quarta-feira, 16 de maio de 2018

CAPÍTULO 18 - Não Fuja

CAPÍTULO 18
— Nina, acorde. Precisamos partir — Richard anunciava enquanto estalava o pescoço e
alongava as costas. Uma fraca claridade penetrava na gruta, agora já sem a camuflagem na
sua entrada. Estava amanhecendo. — Conseguiu descansar?
A sensação era de que havia acabado de fechar os olhos. A tristeza que me impregnava
a alma havia consumido boa parte da minha energia. Ainda assim, menti, assentindo com a
cabeça.
— E você?
Ele me lançou uma piscadela rápida, mas não me convenceu. Eu o entendia cada dia
mais e sabia que também estava mentindo. Richard não havia dormido. Na certa, o coitado
havia passado a noite em claro e me vigiando.
— O dia será curto e teremos de correr. — E, sem rodeios, perguntou com urgência: —
Você ainda quer ir para Marmon? Mesmo depois de tudo que lhe contei?
Eu me fiz aquela mesma pergunta um milhão de vezes antes de adormecer em seus
braços. Estaria disposta a ir fundo e exigir toda a verdade de minha mãe assim que a
encontrasse? Se eu a encontrasse... Invariavelmente a conclusão era sempre a mesma: sim!
Eu tinha de conhecer a minha história, o meu passado. Eu precisava de respostas. E a única
pessoa que poderia fornecê-las era a minha mãe.
— Quero.
Richard piscou mais uma vez e, sorrindo, pareceu orgulhoso com a minha escolha. Sua
postura autêntica e amistosa mexia fundo comigo. Sem a sua armadura de terrível resgatador
de Thron, ele parecia até mais novo e ainda mais lindo. Estava adorando conhecer esse seu
outro lado, aquele que a Sra. Brit jurou existir. Uma pontada de felicidade salpicou em meu
peito e rechaçou a semente do temor que insistia em germinar em minha mente toda vez que
me recordava da advertência da bondosa bruxa, alertando-me de que Richard havia feito algo
errado. Flashes do que ele vinha fazendo para me manter viva apagavam qualquer dúvida. Ele
mal tocou em mim de tão preocupado em me causar algum mal, ele se importava comigo mais
do que podia imaginar. Eu queria chegar a Marmon e, ao mesmo tempo, estava adorando ficar
algum tempo a sós com Richard.
— Ah! Dei uma saidinha e olhe o que consegui. Não é grande coisa, mas...
— Pão! — Meu estômago vibrou mais alto do que minha voz.
— E tâmaras — acrescentou satisfeito ao me ver abocanhar um enorme pedaço de pão
sem a menor cerimônia. — O mercado das minas daqui vive às moscas.
— Está ótimo! — respondi com a boca cheia. Ele riu, sentou-se ao meu lado e pegou um
punhado de tâmaras para si. — Como conseguiu passar despercebido?
— Tenho meus truques — disse ele com um repuxar de lábios, fazendo-me recordar
imediatamente da gruta em que me escondeu assim que entramos em Zyrk.
— Claro — murmurei e me calei.
Não queria tocar naquele assunto e destruir o clima de paz entre nós. O Richard de
agora era outro e em nada se parecia com aquele. Muita coisa havia passado desde então,
muitas situações-limite nos afastaram para nos fundir com força triplicada, indiscutíveis provas
de amor e de vida mudaram meu conceito sobre ele. Richard era um diamante bruto que
começava a ser lapidado. Um ser complexo, repleto de camadas distintas, e por vezes
antagônicas, não significava dizer que se tratava de alguém de índole ruim. Ele era apenas um
novato nas questões do coração, atordoado pelas impossíveis emoções que pairavam em sua
pele e espírito até então anestesiados. Um zirquiniano com boas intenções escondido atrás da
couraça da agressividade e do temperamento hostil, perdido em meio a tênue linha divisória
que separa o bem do mal. Desde o início e, ainda contra a sua vontade, seus atos duvidosos
camuflavam ações verdadeiramente generosas. Ele mesmo não havia se dado conta de seus
gestos de altruísmo e, embora eu ainda não tivesse recuperado completamente minha
confiança, sabia que o amava com todas as minhas forças. Não suportava imaginar minha vida
sem ele e não conseguia acreditar que poderia existir sentimento maior do que aquele que
carregava no peito. Senti um calafrio dolorido percorrer minha pele e chacoalhei o pensamento
nefasto que ganhava espaço em minha mente. Se nós realmente nos amávamos, então por
que não conseguimos ter um contato maior? Por que quase morri quando Richard me tocou
de um jeito mais íntimo?
Era essa a dúvida que pairava no ar. Se a lenda era verdadeira, qual de nós não amava
o outro o suficiente para quebrar a maldição? Eu? Ele? O que sentíamos um pelo outro nada
mais seria do que uma forte atração?
— Uma vez você disse que invejava os garotos da minha dimensão — quebrei o silêncio.
— Se nada tivesse acontecido, quero dizer, se você não estivesse condenado ao Vértice, se
as coisas entre nós fossem possíveis... — continuei encarando minhas próprias mãos na
tentativa de esconder o rubor em minhas bochechas. — Se você tivesse a chance de escolher,
Rick, você realmente preferiria viver na minha dimensão e longe de Zyrk? Abriria mão da sua
importante função de resgatador principal e futuro líder de...
— Sim — ele não me deixou concluir a frase, fulgurando-me com intensidade. Sua
reposta sem a mínima hesitação mexeu ainda mais com as minhas estruturas. Ele não tinha
dúvidas.
— Lembre-se de que lá você seria igual a todos os humanos, sem poderes, sem nada.
— Eu não seria igual aos outros, Nina — rebateu e tornou a me nocautear com sua
resposta inesperada. — Eu teria você e eles não.
Meus lábios se afastaram involuntariamente e um sorriso gigantesco irrompeu em minha
face. Ele sorriu de volta e o ar em meus pulmões foi sugado, não mais pela beleza estonteante
de seu rosto perfeito, mas pelos encantos escondidos dentro dele que a cada segundo
conseguiam me surpreender ainda mais.
Colocando o pão de lado, aproximei-me dele e acariciei seu rosto.
— Nina, não podemos...
— Eu sei. — E, sem demora ou hesitação, afundei meus lábios nos dele. Richard
enrijeceu e não retribuiu de início, atordoado, mas também não recusou meus carinhos. —
Shhh — sussurrei em meio ao beijo. — Eu acredito, Rick. Eu sinto que não é errado o que
existe entre nós, que um dia nós vamos conseguir.
Instantaneamente sua armadura caiu e, deixando o cuidado de lado, ele aceitou meu
beijo apaixonado com uma vontade arrasadora. Suas mãos grandes e ágeis fazendo caminhos
perfeitos pelo meu corpo, sua língua vasculhando desesperadamente cada canto da minha
boca. Havia urgência no ar. A aflição dele espelhava-se na minha. Ardor. Desejo. Chamas.
Não tínhamos tempo a perder.
Não sabíamos quanto tempo nos restava.
Não suportávamos a ideia de perder um único momento juntos.
— Precisamos ir! Teremos que correr se quisermos chegar a Marmon ainda hoje — com
a fisionomia perturbada, ele se afastou num rompante. A ruptura inesperada daquele contato
chegou a doer na minha alma, mas, determinada, assenti e sufoquei meus hormônios à força.
Ele tinha razão.
Era a hora de enfrentar meu futuro e compreender meu passado.
#
Caminhamos por horas a passos rápidos pelas planícies áridas de Zyrk em direção a
Marmon. Fazíamos caminhos alternativos, subindo e descendo colinas escarpadas para não
nos depararmos com zirquinianos pelo caminho. Richard era cuidadoso, mantendo-se atento
aos meus mínimos sinais de fome, sede ou cansaço. O ânimo de Richard parecia refletir-se
no do sol zirquiniano e ia piorando à medida que a tarde avançava.
— Não acredito! A noite está chegando mais cedo — bradou nervoso checando a
posição do sol a cada poucos minutos.
Após o assustador vulcão adormecido que constituía Thron, o vale estrategicamente
protegido por um lago como era o caso de Storm, e a fortaleza de pedras de Windston, eu
estava esperando algo grandioso, épico, mas, pelo que havia entendido das explicações de
