sexta-feira, 1 de junho de 2018

CAPÍTULO 31 - Não fuja

CAPÍTULO 31
Presa entre as garras do monstro, meus olhos instintivamente procuraram por Richard,
mas não o encontraram. A pilastra estava vazia.
Novo ganido ensurdecedor. O pescoço da fera envergava-se para trás e ela me soltava.
— Demônio maldito! — Esbravejando como um louco, Rick cravava repetidamente o
punhal que eu havia perdido no pescoço da besta, fazendo-a uivar de dor e sair de cima de
mim. O sangue que vertia dos cortes em seus braços confirmava que ele havia terminado de
rasgar as cordas à força para me salvar. A luta era apavorante e injusta. Richard era forte e
rápido, mas não conseguia ser páreo para o monstro gigantesco e apenas se defendia dos
ataques cada vez mais perigosos. O bicho soltou um rugido alto e, em uma investida precisa,
lançou-o a grande distância, fazendo seu corpo rolar pelo chão e desaparecer na névoa
acinzentada.
Sob pânico absurdo, meu corpo deu os primeiros sinais de reação e eu consegui me
arrastar e esconder. O animal ganiu outras vezes e, ao não me encontrar em meio à nuvem de
poeira, optou por partir em direção a um John completamente combalido. Alguns ruídos
fizeram a fera se distrair e desaparecer do meu campo de visão. Aproveitando-me do
momento, finquei as unhas na terra, suportei a dor que latejava em minha cabeça e pernas e
caminhei cambaleante em direção a John. Perdi o chão ao ver seu péssimo estado. Mesmo na
escuridão era possível identificar a palidez em sua pele e lábios. O sangue vertia em
abundância da grave ferida em seu abdome. Havia poucas cordas a cortar porque grande
parte delas tinha sido destruída durante o ataque da besta e ainda assim parecia uma tarefa
impossível devido ao meu estado de nervos e às lágrimas que jorravam de meus olhos.
— Você prometeu que nunca mais me abandonaria — sussurrei, não conseguindo
disfarçar meu estado de pavor.
— É o fim da linha pra mim, Nina — a voz fraca de John confirmava seu decadente
estado.
— Não! Vou levar você comigo!
— Perdoe-me, por favor. — Ele abriu um sorriso triste e uma ferida em meu coração. —
Eu fui tão estúpido e... Não consegui enxergar o óbvio porque...
— Depois, John — balbuciei sem conseguir conter a emoção em forma de dor que me
paralisava. Eu o puxava, mas ele simplesmente não saía do lugar. Ou era eu que não me
mexia? Minha mente girava, desorientada.
Outra despedida.
Eu estava perdendo John.
Minha existência o havia matado também.
— N-Não enxerguei porque estava cego pelo sentimento que nutro por você — sua voz
falhava e ele mal conseguia respirar.
— Não! — Chamas queimavam minha garganta. Encarando-o com desespero, solucei
alto e afundei o rosto na curva de seu ombro. Os espasmos não eram apenas do meu corpo.
Minha alma sofria.
— O que eu puder fazer para reparar meu erro, para que você volte para a sua
dimensão, eu vou...
— Então sobreviva — disse em meio ao pranto devastador. — Por favor, sobreviva,
John! Argh! — Um forte puxão e fui abruptamente arrancada de seus braços ensanguentados.
Quando dei por mim, nós éramos empurrados com violência para baixo e um vulto gigantesco
seguido de uma rajada de ar quente passava de raspão por nossos corpos. Um estrondo
atordoante explodiu em meus tímpanos e a pilastra de pedra desabou no chão ao nosso redor,
espatifando-se em milhares de pedaços. O corpo decrépito de John tombou imediatamente.
Sorrateira, a fera tinha atacado e só não havia nos aniquilado porque Richard se jogara sobre
nós.
— Não posso deixá-lo! Malazar vai matá-lo — soltei exasperada ao ver John se arrastar
pelo chão enquanto, atraída pelo cheiro de sangue, a sombra da besta avançava rapidamente
sobre ele. Carregando-me em seus braços, Richard me tirava dali de qualquer maneira.
