quinta-feira, 31 de maio de 2018

52 - Paixão: Despertando o anseio em seu coração - MEM MEM AYIN

 


52 - Paixão: Despertando o anseio em seu coração - MEM MEM AYIN Para despertar de verdade o poder da oração, precisamos antes de um fogo ardendo em nossos próprios corações.
 
REFLEXÂO: Conta-se a história de um senhor idoso que não sabia ler nem escrever.
Ele queria desesperadamente oferecer ao Criador uma oração de gratidão, contida num livro sagrado de rezas, mas não conseguia ler as palavras escritas nas páginas.
No entanto, seu desejo de se conectar com seu Criador era grande, então ele começou a recitar o alfabeto.
Implorou ao Criador para que arrumasse as letras em suas seqüências adequadas, formando as palavras das orações.

Um homem extremamente religioso que passava escutou o senhor idoso recitando o alfabeto.
Ele riu da estupidez da oração do homem e, naquele instante, os portões do céu se fecharam para sempre para as orações do religioso.
Na verdade, os anjos dançavam com alegria enquanto a oração simples e sincera do ancião subia para o Mundo Superior.
O senhor idoso tinha iluminado o céu com os anseios de seu coração.
AÇÂO:Este nome atiça o fogo da paixão em seu coração e em sua alma.
Estas letras lhes dão o poder de manter sinceridade, a devoção e a consciência correta em suas orações, em suas meditações e em suas conexões espirituais.

Seicho-No-Ie do Brasil - Mensagem Diária

Seicho-No-Ie do Brasil - Mensagem Diária
AGORA É O MOMENTO PROPÍCIO; AGORA É A OPORTUNIDADE. 
Não fique vagando ora para um lado, ora para outro, em busca de uma “boa oportunidade”. Você é “filho de Deus”. Para um “filho de Deus”, todos os lugares e todas as ocasiões são boas oportunidades para o autodesenvolvimento. Agora é o momento. Uma situação difícil constitui o “esmeril” que irá burilar a sua pessoa
 

31º Dia do Mês - Exercicios de meditação

31º Dia do Mês
1. No dia 31 do mês, o foque em áreas separadas de cada cena. Veja, por exemplo,
está a crescer num lote uma árvore. Perceba que debaixo dela tem terra e sobre ela e
sobre os lados, tem ar. Todas estas áreas diferentes juntas em sua mente, para que você
possa vê-las em toda a reprodução do eterno da vida. A vida é eterna. Você tem que
perceber isso. Tenha isso em mente, observando o mundo ao nosso redor, a sensação de
que o resolveu. Venha e sensibilize-se para esta verdade em você, sim, é a vida eterna!


2. Dígitos para Concentração
* Concentre-se intensamente na sequência de sete números: 1532106
* Concentre-se intensamente na sequência de nove números: 185 214 321


3. Concentre nesse dia em si próprio. Você está totalmente saudável, e todos ao seu
redor estão saudáveis. E o mundo é eterno. E todos os eventos são criativos. E todos nós
só podemos ver em uma luz positiva. E em todos os lugares é sempre uma vantagem.
Para esses exercícios, eu gostaria de fazer mais um comentário. Mais uma vez, que você
mesmo determine o nível de concentração e duração. Você também deve decidir que
o resultado é atualmente o mais importante para você, por que deve esforçar-se em
primeiro lugar. Se você tem um resultado específico para cada nomeação, em seguida,
colocou-o no momento, a meta estabelecida pela concentração e chegou. Lembre-se,
este exercício é criativo. Eles estão construindo. Com estas concentrações, faz crescer
espiritualmente, e esta por sua vez ajuda todas estas concentrações em um nível superior
que pode fornecer o desenvolvimento ainda maior e assim por diante. Este processo é
interminável. Logo você vai descobrir que sua vida mudará para melhor, apesar de ser
preciso, eu tenho a dizer é que você começou, ele começou a gradualmente assumir o
controle de sua vida na sua mão. Estas práticas contribuem para o desenvolvimento da
consciência, tornando o desenvolvimento de eventos em sua vida em uma direção
positiva, a obtenção de plena saúde e harmonia com o pulso do universo

124 - Louise Hay

124- “Meu corpo dedica-se da melhor forma possível a criar uma saúde perfeita.”