Rick, Marmon nada mais era que um reino subterrâneo construído a partir dos escombros de
um gigantesco terremoto no passado.
— A catástrofe aconteceu há muito tempo e arruinou a montanha sobre a qual Marmon
ficava. Meu povo estava em uma acelerada espiral de maldade e cobiça e o terremoto foi
outro castigo imposto por Tyron para nos fazer acordar. Dizem que o cataclisma foi tão
violento que teve repercussão até mesmo na sua dimensão e se tornou o estopim para o
surgimento do Grande Conselho. A tragédia quase dizimou a população de Marmon. A queda
não ocorreu apenas no número de habitantes, mas, em especial, no exército de Marmon. O
reino arruinado teve que permanecer durante dezenas de anos sob a proteção do Grande
Conselho para que não fosse alvo de ataques oportunistas — Rick explicava de maneira
acelerada.
— Foi por causa disso que eles preferiram construir uma fortaleza subterrânea?
— Isso aconteceu muitos anos depois. Lembre-se de que meu povo não constrói quase
nada, Nina. Somos eminentemente destruidores — ele repuxou os lábios, impaciente. — Os
sobreviventes daqui se tornaram mercenários ou quase nada fizeram para o fortalecimento de
Marmon. Sem contar que o controle de natalidade do Grande Conselho dificultou sobremaneira
que eles tivessem um número de homens com qualidades razoáveis para montar um novo
exército.
— Então Marmon não tem exército?
— Tem. Seu novo exército foi estabelecido após a chegada de Von der Hess por aqui, há
aproximadamente duas décadas.
— Von der Hess?!
— Não sei detalhes da história, mas o que se conta é que o médium fez um acordo com
o rei de Marmon, Leônidas. Em troca do cargo de autoridade máxima abaixo do líder, Von der
Hess lhe ofereceria ajuda “mágica” para fortalecer seu reino e criar um exército. Assim
Marmon se reergueria, conseguiria se livrar dos comandos do Grande Conselho, voltaria a ter
poder próprio e deixaria de ser visto como o filho leproso, o reino amaldiçoado de Zyrk —
arqueou as grossas sobrancelhas. — E, para reconstruir Marmon, Von der Hess se aproveitou
das novas condições do terreno após o grande terremoto.
— As fendas devem ser muito grandes para caber tanta gente.
— Dizem que são gigantescas, como grandes cânions subterrâneos, mas não acredito
que exista tanta gente para povoá-las. O número de resgatadores por aqui é reduzido se
comparado aos demais reinos e os boatos contam que Von der Hess também não mantém um
grande contingente de sombras.
— Ele as mata?
— Acho que sim, Nina — respondeu secamente. — Dizem que ele elimina boa parte
delas. Talvez tenha sido a forma que encontrou para mantê-las sob controle — explicou. —
Enfim, o que ouvi dizer é que o mago prefere trabalhar com o ataque surpresa e com a ajuda
dos seus insetos amaldiçoados, os Escaravelhos de Hao.
— Ainda assim, Marmon não estaria protegida de um ataque de outro reino — concluí. —
Como conquistam territórios e se defendem se não têm um grande exército lhes protegendo?
— O povo de Marmon não tem interesse em conquistas e também pouco precisa se
proteger.
— Por quê? Não entendo...
Richard diminuiu o ritmo.
— Olhe ao redor, Nina. O que vê?
— Além desse deserto horroroso? — fiz conforme me pediu e vasculhei com atenção
todo o entorno. — Nada.
— Zyrk é quase toda assim: árida. Nenhum clã luta pelas minas ou campos neutros
porque são locais estéreis, mortos. Os poucos lugares que têm algo de bom se transformaram
nas sedes dos clãs. O mais rico deles é Storm. Seu grande lago é fonte de sobrevivência
nesses tempos de secas ininterruptas, além de ficar sobre uma grande jazida de ouro.
Windston, por sua vez, tem o melhor clima, o solo mais fértil de Zyrk, e é de onde vem boa
parte dos nossos escassos alimentos. Thron, apesar de parecer um lugar muito sombrio, tem
pequenas reservas de água e jazidas de minério de onde extraímos o ferro para a fabricação
das nossas armas. Teve também a sorte de ter sido governada por grandes líderes militares.
Nossos homens tiram prazer da luta e do álcool como recompensa, o que nos faz ainda mais
fortes — ele abriu os braços e girou o rosto em direção ao horizonte. — Torne a olhar ao seu
redor. Essa paisagem será a mesma que verá quando, em poucos minutos, cruzarmos aquela
colina e chegarmos a Marmon.
— Mas não há nada.
— Exatamente. E ninguém luta por nada — explicou de forma enfática, fazendo-me
acelerar ainda mais o passo. — Os clãs não têm interesse em ter baixa de soldados por um
lugar que não lhes dê nada em troca. Aqui não há água, ouro, minérios, clima ou solo que
possam atrair os demais líderes. Sem contar que Von der Hess conseguiu camuflar muito bem
as entradas para Marmon. Comenta-se que ele as modifica de tempos em tempos para que
nenhum exército as descubra e, caso isso viesse a ocorrer, ele faria uso dos insetos malditos.
— Sua voz saiu arrastada. — São criaturas de vida limitada, mas perfeitos para o caso.
— Os escaravelhos são capazes de matar?
— Não. Apenas deixam a pessoa em estado de alucinação enquanto leem seus
pensamentos. Mas, uma vez os soldados inimigos se contorcendo no chão, eliminá-los tornase
tarefa fácil, mesmo para um número reduzido de homens — bufou. — Bem-vinda a
Marmon, Nina — soltou com descaso ao cruzarmos a tal colina que havia mencionado, divisa
para o mais abandonado de todos os territórios de Zyrk.
— Meu Deus! O que Von der Hess viu aqui que pudesse ter lhe gerado tamanho
interesse?
— Poder, Nina. Os zirquinianos, assim como os humanos, adoram a sensação do poder
— abriu um sorriso frio. — Sem contar que os boatos também dizem que...
— Quê?
— Que o lugar é realmente amaldiçoado. Que existe energia ruim por aqui. Não se sabe
se ela já existia e Von der Hess apenas se aproveitou do fato ou se foi ele quem trouxe os
poderes malignos para cá.
— Então você nunca esteve em Marmon?
— Nunca entrei pra valer. Meu líder jamais teve interesse no lugar.
— Como encontraremos uma entrada então?
— Com você a tiracolo algo me diz que não será uma tarefa difícil. Eles virão até nós —
confessou.
— Eu direi como — uma voz grave e rascante ecoava na planície desértica e nos
atropelava sem permissão. Shakur!
— O que você está fazendo aqui? — Os olhos azuis de Richard dobraram de tamanho,
suas pupilas vibraram num misto de espanto e incompreensão e ele se jogou comigo para trás.
— Vim dar cobertura para vocês.
— Cobertura para entrarmos em Marmon? — Subitamente Richard perdeu a voz e seu
corpo enrijeceu. Ele fechou a cara e a sombra da fúria deformou rapidamente seus traços
perfeitos. — Afinal, qual é o seu interesse nela? Qual a jogada agora? Que outros segredos
você esconde além da bruxaria?
— Richard, eu sei que tudo parece sem sentido, mas não temos tempo para explicações.
— Havia aflição na voz constantemente autoritária do líder de Thron. — O elemento surpresa é
a nossa única chance. O perigo está à espreita. Eu sinto.
— “Perigo”?! Você “sente”? Por que não sentiu isso antes, hein? — Richard cuspia as
palavras com o maxilar trincado.
— Veja como fala comigo, rapaz. — Shakur fechou os punhos enluvados.
— Eu falo como quiser, droga! Eu sinto o cheiro de mentira de longe e, se não me falha a
memória, foi você quem adestrou o meu olfato.
— Richard, eu não...
— Chega! — Veias arroxeadas saltavam pelo pescoço de Richard e sobressaíam em
sua pele alva. Ele parecia mais do que transtornado. A admiração que nutria pelo líder era
tanta que a dor da decepção se fazia insuportável. — Que tipo de armadilha é essa?
— Rick, por favor, fique calmo — pediu Shakur ao presenciar Richard balançar a cabeça
de um lado para o outro, transtornado. — Você tem dúvidas e medo. Por causa dela... Está
descontrolado, mas eu não o culpo. Acredite. Eu entendo.