— Porra! Eu já sei! — Rick tinha a testa lotada de vincos e, escaneando o lugar numa
fração de segundo, escondeu-me atrás de outra pilastra de pedra. — Não saia daqui! Ouviu
bem? — ordenou e, sem pestanejar, saiu em disparada. Surgindo repentinamente atrás do
monstro, Rick começou a atirar pedras, gritar e gesticular, chamando-o para si. O animal
interrompeu o ataque a John e se voltou para ele.
— Fuja, John! — Richard ordenou aos berros.
— Não dá mais — John ofegava. — Não consigo...
— Droga! — Rick bradou nervoso ao ver a fera surgir gigantesca na sua frente e desatou
a correr como um louco em direção contrária.
Ambos eram inteligentes e cada um se utilizava dos seus sentidos mais apurados. Assim,
enquanto Rick tinha a vantagem da visão e de poder se esquivar com agilidade, a fera cega
equilibrava a luta utilizando-se da sua incrível audição e força. Richard se embrenhava em
áreas de difícil acesso e, por vezes, ficava imóvel. Alterando sua rota, ele gradativamente ia
se aproximando de John. Não sei se foi isso que dificultou sua localização, mas o fato é que a
fera mudou seu curso e desapareceu na bruma fantasmagórica.
— Volte! Você precisa salvá-la! — John arfou alto ao vê-lo se aproximar.
— Venha! — Rick não lhe deu atenção, ajudando-o a colocar os braços em suas costas.
— Por que está fazendo isso por mim? — John o indagava petrificado. Rick apenas
lançou-lhe um olhar sombrio. — E-Eu não quis... Obrigad... — A ferida no abdome de John
voltou a sangrar, seu rosto se deformou e ele perdeu a consciência. Richard praguejou e,
visivelmente agitado, jogou o corpo desacordado de John sobre o ombro e correu para uma
das laterais da grande arena.
— Leve Nina e deixe John comigo, Rick! Eu distraio a fera! — Shakur o interceptava,
surgindo inesperadamente ao seu lado.
Richard franziu a testa com força, mas assentiu.
— Aguente firme, ok? — A reação preocupada de Richard me emocionou. Era um pedido
de filho para pai.
— Vou tentar — o líder de negro suspirou alto, olhou uma última vez para mim e me
lançou um sorriso triste. — Proteja-a com a própria vida, Rick. Prometa-me.
Ah, não! Aquilo era... Outra despedida?!
— Eu prometo — Richard fez um mínimo movimento de cabeça e ajeitou o punhal na
mão.
— Pai, não... — arfei sem força ao vê-lo desaparecer pela bruma com o corpo decrépito
de John. O calafrio maldito se espalhava novamente pela minha pele.
— Rápido, Nina! Vamos para o portal! — Rick me puxava com urgência, resgatando-me
do estado de choque. Corremos acelerados até a base do grande rochedo feito de cristais
reluzentes. — Eu dou cobertura enquanto você sobe.
— Não adianta! Não vou deixar meu pai. Eu não vou sem você! — grunhi, tentando
camuflar o choro preso em minha garganta.
Richard travou no lugar, arregalou os enormes olhos azuis e engoliu em seco, perplexo
com o peso das minhas palavras e da súbita decisão. Atordoado, balançava a cabeça
enquanto checava qualquer sinal da fera.
— Sem você, nada do que passei valeu a pena, Rick! — soltei em golfadas.
— Não compreende, minha linda tolinha? Já valeu a pena — ele arfou e o peso da
emoção deixou sua voz rouca.
Foi o suficiente para que eu me jogasse em seus braços feridos e afundasse o rosto em
seu peitoral de aço. Ele retribuiu meu abraço, apertando-me com força contra seu corpo febril,
mas seu semblante era de angústia.
— Richard eu...
— Abaixe-se! — berrou nervoso.