CAPÍTULO 30 - Não fuja

CAPÍTULO 30-
Parecia um filme de terror com requintes mórbidos. Enquanto eu caía em uma queda
infinita, a película da realidade se desmanchava ao meu redor e começava a definir um cenário
de pavor, conflito e destruição. A luz se fora e meu corpo mergulhava com velocidade dentro
de um mar de névoa quente e escura.
Malazar gargalhou alto mais uma vez.
Foquei minha visão e, acima de mim, a simpática casinha de tijolos brancos e marrons se
desintegrava em labaredas de fogo e se transformava nos imensos cristais das Dunas de
Vento. Antes disso, no entanto, ela rodopiou em torno do próprio eixo e as duas portas
espelhadas trocaram de posição com perfeição.
A inimaginável descoberta me fez sufocar com o próprio ar.
Como não fui capaz de perceber a maldita farsa?
Agora estava tudo tão óbvio! As peças se encaixavam: a tonteira momentânea que senti
quando entrei na pequena casa; a mesa branca bem no meio do ambiente e o vaso
centralizado sobre ela que serviriam como um proposital ponto de referência; a atmosfera
branca e ofuscante e as portas espelhadas de frente uma para a outra.
Tudo fazia parte de um jogo!
De fato, um truque simples, de mestre! Em uma fração de segundo, Malazar havia feito o
chão da casa girar cento e oitenta graus em torno do próprio eixo quando coloquei os pés
dentro dela, mas mantivera seu centro imóvel, de forma que o vaso e a flor não se mexeriam
e, consequentemente, não despertariam as minhas suspeitas. Eu pensaria, como de fato
aconteceu, que tinha sofrido uma simples tontura. Só que, a partir daquele momento, todas as
posições tinham sido alteradas!
Malazar havia trocado as portas espelhadas de lugar e, sem que eu percebesse, ele
havia colocado a vertente de saída de Chawmin atrás de mim e a porta pela qual eu havia
entrado à minha frente!
Durante todo o seu teatro, ele ardilosamente apontava e pedia para que eu abrisse a
porta errada! Aquela era a vertente de entrada de Chawmin e não a de saída, como me fez
acreditar. Astuto, ele já havia me estudado. Sempre soube que eu não a abriria por vontade
própria. Toda a conversa tinha sido pura encenação. A verdadeira porta de saída estava atrás
de mim o tempo todo e não à minha frente. Além disso, minhas suspeitas acabavam de se
confirmar: sua catacumba nunca pertenceu ao Vértice! Ela estava dentro da terceira dimensão,
em uma pequena área dentro das Dunas de Vento!
Contra a minha vontade, eu havia feito exatamente o que o diabo planejara: eu tinha
aberto Chawmin, liberado Malazar, e acabava de decretar o extermínio da segunda e da
terceira dimensões!
Refutei a palavra “amaldiçoada” para longe da minha mente e não permiti meu espírito
ser assolado pelo sentimento de culpa. Caindo ainda mais rápido, forcei meu raciocínio ao
extremo, buscando com todas as minhas forças encontrar uma solução, uma saída
minimamente razoável para todo aquele horror.
Malazar se lançava no ar, vitorioso, seguido de perto por um exército de espectros
agonizantes.
Céus! Aqueles eram os Umbris?!
As almas atormentadas tinham a aparência cadavérica e uivavam ainda mais alto do que
as raivosas rajadas de vento. O demônio, apesar da pele vermelha e órbitas completamente
negras, ainda mantinha seu disfarce humano e, com um sorriso triunfal, acelerou seu voo em
minha direção.
— Argh! — Por sorte, meu corpo se chocou contra um amontoado de terra na base da
montanha e rolou com velocidade a parte final da descida, esfolando rosto, mãos, braços e
pernas. Quando o mundo parou de girar, respirei aliviada ao perceber que não havia quebrado
nenhum osso.