Shakur pousou o olhar em mim. Estremeci com aquele contato visual e fui tomada por um
sentimento diferente, obstrutivo e ao mesmo tempo protetor, como se uma mão envolvesse
meu coração. Só não sabia se aquela mão desejava esmagá-lo ou embalá-lo e, apesar de
entender que podia estar sendo alvo de algum tipo de magia, uma ideia inesperada se
expandia e começou a latejar em minha mente. Uma voz dentro de mim afirmava que havia
algo importante atrás dos olhos azuis daquele líder sombrio. Havia ódio, frustração, desespero
e mágoa neles, mas o que meus sentidos insistiam em sinalizar era a presença de um misto de
preocupação e esperança entremeadas a um sentimento que eu não conseguia decifrar, mas
que meu âmago afirmava que eu precisava descobrir.
— Você não entende nada! — Richard rugiu levando as mãos à cabeça. Ele parecia
querer arrancar à força algum pensamento que o massacrava. Então, de rompante, segurou
meu braço e determinou acelerado: — Eu não estou gostando nada disso. Vamos embora
daqui, Nina.
— Vocês não têm onde se refugiar. Vai anoitecer muito antes de chegarem às minas!
Toda Zyrk já sabe da sua fuga e do prêmio que o Grande Conselho colocou na sua cabeça,
Richard! — Shakur advertiu e pude detectar apreensão exalando de sua voz grave. — E na
dela também!
— Não! — Richard ainda lutava.
— Temos que entrar em Marmon. É nossa única saída — insistia Shakur.
— Rick, eu vou ficar — determinei decidida, desvencilhando-me da pegada dele e
colocando um fim àquela discussão interminável. Richard travou, visivelmente perdido,
enquanto os traços da hemiface visível do líder de negro se suavizaram. — Se minha mãe está
viva em algum lugar por aqui, eu não posso simplesmente fugir e deixá-la para trás. Foi para
isso que eu vim. Para salvá-la.
Richard fechou os olhos e, depois de estudar Shakur por um momento, assentiu sem
vontade.
— Ok — soltei aliviada. — Como faremos isso, Shakur?
— As entradas do lugar são camufladas por bruxaria, mas existe uma falha no feitiço de
Von der Hess. Há um determinado momento, quando o sol está se pondo, em que a angulação
dos seus raios consegue evidenciar as margens das fendas no solo. São as entradas.
— Quando você soube disso? — questionou Rick com as sobrancelhas mega-arqueadas.
— Eu sempre soube, rapaz — Shakur abriu um sorriso mordaz.
— Sempre soube? Que ótimo! — Richard franziu o cenho e, bufando, afastou-se de nós
enquanto chutava pequenas pedras soltas pelo chão. Devia estar arrumando uma maneira de
abrandar seu gênio forte.
— O pôr do sol começou há algum tempo. E se esse momento já passou? — perguntei.
— Nina! Cuidado! São os... Argh! — O berro de Richard parecia um aviso distante.
— Rick?! Ai! — Senti uma fisgada lancinante no ouvido. Minha orelha direita ardia. O
mundo zunia.
— Nina! — escutei o bramido de Shakur. Novas rajadas de zumbidos passaram ferozes
por cima da minha cabeça, como se um enxame de abelhas fosse lançado violentamente em
minha direção. O líder de negro arregalou os enormes olhos azuis e saltou sobre mim, fazendo
nossos corpos se espatifarem pelo terreno áspero. O escudo com a insígnia de Thron foi
arrancado com violência de sua mão, levando a luva negra consigo. Shakur desequilibrou e
caiu com o rosto no chão. Parte da máscara negra se quebrou e ele urrou alto num berro que
mais parecia de raiva do que de dor. — Você está bem? — indagou ofegante ainda caído
sobre mim. A pressão aumentava em meus ouvidos. Os sons vinham estranhos, abafados,
como se eu estivesse fazendo mergulho no fundo de uma piscina. Meu raciocínio começou a
processar as informações ao redor com dificuldade, captando os berros distantes de Richard
e o desespero na hemiface do líder de negro de forma lenta e retardada.
Mas minha visão estava intacta.
E eu vi.
Nas outras vezes em que nos deparamos, a penumbra ou a distância se encarregaram
de ocultar pormenores com mais perfeição que a amedrontadora máscara e roupas negras
que vestia. Mas agora, munida da claridade oriunda dos raios solares, da proximidade e de
parte da máscara quebrada, consegui vislumbrar detalhes até então camuflados em seu rosto,
como o maxilar deformado, a pele arroxeada, fina e repuxada e, principalmente, o buraco no
lugar onde devia estar seu nariz, causado pela ausência da cartilagem e que deixava suas
narinas assombrosamente expostas. Seria o momento exato para repulsa ou medo, mas meu
coração esquentou dentro do peito quando se deparou com a verdade estampada em seus
expressivos olhos azuis. Havia o brilho de uma emoção neles que não havia identificado antes,
mas que agora era mais que cristalina: Shakur se importava comigo!
E, de alguma forma, eu sentia que meu corpo retribuía aquele sentimento inesperado de
forma pungente e decidida. Você se importa com ele?! Você gosta dele?! Mas que droga!
Que insanidade é essa agora, Nina?, berrava o resquício de razão a um cérebro letárgico.
Tentei me afastar, nervosa e agitada, diante da estranha avalanche de sentimentos que
ameaçava me paralisar.
— Rick! — Meu berro ecoou no nada. A ausência de resposta comprovava que a
situação era grave.
Congelei sob a nova descarga de adrenalina que percorria minhas veias. Virei o rosto,
desvencilhando-me com dificuldade do peso do corpo de Shakur. E então entrei em choque
com o que meus olhos presenciavam: Richard se contorcia violentamente no chão, as órbitas
brancas em meio a uma crise convulsiva. Tentei me afastar do líder de negro, mas, de olhos
fechados, ele me envolvia com força, murmurando furiosamente palavras sem sentido. Céus!
Shakur havia nos submetido a algum feitiço? O que estava acontecendo? Sons de homens
berrando e se aproximando rapidamente. O zunido aumentava e minha mente girava num
furacão de atordoamento.
— Me solta! — bradei apavorada. Zonza, eu não sabia o que estava acontecendo, mas
precisava me livrar de Shakur e ajudar Richard. Então lancei minhas mãos em direção ao líder
de Thron, que se defendeu do meu ataque, segurando meu pulso com a mão desenluvada.
— Nina, pare! — esbravejou com a voz rouca e congelei.
Não por medo, muito menos pela sua autoridade. Havia uma intimidade que chegava a
doer em seu tom de voz. Meu coração começou a bombardear o peito. Fiz força para me
soltar, mas, mesmo deformados pelo fogo, seus dedos eram fortes e mantinham meu pulso
aprisionado. Desesperada em me livrar de sua pegada, levei os dentes à área exposta, no
local onde a cicatriz da queimadura havia deixado sua pele fina e deformada e recebi o golpe
fatal. Paralisei no meio do caminho. Meus olhos arderam e minha memória entrou em
combustão ao avistar a tatuagem no único ponto ileso na pele da sua mão.
O botão de rosa.
A rosa do meu sonho.
Único registro de uma infância feliz.
Não podia ser! Nada disso fazia sentido. Oh, Deus! Eu estava enlouquecendo!
— Pequenina, por favor, não chore — implorou ele quando lágrimas romperam as
barreiras da minha alma e comecei a chorar copiosamente.
“Pequenina”?! Então ele era...?
De repente, o corpo de Shakur se enrijeceu, suas pupilas assumiram a posição vertical e
ele me soltou.
— Concentre-se na cor branca — ordenou nervoso, assustando-me ao começar a
balançar a cabeça de maneira descontrolada. No instante seguinte, contorcia-se no chão
exatamente da mesma forma como havia acontecido com Richard. E, da mesma forma que
seu pupilo, Shakur desacordou próximo aos meus pés.
O mundo girava em um tornado de imagens distorcidas e perguntas sem respostas. O
zumbido ensurdecedor tomou conta dos meus ouvidos e mente.
— A híbrida é minha. — A voz afeminada de Von der Hess me apunhalava pelas costas e
me fez desmoronar de vez. — Acabou, Ismael!
Ismael?!
Shakur era... Ismael?!
Meu Deus! Ismael era o homem que eu chamava de pai nos meus sonhos!