Subitamente, o bico voraz da besta passara como um torpedo por cima de nossas
cabeças e se encravara num emaranhado de rochas brilhantes atrás de nós. A bruma
traiçoeira servira de disfarce para que a fera nos alcançasse sorrateira e com absurda
rapidez. Enquanto o animal dava pancadas com a cauda tentando remover seu bico preso, nós
subíamos o paredão. A força descomunal das batidas nervosas do animal fez com que
inúmeras pedras começassem a rolar montanha abaixo. Richard me guiou para um platô na
parte intermediária do grande rochedo reluzente.
— Conseguimos! A besta não conseguirá alcançá-la aqui em cima e, mesmo que se solte
e assuma outro disfarce, vai precisar de tempo — soltou, mas não havia satisfação em seu
tom de voz. — Eu vou distrair o bicho enquanto você corre para o portal! Que Tyron a proteja!
Com a face deformada por um véu de angústia, ele beijou minha boca e me lançou um
olhar impregnado de tristeza. Eu reconhecia aquela expressão. Era o mesmo olhar de Stela
quando estava sob os escombros do teatro ou nos braços de Ismael. Era o olhar da
despedida. Richard sabia que era a nossa última vez juntos. Ele sabia que era o momento da
sua partida. Desmoronei no lugar. Todas as células do meu corpo estavam se desintegrando
em um rio de sangue, dor e impotência.
— Não! — soltei um choro afônico ao agarrá-lo com desespero. — Não, Rick! Não vá!
Por favor, não vá! Não me deixe!
Tentando se libertar, o animal se debatia abaixo de nós e, ainda assim, pouca
importância ele tinha diante do que acontecia naquele instante. Eu não podia perdê-lo. Rick
não podia morrer.
— Eu nunca vou deixar você, Tesouro — sussurrou em meu ouvido. — Você sempre
estará dentro de mim. Para onde quer que eu vá, vou carregar você dentro do peito. Tudo que
faço é porque sempre te amei demais. Nunca se esqueça disso.
— Rick, não! — implorei sem conseguir soltá-lo. Os nós esbranquiçados dos meus dedos
queimavam.
— Prometa-me que não olhará para trás em hipótese alguma. Prometa-me que não vai
voltar.
— Não!
— Prometa-me, Nina! — ordenou nervoso.
— Rick, vem comigo.
— Não faça isso comigo, Tesouro. Você sabe que eu não posso. Já está difícil demais
deixar você ir — ele arfou ainda mais alto e o azul dos seus olhos brilhou com uma intensidade
que eu nunca presenciei antes. O que estava diferente nele?
— Mas a gente conseguiu. Nós quebramos a maldita lenda! — rebati nervosa. Utilizava
todos os argumentos que minha mente em frangalhos permitia.
— E-eu sei, meu tesouro — gaguejou emocionado. — Eu sei — Richard me puxou para
junto de si e, abraçando-me com vontade arrebatadora, desatou a beijar minha testa. Minha
pulsação deu um pico ao ver sua testa franzir, suas narinas se dilatarem e seu maxilar tremer.
— Se você não pode me acompanhar, então não me peça para nunca mais voltar —
solucei em desespero, lágrimas ardentes embaralhavam minha visão. — A noite de ontem foi a
melhor da minha vida, Rick.
— A minha também — gemeu e sua voz saiu arranhando de tão fraca. — Não entende?
Eu já ganhei muito além do que poderia imaginar. Tyron me presenteou com a maior de todas
as graças que um zirquiniano poderia receber: os bons sentimentos humanos! Pude conhecer o
famoso amor, experimentá-lo em meu corpo e espírito.
— Mas não precisa acabar aqui e agora, droga! Você pode vir comigo!
Richard fechou os olhos, como se sentisse profunda dor, e, checando o monstro a cada
instante, afastou-se de mim. O animal começava a mostrar os primeiros sinais de sucesso.
Parte do bico já estava exposto e faltava pouco para se libertar completamente.