Mas agora era a minha razão que rodopiava.
O vento violento das dunas cessou e, de repente, escutei bramidos de cólera, berros de
dor, relinchar de cavalos e tilintar de espadas. A noite era escura. O lúgubre ambiente era
iluminado apenas pelas tochas e a claridade dos espectros. Novo baque: a grande névoa ao
redor da arena havia desaparecido e, em seu lugar, presenciei uma sangrenta batalha entre os
zirquinianos dos quatro clãs e suas sombras.
Ah, não! O caos já havia começado! Zyrk estava em guerra!
A multidão de pessoas maltrapilhas avançava sobre os exércitos dos clãs, que, apesar
de superiores em armas e preparo, eram em número bem menor e iam tendo baixas
expressivas. A força dos magos era colocada à prova e, a julgar pelo que acontecia bem
diante dos meus olhos, sua magia não suportaria aquele ataque por muito tempo. Os soldados
de branco do Grande Conselho recuavam. As sombras miseráveis, os filhos desprezados de
Zyrk, estavam ganhando a guerra, assim como Guimlel previra.
Novo estrondo altíssimo, e a terra tremeu com violência. A multidão de zirquinianos
congelou em choque, deixando punhais, espadas e outras armas paralisarem no ar. Só agora
eles foram capazes de enxergar a chegada de Malazar e de seus Umbris.
— Protejam a híbrida!— Era a voz de Sertolin dando comando enérgico aos magos que
se encontravam dentro da arena.
Em meio ao caos, muitos zirquinianos não conseguiram abandonar o lugar e fugir, sendo
cercados pelos Umbris. Os espectros demoníacos avançaram sobre as pobres vítimas e,
brigando entre si pelos pedaços das suas almas, arrancavam pele, membros e olhos,
drenando o elixir da vida enquanto torturavam seus corpos. Eles não tentaram atacar os cinco
condenados, provavelmente por se tratarem das oferendas de seu líder.
— Não estamos conseguindo! — berrou Braham nervoso à medida que ele e seu
grupamento de magos eram subitamente repelidos da arena. — Há uma energia poderosa nos
afastando da catacumba!
— Raça repugnante! — bramia Malazar. — Vou aniquilá-la assim que sair daqui!
— Isso não vai acontecer, maldito! — rebateu o pequenino Sertolin. —Não conseguirá
ultrapassar a barreira mágica!
— Será mesmo? — Malazar desdenhou em tom desafiador.
— Seus poderes são limitados aí dentro! — Apesar de manter a postura irredutível,
Sertolin não conseguiu camuflar o semblante de preocupação.
— Ah! Esse detalhe... — O demônio parecia se divertir com a situação.
— Nina, você tem que sobreviver. Tente retornar ao portal. Nele há também uma
passagem para a segunda dimensão que é bloqueada para os zirquinianos — Uma voz
telepática sussurrou em meus ouvidos, pegando-me de surpresa. Tinha a entonação diferente,
mas eu sabia a quem ela pertencia: Shakur!
— Eu não vou fugir dessa vez — pensei determinada.
— Não entende, Nina? Só você pode desequilibrar esse duelo de forças místicas. Tudo
faz parte de um jogo diabólico. Não existem oferendas. Você é a grande oferenda! A lenda
diz que Malazar precisa sair desta catacumba antes no nascer do sol, caso contrário será
novamente encarcerado no Vértice. Mas, para conseguir isso, ele terá que se despir de seus
disfarces, assumindo sua verdadeira identidade, e se apossar da sua poderosa energia. Ele
precisará te matar — alertava-me Shakur em pensamento.
— Quem disse isso? — bradou Malazar com espanto.
Droga! Ele havia escutado também!
— É um novo truque, Guimlel? — O demônio checava o lugar com a fisionomia perigosa.
— Gostou? — A voz em forma de tornado de Guimlel assumia o ato em alto e bom som.
— Muito. Aproxime-se, Guimlel.
— Não.