Oração do dia 16 Palavras para afastar os infortúnios.


Oração do dia 16
Palavras para afastar os infortúnios.
O senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? 
O senhor é o defensor da minha vida; diante de quem temerei?
Em todos os fatos que vivencio, sinto a presença de Deus me orientando. Como estou sob a proteção de Deus, nada de mal me acontece; como estou cingido pelos braços confortadores de Deus, nenhuma tristeza se abate sobre mim. Estou envolto pelo puríssimo amor de Deus, pela perfeita Harmonia de Deus. Nunca temo estar fora do alcance da proteção divina – pois sei que Deus é onipresente. Estou rodeado de tudo que é bem. Encontro-me no seio do próprio bem. O amor de Deus está presente no mundo ao meu redor e também dentro de mim, preenchendo todo o meu ser, e jamais me abandona. Mesmo que seja escuro o caminho à minha frente, nada temo porque Deus é minha luz; mesmo que seja agitado o mar em que navego, não tenho receio porque Deus é minha bússola; mesmo quando estou só, não sinto solidão porque Deus está comigo. Nada receio, nada temo. 
Não existe lugar algum ou pessoa alguma que me atemorize. Nem a morte tem domínio sobre mim, pois sei que unicamente a vida tem poder sobre tudo e todos. Ainda que eu ande pelo vale das sombras da morte, a luz está presente em mim. Não me sobrevêm infortúnios. Os fatos que parecem ser infortúnios são, na realidade, estágios para o progresso. Eu sou a vida, Deus é vida, tudo é manifestação da vida. Avanço com fé e autoconfiança inabaláveis. Agradeço a Deus por sua benevolência e por sua proteção. 

meditação diária (cecp) dia 16

Não há limites para a energia do meu desenvolvimento espiritual

terça-feira, 15 de maio de 2018

17 - Grande Fuga: Vencendo os limites do ego - KAF ALEF LAMED Nós estamos encarcerados, e não sabemos disso.


17 - Grande Fuga: Vencendo os limites do ego - KAF ALEF LAMEDNós estamos encarcerados, e não sabemos disso.
REFLEXÂO:
"Prisão?" você pergunta. É isso mesmo.
Somos reféns de uma pressão constante para sobrepujarmos amigos e colegas. 
Somos prisioneiros de nossos caprichos reativos e desejos egocêntricos. 
Somos escravos de nossos empregos e pressões financeiras.
Dependemos das percepções de outras pessoas a nosso respeito. 
Estamos encarcerados por nossa necessidade de aceitação por parte de outras pessoas.
Quer se libertar?
O ego é a base de todas as formas de infelicidade. 
Ele nos compele a convencer os outros de que estamos certos, até quando estamos errados e até quando sabemos que estamos errados.
O ego nos dá a ilusão de que temos liberdade para agir, mas, na realidade, somos prisioneiros de seus desejos.
Quando uma pessoa não admite ter ego, ora vejam, trata-se simplesmente do ego trabalhando duro, cumprindo sua missão, patrulhando os terrenos da prisão.
Se uma pessoa é incapaz de reconhecer seu próprio ego em alguma situação, o ego simplesmente a tornou cega e colocou-a na solitária.
O ego é uma corrente com bola de ferro que nos ancora na dimensão física e bloqueia nossa conexão com o crescimento espiritual.
No entanto, é somente no âmbito espiritual que a verdadeira felicidade e plenitude podem ser encontradas.

AÇÂO:
  Este Nome traz a maior de todas as liberdades: a fuga dos desejos baseados no ego, inclinações egoístas e a mentalidade do “eu primeiro”.
Em vez disso você obtém as dádivas verdadeiras e duradouras da vida - família, amizade e plenitude.
MEDITE NESTAS LETRAS E VOCALIZE: Leú
 AÇÃO: Experimente passar um dia inteiro com tolerância zero à palavra negativa.

100 - minutos de sabedoria

NÃO diga que não pode trabalhar em
benefício dos outros.
Quantos mudos dariam uma fortuna para
poderem falar como você!
Quantos paralíticos suspiram pelos passos
que você pode dar!
Quantos milionários lhe entregariam suas
riquezas, para terem um décimo da fé
que você tem!
Não diga que não pode trabalhar!
Distribua os bens que Deus lhe concedeu,
em gestos de bondade e palavras de
carinho.

Seicho-No-Ie do Brasil - Mensagem Diária

Seicho-No-Ie do Brasil - Mensagem Diária
AS PESSOAS MAIS CORAJOSAS SÃO AS QUE AMAM PROFUNDAMENTE.
 
Seja uma pessoa capaz de amar profundamente. O amor beneficia a tudo e a todos. As pessoas mais corajosas são aquelas capazes de amar profundamente. Para manifestar o amor, dedique-se inteiramente ao próximo, com coragem. Seja atencioso e bondoso com os outros. Sinta orgulho de ser praticante do Amor de Deus e dirija o sentimento de amor sincero e profundo a todas as pessoas.

15º Dia do Mês - Exercícios de concentração

15º Dia do Mês
1. No 2º dia do mês você focou no dedo mínimo da mão direita. No dia 15 você pode
praticar esse exercício de concentração com uma parte diferente de seu corpo. Por
exemplo, um diferente dedo ou uma unha, etc. - o que você escolher. Em todos os
outros aspectos, fazer esse foco, assim como eu tinha especificado para o dia 2.

2. Dígitos para Concentração
* Concentre-se intensamente na sequência de sete números: 7788001
* Concentre-se intensamente na sequência de nove números: 532145891

3. Neste dia sentimos a Bem-Aventurança Divina, que nos deu inteligência superior, ser
grato a Deus por ter te criado, ser grato pela criação de cada um e cada uma de suas
partes e pela criação de sua capacidade de reproduzir o universo inteiro, porque Deus
está presente em todos os lugares. De um modo semelhante, você também pode se
tornar consciente da gratidão das plantas e dos animais em relação a si mesmo. Você
também pode tornar-se consciente da gratidão de outras pessoas e seu amor.
Você vai ver que vocês também são amados. O amor é edificante, benevolente e
permeia tudo. Amor Universal, que está ao alcance de todos e que atinge a todos. Este
também é o Criador. Este é o Criador, que a sua manifestação no mundo encarna. Você
é a manifestação do amor divino, porque em relação a si mesmo o Criador é também
amor.
Desde o início, você recebeu o dom do Criador, e você mesmo é o Criador porque
foram criados por ele como um Criador todo-abrangente, eterno e divino. Você deve ir
onde ele está - e ele está em toda parte. Você deve ir onde ele chama você e ele te
chama de todos os lugares. Ele é onde você está. Está no movimento do Criador.
Você é a forma de realização de sua eternidade ir sobre seu negócio. Ele criou o mundo
eterno e tudo o que está unido nele. E você vai ver que o mundo foi criado eterno. Você
vai ver que o mundo personifica aquilo que é eterno em você. Você é o Criador que
criou tudo o que é eterno. E a criação do mundo, o Criador também fez você para a
eternidade.

