI |
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He <- font="" he="" vau="" yod="">-> |
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Os cabalistas, como demonstra este exemplo, trabalham também com o pensamento analógico, tal como se vê nos demais estudos tradicionais. |
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“A ideia é perfeitamente clara” – escreve Ouspensky – “se o Nome de Deus está realmente em tudo (ou seja, se Deus está presente em tudo), então tudo deve ser análogo a tudo mais: a parte menor deverá |
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ser análoga ao Todo, a partícula de pó análoga ao Universo, e todos análogos a Deus”. |
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Do ponto de vista cabalístico, a relação Tetragrama-Imperador parece muito fecunda, já que, comparada com as três letras anteriores (ou os três arcanos), consideradas respectivamente como o princípio ativo (I), o princípio passivo (II) e o princípio do equilíbrio ou neutralizador (III), a quarta letra ou carta é considerada o resultado e, também, o princípio da energia latente. |
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Tarô de Oswald Wirth |
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Publicado em 1912 |
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Isto se harmoniza perfeitamente com a versão de Wirth sobre o Arcano IIII, segundo a qual ele não é apenas o Príncipe deste mundo, que "reina sobre o concreto, sobre o que está corporificado", mas é também o paradigma do homem estritamente normal, em posse de suas potencialidades, mas ainda não realizado pela iniciação. |
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Nesse sentido, representa o quaternário de ordem terrena, de organização da vida sensível, e pode ser relacionado também ao demiurgo dos platônicos, às divindades inferiores em geral (os heróis, antes dos deuses), e a toda tentativa de criação de vida no nível terreno e perecível. |
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Também se vê nele, enquanto rei que propicia a prosperidade e o crescimento de seu povo, uma correspondência ao mito de Hércules, “portador da maçã, que leva as maçãs de ouro ao jardim das Hespérides”. |
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Hércules, enquanto herói solar, que resume como nenhum outro as fases do processo iniciático no sentido da liberação individual que, esotericamente, só se pode alcançar através do trabalho e do esforço. |
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Como Hércules, também o Imperador não transcende a condição humana, embora o princípio indique que poderá levá-la à sua mais alta manifestação. |
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É considerado, em sua face não trabalhada, como representante do aspecto violento e agressivo do masculino, mas também como dispensador da energia vital e, neste aspecto, como a Natureza abundante, divisível, nutritiva. |
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