— Está se escondendo de mim, mago? — atiçou Satanás. — Não consigo enxergá-lo em
meio a essa multidão de mendigos.
— Mas eu o vejo perfeitamente. Aliás, enxergo mais do que isso. Agora tenho certeza de
que seus poderes aí dentro são irrisórios — a voz atrevida de Guimlel o enfrentava.
— Você quer jogar? — Malazar trovejou num misto de cólera e desafio e caminhou
lentamente até parar em frente à linha branca cintilante delimitada no chão da catacumba, mas
não ousou ultrapassá-la. — Ótimo! Porque é o que faço de melhor!
De costas para mim, o demônio soltou um ruído gutural, curvou o corpo para a frente e,
subitamente, jogou os braços para cima, esticando-os ao máximo.
— Cada um de vocês pagará pelos meus milhares de anos de exílio! Assistirão a uma
pequena amostra do que acontecerá com todos dessa dimensão maldita!
Então a mágica do horror aconteceu: a boca de Malazar abriu, assumindo proporções
assustadoras, e, no instante seguinte, os Umbris eram sugados, um a um, para dentro dela.
Os braços e pernas de Malazar se alongaram, a pele vermelho vivo escureceu e ganhou
escamas brilhantes e afiadas. Meu punhal dourado caiu aos seus pés quando o terno branco
deu lugar a um corpo monstruoso. Num piscar de olhos, escutei os uivos altíssimos do vento,
que ganharam um tom demoníaco quando suas rajadas ficaram abafadas, ininterruptas e com
forte odor pútrido. Os berros de pânico que apunhalavam meus ouvidos subitamente
desapareceram, como se tivessem sido propositalmente desligados. Quando a ventania
cessou, todas as tochas estavam apagadas e, dentro do oceano de escuridão e silêncio
absoluto, uma bruma fantasmagórica espalhava-se sorrateiramente.
Contraí as mãos e, quando dei por mim, esmagava o caco remanescente do vaso entre
os dedos. As feridas queimaram em minha pele e acordaram minha coragem e raciocínio.
Eu ia libertá-los!
O chão tornou a vibrar e arrepiei por inteira quando uma lufada de um vento quente e
mofado percorreu meu corpo. Tentei me afastar, dando passos lentos e meticulosos em
sentido contrário, mas minhas pernas paralisaram e meu cérebro entrou em estado de choque
ao escutar um uivo ensurdecedor seguido de um gemido abafado de pânico.
A bruma se dissipou em alguns pontos, eu me virei e entendi. Saindo lentamente por
detrás da melroada névoa, um titânico monstro de mais de cinco metros de altura guinchava
alto, jogando a cabeça de um lado para o outro sem parar. Seu surgimento aos poucos era
digno dos mais rebuscados filmes de terror. Com o corpo musculoso, andar cadenciado de um
felino e o dorso coberto por grossas escamas, sua cauda assemelhava-se à de um escorpião
e sua cabeça imensa parecia a de um abutre deformado, como se tivesse sido queimado vivo.
O mais assustador ainda estava por ser evidenciado. Ao dar seu ganido de advertência, o
animal abriu seu bico gigantesco e revelou o improvável: ele tinha enormes e afiados dentes,
completamente desalinhados, num emaranhado complexo como em uma descomunal
armadilha. Na verdade eles eram perfeitos para o seu intento: dilacerar e matar. Mordi os
lábios e meu estômago embrulhou ao identificar o corpo que vinha agarrado em suas garras
afiadas: era de Tom!
Não permitiria que a morte de Tom fosse em vão. Estava determinada a reparar de
alguma forma o mal que a minha existência havia causado àquela dimensão e a todos que me
estimaram. Eu não tinha culpa de que em minhas veias corresse o sangue daquela besta.
Nelas também havia o sangue do amor puro e desmedido de minha mãe. E, dentro do meu
peito, era meu coração quem bombeava esse sangue e definiria qual parte prevaleceria. O