110 - Louise Hay

110- “Por meio do perdão chego à compreensão e sinto compaixão por todos.”

CAPÍTULO 17 - Não Fuja

CAPÍTULO 17
— Tome mais um pouco. Só existe essa fonte de água pela região. A subida será longa e
íngreme — explicou Richard após várias horas de caminhada. Era a primeira vez que
parávamos para descansar. Exausta, sentei-me sobre um amontoado de rochas na base de
uma colina. A paisagem continuava árida e inóspita; o deserto, cinza e ainda mais desolador.
— Não aguento mais beber água! — reclamei. — Minha barriga vai explodir!
Ele apertou os lábios.
— Sério Rick! Estou tão inchada que é mais fácil você me colocar para rolar, se nós
tivermos de correr, ok?
— Boa ideia — respondeu ele com a expressão melhorada. — Faço isso assim que
chegarmos ao topo da colina.
— Estou faminta — disse após ouvir um ruído estanho em meu estômago e ele ameaçou
um sorriso.
Finalmente uma trégua! Sabia que ele estava ali contra a sua vontade, mas não
aguentava mais a sua cara amarrada.
— Eu também — confessou e levou as mãos à cintura. — Por sorte temos água, mas
não há nada o que colher ou caçar nessa região. Não podia correr o risco de colocá-la em
perigo se fizesse outro caminho.
— Nós estamos nos campos neutros?
— Na parte mais neutra dos campos neutros, se é que me entende. Logo depois desta
colina há um lugar onde conseguirei abrigo para esta noite.
— Como assim? Não estamos perto de Marmon?
— Teremos muita sorte se conseguirmos alcançar Marmon ainda amanhã — assinalou.
— Lembre-se de que devo mantê-la protegida dos meus, mas também estou com a cabeça a
prêmio. Não posso dar as caras por aí — fez uma careta, visivelmente inconformado com a
situação.
— Como conseguiremos comida então? — perguntei e chequei nosso estado deplorável.
Seria praticamente impossível passarmos despercebidos em qualquer lugar daquela ou de
qualquer outra dimensão. Se não fosse pela capa negra de Shakur, eu estaria em uma
situação bem ruim. Meu vestido maltrapilho, sujo de sangue e rasgado em diversos pontos,
estava nojento e indecente. Descalço, descabelado e sem camisa, a aparência de Richard era
ainda pior. Sua calça cinza e completamente manchada de sangue me fazia recordar o que
havíamos acabado de passar e me dava calafrios.
— Darei um jeito. Seria tranquilo se estivesse sozinho, mas não posso deixá-la só nem
por um minuto. É perigoso demais.
— Você acha que o Grande Conselho vai dar o alarme sobre a minha fuga?
— Não sei mais no que pensar — ele deu de ombros. — Acho que os magos não terão
coragem de declarar para toda Zyrk que também falham e que a deixaram escapar.
— Mas eu sou a híbrida — relembrei-o.
— Ainda assim. Sua fuga evidenciaria a vulnerabilidade deles e acabaria dando muito
poder a uma única pessoa. Você poderá ser idolatrada, temida ou odiada. Não sei como a
população responderia a uma notícia desse porte. Não enxerga o que aconteceu quando
resolveu ficar em Zyrk, Nina? — A dureza de suas palavras me pegou desprevenida. — Você
se colocou em perigo e se tornou a maior de todas as armas. Não vai demorar e tudo irá pelos
ares. Zyrk vai explodir e não sei o que restará dela, de nós.
— Rick, eu não queria nada disso, eu juro... Eu só queria uma vida normal, minha mãe de
volta, e... — Afundei o rosto em minhas mãos tingidas de culpa e quase engasguei com o
pensamento que veio a seguir. Liberei apenas uma parte dele. — Ter a chance de voltar a
sonhar.
De acreditar que posso amar e ser amada, foi o que não falei.
— Os sonhos nem sempre se realizam, Tesouro. Acostume-se a isso — sua voz ficou
repentinamente triste. Encolhi no lugar. — Você vai descobrir que às vezes é perigoso demais
dar crédito a eles, que podem ser pesadelos disfarçados.
Seria eu o grande pesadelo?
— Abrir Chawmin... — balbuciei.
— Se isso acontecer, a sua e a minha dimensão serão arruinadas. Malazar vai lutar. Ele
almeja esse confronto há milênios e não deixará pedra sobre pedra em seu caminho — ele
olhava para o nada, o olhar perdido em um ponto distante.
— Tem que haver uma saída! Eu não teria nascido se não fosse por um propósito!
— Existem todos os tipos de propósitos no mundo, Nina. Bons e maus. — Sua resposta
saiu áspera, mas ele não me enfrentou. Ao contrário, sua expressão taciturna fez todos os
músculos do meu corpo se enrijecerem. — Digamos que sua mãe esteja realmente viva. O que
fará depois que a encontrar?
— Eu vou arrumar um meio, eu...
— Certo — ele me interrompeu. — Com todos os portais fortemente protegidos, o que
você fará caso consiga? — ele refez a pergunta ao notar meu estado catatônico: — Digamos
que a gente saia vivo de Marmon, o que certamente não vai acontecer. Para onde você vai
levá-la? Windston?
— É uma possibilidade — retruquei. — Tenho certeza de que meu avô lhe daria
cobertura.
— O poderio bélico de Windston é muito pequeno. Wangor não terá como suportar um
ataque maior ou protegê-las da intervenção do Grande Conselho.
— Mas Thron é forte e tem o exército mais preparado de Zyrk. E Shakur está do nosso
lado! Você viu!
— Eu não sei por que ele a ajudou a fugir para cá, Nina! Até agora não entendi o que
Shakur planeja por detrás dessa atitude, mas posso lhe garantir que ele nunca jogou para
perder. Ele é o maior estrategista que já vi na vida e todas as suas ações são muito bem
calculadas.
— Você quer dizer que ele vai tirar vantagem da minha fuga?
— É a única justificativa que vem à minha mente. Por que diabos ele me pediria para
ajudá-la a vir para cá e não para Thron? Por que não se salvou quando pôde? — Richard
esfregava as têmporas com força. — Nada disso faria o menor sentido se ele também não
tivesse algo a ganhar.
— Chega, Rick! Não quero mais pensar nisso! — bradei nervosa, levantei e, sem querer
dar o braço a torcer, comecei a subir a colina a passos acelerados. Minha mente fervia. Ele a
havia arremessado em um caldeirão de perguntas e suposições. — Você não vai conseguir me
fazer desistir.
— Eu sabia que não — murmurou, seguindo-me de perto.
— Malditas sandálias de couro! — gemi. — Aiii!
— Cuidado! — alertou, segurando-me com incrível rapidez quando pisei em uma pedra
solta e me desequilibrei. Senti seus olhos cravarem nos meus e o calor do seu corpo
esquentar a minha pele. Perdi a reação. Aquele contato tão próximo e repentino fez todo meu
sistema racional entrar em pane e desligar. — Essas sandálias não ajudam mesmo — disse
ele, presenteando-me com um semblante amistoso e sem fazer menção de me soltar.
— Sinto falta dos meus tênis — abri um sorriso desanimado.
— Sinto falta de muitas coisas da sua dimensão, Nina. — Havia uma pitada de tristeza
em sua inesperada confissão.
— Da sua moto?
— Dela com certeza — assentiu com um suspiro profundo. — Mas também adorava a
liberdade da noite humana. De poder sair sem medo, observar o céu lotado de pontos
brilhantes. Já deve ter percebido que não existem estrelas no céu de Zyrk.
Já havia notado isso, mas o que realmente observava agora era o brilho hipnotizante
que emanava de seus olhos enquanto caminhava em direção ao topo da colina me
carregando em seus braços. Ele era a minha estrela.
— Estou bem. Pode me colocar no chão.
Incrivelmente forte, meu peso não causava qualquer desconforto a Richard, mas a subida
era íngreme e seu equilíbrio ficava prejudicado vez ou outra.
— É uma ordem? — perguntou, olhando-me pelo canto dos olhos. Vi quando reprimiu um
sorrisinho.
— Não — sorri em resposta.
— Então não vou acatar.
— Está dispensado dessa. — Tentei fazer cara de superioridade, mas a verdade é que
vibrava por dentro. Era bom demais vê-lo descontraído novamente, ter um momento de paz
entre nós.
— Vou dar um descanso aos seus pés, chefe. Acho que as tiras da sandália fizeram um
estrago — replicou ele com as sobrancelhas arqueadas. Olhei para as bolhas nos meus dedos
e suspirei, realmente feliz por vê-lo cuidar de mim. Por mais que esperneasse, ele ainda se
importava comigo. Richard era bom, só não sabia lidar com os sentimentos que eu provocava
nele. E nesse ponto ele seria sempre selvagem, o território desconhecido. Deveria aprender a
me acostumar com isso também.
Chegamos ao topo do aclive e, lá de cima, vi o lugar a que Richard se referia. Era uma
espécie de caverna esculpida na base oposta da montanha. Para minha felicidade, o percurso
de descida parecia tranquilo.
— Vai esfriar bastante durante a madrugada e não espere um local agradável — alertou
ele ao me pegar observando nosso destino com curiosidade. — É apenas um ponto de apoio
para passar a noite.
