Moisés e Bilaam – Profetas e Magos
“Em Israel nunca houve um profeta como Moisés, mas entre as outras nações do mundo havia um, e era Bilaam. Não há ninguém como Moisés nos mundos superiores, e não há ninguém como Bilaam nos mundos inferiores (da Sefirot); o primeiro no aspecto de santidade e o segundo no aspecto da esquerda.” ~Zohar Balak 11:162
O mesmo poder, entretanto, Moisés era um justo enquanto Bilaam era ímpio e perverso.
Essa história inicia-se ainda antes do nascimento de Moisés.
O mago Bilaam havia sugerido ao faraó, como conselheiro, que afogasse todos os bebês israelitas do sexo masculino no Nilo, a fim de conter o aumento desse povo no Egito.
Havia mais dois conselheiro, sendo um deles Jetro, que foi contra o decreto, e Jó, que se absteve de votar (mais tarde, foi colocado à prova por não se pronunciar). Jetro acrescentou uma sugestão sobre a retirada de todos os israelitas do Egito, para que pudessem cumprir seu destino, e o faraó reagiu fortemente, retirando-o do conselho.
Por causa desse decreto, quando Moisés nasceu foi colocado nas águas do Nilo numa cesta de vime, que foi acompanhada por Miriam. A filha do faraó, que se banhava no rio, recolheu-o para cria-lo, e Miriam ofereceu-se para contratar uma ama de leite, que foi a própria mãe, Iocheved.
Criado na corte, o bebê foi notado por Bilaam, que reconheceu o perigo potencial em Moisés, e advertiu o soberano. Em virtude disso, a criança foi submetida a um teste, tendo sido ajudada pelo próprio arcanjo Gabriel a superá-lo.
Anos depois, ao sair do Egito, Moisés foi solicitado pela rainha da Etiópia a auxiliar na recuperação do trono de seu país, ocupado por Bilaam, depois de matar o rei.
Logo ao primeiro embate Moisés coloca Bilaam em fuga, e recupera a capital do país, onde permaneceu por vários anos, mas sem coabitar com a rainha.
“Bilaam costumava venerar a si mesmo... tudo o que dizia era verdadeiro, mas sua malícia dirigia o discurso para louvar a si mesmo de forma dissimulada, até que os ouvintes acreditassem que ele era o maior profeta do mundo.” (Zohar Balak 12:165)
Bilaam e o Burro
Na parashá Balak, já ao final do êxodo, Bilaam é chamado pelo rei Balak, de Moab, para amaldiçoar o povo.
Quando foi empreender a jornada, seu burro viu um anjo, mas o dono não foi capaz de enxergar nada até que o burro falasse com ele. Por que uma pessoa tão sábia não viu nada? Bilaam era ligado aos mundos inferiores ao nosso, um feiticeiro, cujo olhar só enxergava a si mesmo.
“Bilaam costumava venerar a si mesmo... tudo o que dizia era verdadeiro, mas sua malícia dirigia o discurso para louvar a si mesmo de forma dissimulada, até que os ouvintes acreditassem que ele era o maior profeta do mundo.” (Zohar Balak 12:165)
Entretanto, nessa oportunidade não chegou a encontrar-se diretamente com Moisés, e também não conseguiu amaldiçoar o povo, ao contrário: abençoou-o por três vezes!
Retirou-se, mas não sem antes aconselhar o rei a enviar as filhas de Moab e convidá-los para os sacrifícios à Baal-Peor. A sugestão de Bilaam revelou a fraqueza do povo, e trouxe novamente a idolatria.
“E acendeu-se o furor de Adonai contra Israel... e os que morreram da praga foram vinte e quatro mil.” (Números 25:3-9)
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Como podemos entender a diferença entre esses dois personagens, ambos reconhecidamente grandes profetas? Como isso se conecta com nossa experiência atual?
A resposta é clara e direta: Moisés e Bilaam existem dentro de nós, como arquétipos, e entender como Bilaam se tornou negativo pode nos ajudar a evitar essa armadilha.
Ou seja, não é o poder de cada um, mas a intenção que o move. Moisés o usava para proteger e compartilhar com seu rebanho, Bilaam o usava para o próprio engrandecimento.
Nossa alma veio para transformar nosso "receber só para nós" em "receber para compartilhar".
*(Tela de Rembrandt, 1626 - Bilaam e seu Asno)
Fernando Martins