mesmo coração que pulsava em gratidão pelas pessoas que, naquele momento, estavam
dando suas vidas para me salvar. O maior de todos os atos de amor.
Novo ganido me fez identificar pela pior maneira de onde vinha o cheiro de ferro que havia
sentido anteriormente: escorria sangue e uma grossa saliva por entre os caninos da fera. Ela
parou de uivar e se aproximou de onde eu estava com passadas lentas e hesitantes. A
estranha atitude me fez perceber um detalhe fundamental: suas córneas eram esbranquiçadas,
quase translúcidas. O animal era cego! Vibrei por um mísero momento, recordando-me em
seguida de que, quando a natureza nos priva de um sentido, ela aguça os demais. Nesse caso,
o olfato e a audição da besta deviam ser extremamente apurados. E, de fato, eram. Uma
pedrinha estalou sob as minhas sandálias e instantaneamente o monstro girou a cabeça na
minha direção. Fiquei imóvel, aflita com a espera interminável, até escutar um soluço abafado
às minhas costas.
Samantha?
No instante seguinte o chão tremeu com força e a fera passou como um raio por mim,
como se eu não estivesse ali, ganindo e avançando com o bico aberto em direção à pilastra
onde a loura estava amarrada. Ela ia matá-la!
Se era a mim que Malazar precisava matar, por que foi em direção à Samantha? Teria
sido pura sorte ou o animal não foi capaz de me sentir?
— Não! — berrei alto, chamando a atenção do monstro para mim e interrompendo seu
ataque. Samantha me encarava com os olhos arregalados quando desatei a correr em direção
contrária. A fera enfurecida girava a cabeça de um lado para o outro e, arrastando a garra no
chão, levantou uma nuvem claustrofóbica de poeira ao redor. Um plano bem arquitetado: o
monstro encontrara um jeito de dificultar a fuga de sua vítima. No caso, eu. Meus olhos ardiam
e, tateando o ar, corri o mais rápido que pude em sentido contrário.
— Você consegue me ouvir, não consegue? — indaguei acelerada por meio do
pensamento a Shakur.
— Sim, Pequenina — respondeu ele em minha mente.
— Caso eu consiga sobreviver, o que acontecerá com Zyrk depois que eu retornar à
segunda dimensão? — Não daria nomes, pois sabia que Malazar estaria nos escutando.
— Não sei. Esse é o grande mistério, Nina.
— Mas...
— Mas você terá ao menos poupado a segunda dimensão e derrotado Malazar,
encarcerando-o novamente no Vértice — Shakur me interrompia acelerado.
— Eu vou sobreviver e vou voltar para a segunda dimensão, mas só farei isso depois
de libertá-los. Então é bom você me dizer onde está.
— Eu já imaginava essa resposta — escutei seu murmurar telepático e sorri
intimamente. Havia mais orgulho em seu tom de voz do que reprovação. — Concentre-se no
som da minha respiração. Caminhe em silêncio pela penumbra e não pela poeira. A besta
está ficando nervosa. Além de cega, ela também não consegue captar a sua essência dentro
da catacumba. — E, após um segundo de hesitação, acrescentou: — Não tenho mais como
ajudar. Minhas forças acabaram, Pequenina.
— Eu sei, pai.
— Pai?! — estupefata, a voz grave de Malazar retumbava pela Catacumba e
bombardeava meus tímpanos. — Eu ouvi errado ou você disse mesmo essa palavra, Nina?
Aproveitei o momento em que o chão tremia com as gargalhadas furiosas do demônio
para correr em direção a Shakur. Muito abatido, ele abriu um sorriso tenso quando me viu.
Compreendi, emocionada, que ele havia me concedido um último presente: utilizara o que
restou de suas forças vitais para que eu e Rick pudéssemos ficar juntos. Abracei-o com
vontade e, sem fazer barulho, desatei a cortar as cordas com a minha arma improvisada.