— Está ótimo! — soltei ao visualizar o sol se pondo no oeste. Em breve as bestas de
Zyrk estariam soltas. — Como o descobriu?
— Era um dos requisitos de Shakur para me tornar resgatador principal de Thron —
repuxou os lábios. — Ele sempre disse que um bom estrategista é aquele que conhece de
olhos fechados não apenas o seu território, mas também as terras do seu inimigo. Ele me fez
desbravar toda Zyrk e lhe contar em detalhes o que vi antes de me permitir assumir o cargo.
— Uau! Você passou por uma prova?
— Uma não, Nina. Várias! Por isso Thron sempre foi tão superior aos demais clãs.
Shakur nunca descuidou do desempenho físico e mental dos seus homens. E era ainda mais
rigoroso comigo — arfou. — Vamos, o sol está se pondo rapidamente.
#
— Sinto muito, Tesouro. Mas não temos mais tempo e não encontrei nada pela região.
Só comeremos amanhã — disse desanimado, enquanto ocultava a entrada da caverna com
pedras e troncos secos de árvores.
— Estou bem — menti, segurando o tremor em minhas mandíbulas. Como Richard havia
alertado, a temperatura caíra absurdamente. Não sabia o que era pior: a fome ou o frio. — NNão
entendo. Por que sinto mais frio aqui do que na Floresta Fria?
— Porque lá era uma área de magia e parece que seu corpo é relativamente imune aos
feitiços de Zyrk.
— Ah! — encolhi ainda mais.
— Não devia, mas... Você não pode ficar assim. — E, sem perder tempo, ele fez uma
fogueira. Aos poucos, o calor foi se espalhando pelo ambiente e pelos meus ossos. — Está
melhor? — perguntou ao ver o meu rosto recuperar a cor. — Que tal dormir um pouco? Nossa
jornada será intensa amanhã.
— E você?
— Tenho mais carga na bateria — piscou.
Claro! Ele era um zirquiniano.
— Durma tranquila. Vigiarei o lugar.
Assenti e, sem contestar, deixei meu corpo e mente escorregarem, derrubados pelas
toneladas de sono e de exaustão em minhas pálpebras.
#
Tremores e xingamentos baixos. Acordei com eles. Muitos e todos os tipos deles. Para
meu espanto, não era apenas o meu corpo que chacoalhava de frio, mas o chão trepidava com
fúria. Escuridão. A fogueira estava apagada. Ainda assim não sabia se estava dentro de um
pesadelo.
Ou um sonho.
Apenas o manto de Shakur cobria nossos corpos colados. Richard tentava me aquecer,
esfregando meus braços com vontade e sem tirar os olhos da frágil camuflagem colocada na
abertura da gruta, como um cão de caça pronto para o ataque.
Um uivo estridente do lado de fora.
— R-Rick! A-Ah, não... U-Uma b-besta? — empertiguei-me no lugar e senti que não havia
saliva em minha boca. Minha pele estava completamente congelada e meus dedos enrijecidos
pelo frio.
— Shhhhh! A maldita nos sentiu. — Suas pupilas trepidantes confirmavam a situação
ruim. — Tive de apagar a fogueira e você começou a congelar.
— E-Estou bem... — sussurrei, e vi que ter acordado e me deparado com ele tão
próximo a mim, as mãos enormes apertando minha pele, fez toda a diferença do mundo.
Hormônios são como álcool em fogo. Comecei a esquentar.
Camuflado na escuridão da noite de Zyrk, o animal ficava em silêncio por longos minutos,
à espreita de algum movimento da nossa parte. Todas as vezes em que Rick acreditava que o
monstro havia perdido nosso rastro e ameaçava se levantar para fazer uma nova fogueira,
éramos surpreendidos por novos ganidos de advertência e ele retornava ao lugar de origem,
ou seja, ao meu lado. Sorri intimamente. Eu estava começando a gostar daquela besta.
— Estou melhor. É sério — reafirmei algum tempo depois, encarando o rosto dele
perigosamente próximo ao meu. Minha pulsação deu um salto e corei furiosamente quando
percebi que Richard passeava os olhos vidrados por todo o meu corpo. O calor que subia por
minhas pernas e bochechas acendeu a fogueira dentro de mim e agora era eu quem pegava
fogo por dentro. Quando dei por mim, meus dedos se entrelaçavam em sua nuca e, sem
conseguir refrear o magnetismo que me impulsionava para ainda mais próximo dele, aproximeime
lenta e cuidadosamente. Vi quando seus lábios se afastaram e sua respiração perdeu o
ritmo, deixando seu peitoral subir e descer de maneira acelerada. Richard permanecia mudo.
Medo e desejo intercalando-se na expressão de seu rosto irretocável.
— Por que insiste em fazer isso conosco? — Ele paralisou minhas mãos num rompante
e soltou um suspiro encharcado de dor.
— Desculpe. Eu não quis, eu apenas... — perdi a voz e o rumo dos pensamentos ao
visualizar sua expressão derrotada.
— Você não tem culpa. Eu lhe dei falsas expectativas. Acreditei que, algum dia... seria
possível... nós dois... — murmurava hesitante. — Mas nada aconteceu conforme sonhei —
soltou um riso amargurado enquanto encarava as próprias mãos. — Acabou para mim, mas
você ainda pode fazer a diferença para Zyrk. É por isso que estou aqui. Para tentar me redimir
das incontáveis burradas que fiz pelo caminho, Tesouro.
— Rick, não diga isso, eu...
— Ficar tão... perigosamente perto de você é arriscado e irresponsável demais — ele
me interrompeu, fulgurando-me com intensidade e urgência, o azul em seus olhos agora
completamente negro. — Você não tem ideia da total ausência de controle que tenho sobre
mim quando você está por perto e do risco que eu a coloco por isso. Ao mesmo tempo em que
preciso de você viva para me sentir vivo, da necessidade insana em protegê-la de qualquer
perigo com a minha própria vida, eu sei que eu sou o maior perigo de todos. Você desperta e
atiça a fera que tento domar a todo custo dentro de mim, a besta que é capaz de sugar a sua
energia até a última gota num piscar de olhos, Nina. Então — franziu a testa com força, como
se travasse uma luta interna de proporções gigantescas —, não provoque meus sentidos desta
maneira. Não se coloque em uma situação... mortal — acrescentou sombrio. — Quando quase
a matei... a dor que senti... — travou por um momento. — Nunca mais vou arriscar a sua vida.
Nunca mais — destacou cada palavra com determinação. — Entendido?
Negativo!, era o que eu queria dizer, argumentar que precisávamos apenas de mais
tempo para encontrarmos uma saída para a nossa situação insolúvel, mas respirei fundo e
apenas assenti. De fato, eu não podia correr riscos com a vida da minha mãe em jogo. A
partida acabaria em breve.
— Portanto, é realmente sensato e necessário que fique quietinha. Já está dificílimo
refrear as sensações que você gera em mim — assinalou com a voz rouca e um brilho
perturbador nos olhos. — Consigo captar sua energia, e parece estar equilibrada no momento,
mas, depois daquele incidente... Não sei o quanto posso lhe tocar sem lhe fazer mal.
— Você não vai me causar nenhum mal — afirmei, mas a sombra da tristeza que cobria
sua face de guerreiro me fez encolher e, antes que ele pudesse me afastar, aninhei-me em
seu peitoral. — Mas estou começando a perder a fé. Por favor, só me abrace, Rick — pedi,
removendo a máscara de durona e deixando finalmente transparecer as camadas de dúvida e
desespero que carregava sobre as minhas costas exauridas. Não havia me permitido fraquejar
desde que fui capturada pelo Grande Conselho e tudo que meu espírito atormentado precisava
naquele instante era dele. Apenas da sua presença ali do meu lado.
Richard soltou um gemido baixo e envolveu meu corpo em um abraço terno. Quando seus
dedos hesitantes se entrelaçaram aos meus e nossas mãos se tocaram — quando realmente
nossas mãos se encaixaram —, o mundo entrou nos eixos, as engrenagens se ajustaram, o
universo fez sentido, tudo parecia certo demais. Não havia mais dúvidas. A abrasadora energia
no ar: palpável, doce, quente demais, como um rio de mel fervente. Não existia um depois.
Havia apenas o presente, Richard e a certeza de que, independentemente do que viesse a
acontecer, qualquer que fosse o nosso futuro, naquele instante eu o amava mais do que tudo
na vida.
— Ah, Tesouro! — ele suspirou, abraçando-me com tanto cuidado como se eu fosse
quebrar com seu simples toque, um cristal delicado demais.
— Não sei mais no que acreditar, Rick.
— Acredite na sua força, minha linda — suspirou. — Eu acredito nela como nunca antes.
Procurei seus olhos, surpresa com aquela inesperada confissão.
— Acredita?
— Suas mãos... — ele arqueou as sobrancelhas, pensativo. — De onde surgiu aquilo,
Nina? Como conseguiu desacordar Ferfelin só com o seu contato?
— Não sei — devolvi um sorriso apático. — Isso só acontece quando me sinto realmente
ameaçada.
— Fico feliz que não se sente ameaçada agora. — Ele olhou para cima, o olhar distante.
— Não consegui — confessou de repente. — Quando me pediu para cortá-las...