— Não posso fazer isso, Tesouro. Pertencemos a mundos diferentes. Por mais que
tentássemos nos enganar, nós sempre soubemos que não haveria um futuro onde ficaríamos
juntos. Se minha dimensão sobreviver a Malazar, ainda assim nossas vidas caminharão como
duas linhas paralelas. É como tinha de ser desde o início. Não se esqueça de que eu sou a
sua morte, Nina. No curso natural da vida, nosso encontro seria no dia da sua partida. E, no
que depender de mim, quero que você viva por muitos anos, meu amor.
— Por que diz isso agora? O que está me escondendo?
— Preste atenção, Nina. Eu não sei o que acontecerá com essa dimensão! — rebateu
ainda mais tenso. — Zyrk é um plano que surgiu a partir de uma maldição e, em questão de
horas, poderá ser extinto com ela. Malazar saiu de sua prisão de milhares de anos e eu não
posso simplesmente dar as costas ao meu povo e fugir. Eu sou um guerreiro de Thron e vou
lutar até o fim. Partirei com honra.
— Mas...
— Mas a segunda dimensão ainda tem uma chance de sobreviver e só depende das suas
ações. Você precisa atravessar aquele portal — ele me interrompeu. — São bilhões de
pessoas, Nina. Você não pode falhar. Prometa-me, por favor.
Bilhões de pessoas...
Entendimento e frustração fizeram minha cabeça tombar sobre o ombro e, naquela
fração de segundo, minha mente vagou, perdida em lugares distantes, rostos felizes e cheios
de vida. Vislumbrei as praias deslumbrantes do Rio de Janeiro, os canais de Amsterdã, o
fervilhar da Times Square, a beleza exuberante dos desertos da Tunísia e, em todos esses
lugares, recordei-me de ter me deparado com sorrisos gentis, de crianças nascendo e idosos
morrendo. Vidas que seguiam seu curso normal na certeza de um novo amanhã. Onde nascer
e morrer seriam consequências naturais de uma existência, sem lendas ou maldições.
— Eu prometo — murmurei sem forças no exato momento em que um estrondo altíssimo
rompia a nossa bolha e arruinava definitivamente os meus sonhos.
Liberto, o monstro uivava aos quatro ventos e fazia questão que ouvíssemos sua
assustadora britadeira de dentes, chocando-os violentamente uns contra os outros. Nervoso
de tanto esticar o pescoço e não conseguir nos alcançar, o animal ganiu com fúria assassina e
acelerou em direção a Shakur e John. Meu coração apertou no peito.
— Preciso ajudá-los. Vá, Tesouro! E não olhe para trás. — Com a respiração
entrecortada, Richard se aproximou e me abraçou uma última vez. Senti o tremor de seu corpo
febril na minha própria pele. — Eu te amo — finalizou, lançando-me novo sorriso triste. No
instante seguinte ele descia a montanha em velocidade máxima, indo em direção aos demais
zirquinianos. Estremeci ao vê-lo chamar a atenção do monstro. Ele usaria a única moeda de
troca que interessaria àquela besta infernal: a própria vida.
O animal nem teve tempo para decidir quem atacaria primeiro. Richard despontava bem
na sua frente, enfrentando-o como um louco, um suicida. Obriguei-me a virar o rosto e não
olhar. Era hora de agir. Respirei fundo e finalmente obedeci aos dois — a Richard e à voz da
razão que insistentemente buzinava em minha cabeça — e desatei a subir pelas pedras que
brilhavam naquele escuro infernal.
Voltar para a segunda dimensão!
Meu coração acelerou com o súbito pensamento e, por um breve momento, meu corpo
vibrou com a ideia de abrir o portal para minha antiga dimensão e desaparecer dentro dela.
Sair daquele horror, do pesadelo em que fora arremessada há dois meses, e voltar a ter uma
vida. Não uma vida normal porque já havia desistido disso, mas, ao menos, tentar viver e não
apenas sobreviver. Não havia como recuperar meu passado, mas ao menos tentaria refazer
meu futuro. Dei atenção à voz que a cada dia ganhava força e ordenava que eu saísse logo
dali, a voz que afirmava que todas as minhas perdas haviam sido por um nobre motivo, que eu
pouparia a segunda dimensão e seus habitantes de uma terrível catástrofe, que honraria a
morte da minha mãe, de Tom e de John, que reestruturaria minha vida e verdades e,
principalmente, reconstruiria meu futuro arruinado.