— Por que tenho a impressão de que não é a mim que você chama de pai, filha? — A
besta continuava a bramir e senti que o tremor ficava ainda mais forte.
Ela se aproximava.
As malditas cordas não cediam! Utilizei todas as minhas forças e nada. Aquele pedaço
de cerâmica não era a ferramenta apropriada e o tempo não seria suficiente. Droga! Eu não ia
conseguir.
Então, como mágica, algo brilhou na escuridão: meu punhal! Ele estava a uma mínima
distância da cauda da besta, que se remexia em um perigoso movimento de vai e vem. Shakur
compreendeu minha intenção e, nervoso, começou a balançar a cabeça em negativa quando
coloquei o pedaço da cerâmica em suas mãos ainda amarradas.
— Nem pense nisso, Nina! — berrou em minha mente. — Não!
— Eu preciso, pai! Desculpe.
Antes que ele dissesse mais uma palavra, beijei-lhe o rosto com carinho e já estava
correndo em máxima velocidade. Jogando meu corpo pelo chão arenoso, deslizei em direção à
adaga e senti o aço frio do punhal preencher o espaço entre os meus dedos. Equilibrando-me
de qualquer maneira, coloquei-me de pé e continuei minha corrida em direção a Richard.
Desde que mergulhara naquela catacumba dos horrores, era a primeira vez que colocava os
olhos em meu amado e uma sensação ruim, uma mistura corrosiva de ácido e gelo,
estremeceu dentro de mim. Richard tinha o olhar distante, em uma tênue divisa entre o apático
e o sombrio. Rapidamente arranquei sua mordaça e desatei a cortar as cordas. Elas eram
muitas, mas a lâmina do punhal era afiada.
— Depois de tudo que passamos... Por quê? Por que você foi atrás dele, Nina? —
sussurrou com a voz grave e acusatória.
— Sinto muito, mas eu precisava de respostas, entender quem eu sou e compreender
meu destino, Rick — respondi acelerada.
Richard contraiu a testa e fechou os olhos, taciturno.
— E conseguiu?
— Sim, eu...
— Arrr! — Um berro abafado de dor me congelou.
John!
— Estou ficando cansado dessa brincadeira, Nina — bradou a voz satânica de Malazar.
— E agora? Você vai cooperar?
— Arrrr!
Todos meus músculos contraíram com os gemidos de dor excruciante. A poeira
assentara e a névoa se dissipava, permitindo visualizar a cena com perfeição. Amarrado às
cordas, o sangue se esvaía de uma ferida aberta no abdome de John. Nervoso, o monstro lhe
desferia bicadas, ferindo-o sem piedade no tórax e empurrando seu corpo de um lado para o
outro, como um boneco de pano. Irritado, o bicho balançava nervosamente o pescoço de um
lado para o outro. John estava entregue. O animal deu seu ganido de triunfo e curvou-se veloz
em direção à presa acuada.
Cristo Deus! Ele ia matar John!
— Nãooo! — berrei descontrolada e desatei a correr.
— Ninaaa! — Richard esbravejou às minhas costas.
Utilizando todas as minhas forças, tomei máximo impulso e, jogando-me no ar, finquei o
punhal na cauda da besta. Um som semelhante a um chocalho metálico cresceu nos meus
ouvidos. O chão tremeu e eu não estava mais nele. Ao girar de maneira abrupta, a pesada
cauda me lançou violentamente para longe. Sangue escorria por minha testa e bochechas e
minha visão embaçou. Eu queria berrar, queria me levantar, mas nenhum músculo respondeu
aos meus comandos. Minha cabeça zonza latejava e minha pele ardia. Senti meus dedos
vazios. Droga! Perdi o punhal! Em fração de segundos o monstro já estava guinchando sobre
meu corpo alquebrado, imobilizando-me com suas garras afiadas, seus dentes rangendo de
forma compulsiva a poucos centímetros do meu pescoço, a saliva nojenta caindo sobre minha
face, afogando-me.
— Merrrrrrda!
O epíteto transtornado de Richard confirmava que minha situação era péssima.