— Ainda bem que não — murmurei, tentando mudar de assunto. Imaginar que, se
Richard tivesse me obedecido, eu estaria sem as mãos naquele exato momento fez meu
estômago embrulhar.
— Você foi muito corajosa, Tesouro — ele abaixou a cabeça e agora me encarava de um
jeito diferente. Havia algo além de desejo ou emoção em seu olhar vidrado. Estremeci de
satisfação ao reconhecer o ar que exalava de seus lábios entreabertos: admiração! — Nunca
vi homem algum dar uma ordem daquela magnitude. Você realmente me impressionou e...
— E...?
— E fez o que nenhum guerreiro foi capaz até hoje — sua voz falhava: — Você realmente
me assustou, Nina. Sua força deixou o meu espírito ainda mais desorientado.
Sem que eu pudesse esperar, ele deslizou os quatro dedos de uma das mãos para a
minha nuca enquanto o polegar roçava delicadamente pelo contorno dos meus lábios. Fez o
mesmo com a outra mão, aprisionando ainda mais, como se fosse possível, o que restara de
meu corpo e espírito.
— Lá no portal, eu...
Sua testa ficou tomada de vincos e, tragando o ar com força, tornou a me olhar com
profundidade. Eu sabia que era dificílimo pensar com clareza com Richard me encarando
daquele jeito, mas não desviei o rosto. Necessitava de suas explicações para continuar minha
jornada. Depois de reencontrar Stela, era tudo que mais queria na vida.
— Eu tinha certeza de que estava tudo acabado entre nós. Pensei que você nunca mais
falaria comigo, que me odiaria para sempre — ele abaixou a cabeça. — Eu já era um homem
condenado ao Vértice e foi fácil desistir de mim, de viver. Simplesmente não queria mais
continuar. Não até... — ele tornou a levantar a cabeça e mirou os meus lábios. Comecei a
tremer e meus batimentos cardíacos aceleraram a níveis perigosos. — Até você aparecer
dentro daquela bolha e eu escutar de sua própria boca que me perdoava.
— Pensei que estivesse desacordado — brinquei.
— E estava até aquele instante — ele piscou de volta. — As pedras-bloqueio... — soltou
repentinamente taciturno. — Eu devia ter lhe contado. Não havia como ficarmos juntos de
qualquer forma e...
Enrijeci no lugar. Por mais que desejasse esquecer, aquele assunto ainda me magoava.
—Você sempre soube que não seria uma despedida provisória, Rick.
— Era a única forma de mantê-la livre dos meus. Mesmo com toda força diplomática do
seu avô, em questão de tempo você seria perseguida na sua dimensão também.
— Não o culpo por isso. A mágoa que tenho é por você ter me enganado.
— E-Eu só... — engasgou. — Eu só quis te proteger. Sempre foi essa a intenção.
— Eu sei, Rick. Acho que já o conheço mais do que você imagina — lancei-lhe um sorriso
cúmplice. — Você não esbravejaria nem brigaria comigo ou com Shakur se realmente não
acreditasse se tratar de uma missão suicida essa viagem para Marmon.
— Adoro missões suicidas — ele tentou descontrair o clima e arrumou uma mecha dos
meus cabelos.
— Não quando a minha vida está envolvida — acrescentei e voltei ao assunto que
martelava incessantemente em minha cabeça. — Richard, eu preciso saber: por que o Grande
Conselho disse que eu era o produto de uma concepção maligna? Por que você chamou o
relacionamento dos meus pais de aberração? Depois de tudo que passei... Eu tenho o direito
de saber.
Ele abaixou os olhos e sua respiração deu um salto. Com seus braços me envolvendo, foi
facílimo perceber sua musculatura enrijecer debaixo da minha pele.
— Por favor, Rick? — implorei e, com a ponta dos dedos em seu queixo, levantei seu
rosto em minha direção.
— Eu não devia ter dito nada — praguejou. — Eu achei que lhe contando isso talvez a
convencesse a não mais ficar em Zyrk, que estaria protegendo sua vida, mas foi uma
estupidez — contraiu os olhos. — Eu não podia ter me esquecido de que você é uma humana.
Leila havia me dito que os humanos são curiosos por natureza e ávidos por explicações.
— Eu sou uma híbrida, Rick. Ainda assim, preciso dessas explicações para não desistir
de tudo. Você vai me contar, não vai? — insisti e ele assentiu com a face perturbada. Não
gostei.
— Tudo o que sei foi-me dito em segredo e não poderei confessar a fonte. Também não
sei se é informação segura — alertou. — Soube que o relacionamento entre seu pai e sua mãe
foi artificial.
— “Artificial”?! Como assim? — questionei com a voz vacilante, o raciocínio me
escapando. Eu podia esperar tudo, menos aquela resposta.
— Dizem que seu pai vendeu... — Richard abaixou a cabeça, estranhamente temeroso.
— O que meu pai vendeu? — Meu coração batia muito rápido agora.
— A alma, Nina — confessou e suas pupilas momentaneamente verticais me fizeram
congelar. Richard foi direto ao X da questão: — Dizem que ele vendeu a própria alma a
Malazar para poder ter um contato físico mais íntimo com a sua mãe.
— Malazar?! O demônio? — indaguei atordoada, forçando-me a recordar as explicações
de Leila. Malazar era um dos dois filhos da maior divindade dos zirquinianos, e foi banido e
condenado a viver para sempre no inferno, ou Vértice. Tyron, seu pai, aplicou a terrível
sentença após descobrir as suas trapaças e malfeitos, mas, principalmente, pelo fato de
Malazar ter matado o próprio irmão, apunhalando-o pelas costas.
Cristo Deus! Foi a esse ser inescrupuloso que meu pai havia vendido sua alma?
— Então... Foi por isso que conseguiram me gerar. — Aquela constatação era como
ácido e corroía minhas crenças e linha do raciocínio.
— Mas pode ser mentira, Nina. Meu povo é mestre em semear discórdia.
— Meu pai não amava minha mãe... — As palavras despencaram da minha boca.
— C-claro que amava! — ele titubeou e sua resposta sem convicção fez meu mundo
girar.
— Se ele a amasse não precisaria vender a alma para possuí-la — balbuciei derrotada.
— Não! Quero dizer... E-Eu não sei, Tesouro.
Fechei os olhos e segurei a breve tontura que abalou perigosamente os pilares das
minhas poucas verdades.
— Nina?! — Richard segurou meus braços, preocupado.
— Eu estou bem — menti e, reabrindo os olhos, liberei as palavras que
irremediavelmente me rasgariam por dentro. Minha mente sangrava. Meu coração sangrava.
Minha alma sangrava. — Nunca houve amor entre eles.
— Não diga isso! — Richard arfava agora. — Seu nascimento permanece uma charada a
ser desvendada, mas não significa que eles não nutriam bons sentimentos um pelo outro.
Uma charada...
Dúvidas arrasadoras avançavam sobre meu espírito atormentado. E se eu nunca fui o
fruto de um amor impossível entre duas espécies distintas, mas sim o produto de um desejo
doentio e avassalador? Seria eu o vírus da morte, a semente de uma negociação
amaldiçoada? Teria meu pai realmente amado minha mãe em algum momento ou apenas
desejava usufruir seu corpo? Stela foi enganada ou havia compactuado do terrível acordo?
Teria ela sido capaz de fazer uma loucura desse nível? Seria por isso que nunca falou sobre
ele ou sobre seu passado? Por vergonha?
— A história do suicídio do meu pai é outra grande mentira — afirmei, juntando as peças
do quebra-cabeça.
— É o que parece — Richard assentiu em baixo tom. — Malazar cobrou seu preço.
— Minha mãe sabia? — questionei apática.
— Sinto muito, mas não sei de mais nada. — A respiração acelerada de Richard
confirmava seu estado de tensão. Estava visivelmente arrependido por ter me contado a
verdade.
Pisquei algumas vezes e, sem reação, abracei os joelhos e me encolhi. Sentia-me vazia,
uma semente sem vida e completamente seca por dentro.
— Eu nunca devia ter nascido.
— Jamais diga isso, Nina. Jamais. — Richard segurou meus ombros com vontade e, a
seguir, abraçou meu corpo sem vida. — Você é o nosso milagre.
Isso eu tenho certeza de que não sou, foi o que eu quis dizer, mas não suportaria
continuar aquela conversa. Meu mundo fora novamente bombardeado e eu precisava, ainda
que cambaleante, reerguer-me, encontrar um caminho entre os destroços e ir adiante.
— Faça-me dormir, Rick. Por favor — pedi e me aninhei em seu peitoral, desesperada
em me livrar não apenas dos meus tormentos, mas de mim mesma, ainda que por apenas
poucas horas.
— Eu vou, Tesouro. Eu vou — ele me acalmava, apertando-me ainda mais contra si. Uma
nuvem nebulosa preencheu a penumbra e avançou pelos cantos da minha mente, deixando-me
em um agradável estado de torpor. Um sono pesado e em forma de noite escura abrandava
os danos nas chagas da minha esperança. Um bálsamo entorpecente. Uma voz distante, um
sonho em forma de sussurro, embrenhou-se em meus ouvidos enquanto embalava meu
espírito:
Eu sinto muito, Tesouro. Se pudesse ser diferente...
Perdoe-me por...