Perdi o ar e paralisei com um novo grito de dor. Era de Shakur. Eu não vou olhar para
trás. Não posso olhar. Novo grito. Agora de pavor. E era de Richard. Foco, Nina. Você deve
continuar. Você lhe prometeu que não desistiria, que não voltaria, que... Novos ganidos de
triunfo.
Segurei a tonteira que ameaçou me desmoronar e vi o filme da minha vida passar
acelerado em minha mente perturbada. Outra voz, inicialmente tímida, ganhava espaço. Ela
me obrigava a compreender que eu podia não ter surgido da semente da paixão entre duas
pessoas, mas que eu era o fruto do amor, o produto construído da dedicação e abnegação. A
prova contundente de que um sentimento maior é capaz de aflorar das situações mais incertas,
capaz de transformar fel em bem-querer, morte em vida. Tantas pessoas me amaram, as mais
improváveis delas deram suas vidas pela minha. E todas elas afirmaram que eu era um milagre
e não uma maldição. A voz insistia em afirmar que eu não poderia me dar ao luxo de
simplesmente desistir ou fugir, que eu não havia perdido minha mãe em vão. Stela sempre
soube do meu valor e por isso lutou por mim até o dia em que eu mesma poderia arregaçar as
mangas e guerrear pelo meu mundo, por mim mesma. Híbrida ou não, meu futuro ainda estava
em construção. Só dependia de mim e de minhas ações, dos caminhos que tomaria. De mãos
dadas a uma parte dentro de mim, ela alertava que eu não poderia me acovardar e que aquele
momento era o decisivo, qualquer que fosse o percurso que desejasse tomar: viver em fuga ou
morrer lutando. A voz acreditava em mim, no dom que eu supostamente vinha carregando em
meu espírito e células desde o momento em que fui concebida.
Rechacei essa nova voz da cabeça e, escalando as pedras sem olhar para trás, tentava
a todo custo me manter concentrada em minhas passadas e destino. Obrigava-me a
permanecer indiferente aos ganidos da besta e berros nervosos de Samantha e de Richard. O
pavor em tomar conhecimento no que estava acontecendo naquele exato momento fez o
conflito voltar a se agigantar dentro do meu peito. Eu havia feito uma promessa a Richard. Não
podia voltar atrás. Tentava me convencer a todo custo de que estava perto de conseguir, bem
perto do portal e da segunda dimensão. Do lugar que cheguei a achar que um dia foi meu, que
me pertenceu. Do lugar de onde minha mãe não queria que eu saísse. Estava perto de voltar a
ser uma garota “quase” comum, bem perto de ter uma vida “quase” normal, com um futuro
“quase” promissor e talvez com um “quase” novo amor. Era só não olhar para trás, era só não
me despedir...
DROGA! DROGA! DROGA!
Eu precisava olhar! Tudo que eu mais queria estava atrás de mim e não à minha frente!
Lá estavam as pessoas que, ditas insensíveis e amaldiçoadas, entregaram suas vidas pela
minha e ainda lutavam para me manter viva: Shakur, John, Richard! Foi graças ao meu
estranho dom que topei com os olhos azuis-turquesa mais deslumbrantes desta ou de qualquer
outra dimensão. Saber que ele cometeu todas as loucuras por mim não só me comprimia o
peito de culpa e remorso, mas o inflava de felicidade. Ele me amava! Eu o amava. E nossos
corpos se completavam, perfeitos, lindos, únicos. Eu ia lutar com todas as minhas forças para
sobreviver, mas, se morresse, já teria valido a pena. Toda a jornada. Tudo.
— Que se dane este portal!
Então tudo aconteceu.
Imprevisível.
Novamente.

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