Oração do dia 15 Palavras para aumentar a autoconfiança.


Oração do dia 15
Palavras para aumentar a autoconfiança.
Neste momento, estou em comunhão com a força invisível. 
Deus e eu somos um. Por isso, tenho tudo que Deus tem. O meu socorro vem do senhor, que fez o céu e a terra. A força de Deus é também a minha força. Sou filho de Deus, herdeiro de tudo que ele possui. Deus é poder; portanto, eu também sou poder. Deus é sabedoria, que está em mim e me orienta em todas as situações.
Deus não conhece carência; por isso, eu também não a conheço. Deus é amor; por isso, meu coração é repleto de amor e caridade. Não existe um só desejo meu que Deus não concretize. O olhar de Deus zela até mesmo pelos pequeninos pardais. Então, é inconcebível que Deus não zele por nós. 
Estou exultante por tomar consciência da natureza divina latente em mim. Porque sei que estou junto com Deus, não temo infortúnio algum. Porque recebo suprimento inesgotável, jamais me vejo em situação de carência. Neste momento, o meu desejo foi concretizado; o meu desejo foi concretizado. Agradeço ao pai que sempre atende aos meus pedidos. 

Meditação diária (cecp) dia 15

Minhas forças aumentam pela comunhão mental

segunda-feira, 14 de maio de 2018

10 - Olhares Podem Matar: Protegendo-se do mau-olhado - DALET LAMED ALEF

10 - Olhares Podem Matar: Protegendo-se do mau-olhado - DALET LAMED ALEF
Os antigos mestres descrevem este Nome como sendo uma arma de guerra poderosa e invencível. 
Ele garante a vitória na batalha mais longa e importante da historia humana: a batalha contra o mau-olhado - nosso e dos outros.

REFLEXÂO:
Alguém que lance mau-olhado carrega em si o olho da força negativa destrutiva; por isso, é chamado de "destruidor do mundo" e é necessário proteger-se deste tipo de pessoa e não se aproximar para não ser prejudicado! - Zohar 1, p 68b
Os olhos possuem poderes incríveis.
O olho humano tem a capacidade de transmitir tanto energia positiva como negativa.
Define-se mau-olhado como os olhares negativos e ressentidos que recebemos de pessoas que nutrem sentimentos destrutivos em relação a nós. 
Os cabalistas atribuem grande parte dos infortúnios da vida cotidiana ao mau-olhado.
Da mesma forma, quando lançamos mau-olhado nos outros, criamos uma abertura maior dentro de nós, atraindo ainda mais olhares negativos e os efeitos prejudiciais que os acompanham.
Nossas defesas espirituais são enfraquecidas e ficamos mais vulneráveis. 
Assim, o mau-olhado traz prejuízo igual ao que o lança e ao que o recebe
AÇÂO:
  Seu próprio desejo de lançar mau-olhado nos outros diminui. 
Um escudo de energia positiva se forma em seu redor, oferecendo proteção contra olhares negativos, invejosos e intenções maldosas de outras pessoas.

MEDITE NESTAS LETRAS E VOCALIZE: Alad 
AÇÃO: Expresse claramente sua generosidade. Seu inimigo interno tentará te convencer de que você não tem tempo ou recursos suficientes para isto. Não de ouvidos a ele e realize a sua prática.



Seicho-No-Ie do Brasil - Mensagem Diária

Seicho-No-Ie do Brasil - Mensagem Diária
QUEM AMA NÃO VÊ DEFEITOS; CONTEMPLA A NATUREZA DIVINA QUE EXISTE POR TRÁS DELES.
 
Amar não consiste em ver os defeitos de uma pessoa e tentar corrigi-los, nem em tocar-lhe as feridas doloridas. Amar consiste em envolver ternamente as feridas dessa pessoa, contemplar com carinho a Imagem Verdadeira perfeita que existe por trás dos defeitos aparentes, e, afirmando o seu aspecto verdadeiro, mentalizar para que se desenvolva cada vez mais.