Meditação diária (cecp) dia 31


Tudo age para meu benefício

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Seicho-No-Ie do Brasil - Mensagem Diária

Seicho-No-Ie do Brasil - Mensagem Diária
 MENTALIZANDO-SE A GRANDIOSIDADE, ELA MANIFESTA-SE CONCRETAMENTE. 
 Nossa verdadeira natureza é o “ser humano perfeito”. E surgimos na face da Terra para manifestar concretamente essa natureza verdadeira. É fato que “mentalizando-se a grandiosidade, ela se manifesta concretamente”. Não se subestime jamais. Mentalize que você é um ser grandioso. As pessoas tornam-se aquilo que acreditam ser. Esta é uma Verdade imutável
 

terça-feira, 29 de maio de 2018

23 - Compartilhando a Chama: Passando adiante a sabedoria- MEM LAMED HE

 
23 - Compartilhando a Chama: Passando adiante a sabedoria- MEM LAMED HE Uma única vez que ela diminuía escuridão de um grande auditório.
Contudo, escuridão nenhuma consegue extinguir uma chama cintilante .
Até mesmo se a escuridão se expandisse, ela não teria efeito algum sobre a o brilho da vela.
 
REFLEXÂO: A escuridão e o mal ficam impotentes na presença da Luz.
A relação entre luz e escuridão no dia-a-dia revela um profundo segredo da espiritualidade.
A escuridão só pode existir na ausência da luz.
Compartilhar a sabedoria destes 72 Nomes com outra alma se assemelha a acender uma vela em nosso mundo escuro, porque o conhecimento e as próprias letras são a essência e a substância da Luz espiritual.
Quanto mais compartilhamos estas ferramentas, mais diminuímos nossa própria natureza egoísta e a escuridão ao redor do mundo.
As letras deste Nome são derivadas de um versículo bíblico que fala sobre a Árvore da Vida e seu poder de trazer imortalidade e alegria infinita.
Cabala ensina que a Árvore da Vida é uma referência em código ao Mundo Superior invisível, onde 99 por cento da realidade se encontra.

AÇÂO:
Concentre-se em compartilhar Luz com os amigos, com a família e com toda a família da humanidade.
Leve consigo este Nome para o mundo real e compartilhe estas ferramentas com outras pessoas.
Peça forças para agir de acordo com os ensinamentos.
Em seu olho mental, visualize aberturas e oportunidades no mundo para a disseminação global desta antiga sabedoria.
Saiba que este Nome estimula as forças da imortalidade e aumenta a felicidade no mundo.
Não espere nem almeje nada menos do que isso.

MEDITE NESTAS LETRAS E VOCALIZE: Melah
AÇÃO: No dia de conexão com este anjo você se enche de confiança. Você sabia que existe um plano de grande felicidade para você?

30º Dia do Mês

30º Dia do Mês
1. Neste dia realizar o seu foco em primeiro lugar na base da plataforma de construção.
Este exercício constitui a pedra fundamental para o trabalho do próximo mês.
Concentre-se na harmonia do mundo. Você deve vê-lo, encontrá-lo, apreciá-la e
maravilhar-se com ele. Se surpreender com o quão perfeito o Criador fez tudo. Isto
significa, maravilhe-se com a harmonia do mundo, surge pela perfeição do Criador.


2. Dígitos para Concentração
* Concentre-se intensamente na sequência de sete números: 1852143
* Concentre-se intensamente na sequência de nove números: 185219351


3. O princípio segundo o qual o exercício de todos os dias anteriores foram construídos é
fundamental para este dia, porque em Fevereiro, que de acordo com o calendário atual
tem 28 ou 29 dias, transfere esse princípio, com início no dia 30 para o primeiro e segundo
dia do mês seguinte.
É exatamente esta transferência que exibe o ciclo eterno da vida. Descubra a
eternidade em todo o seu trabalho anterior para alcançar harmonia. Encontre a
eternidade neste exemplo simples, por que um mês tem 30 dias, outro - Fevereiro - tem 28
ou 29 dias, e só através deste mês fevereiro temos a unidade de número 30 com os
números 1 e 2. E a unidade de números de caráter diferente e origem diferente é uma
expressão da união e da origem comum de todas as coisas.
Encontre esta origem comum em tudo, em cada elemento de informação. Pesquise a
origem comum, onde não é imediatamente visto. Encontre-a onde é evidente e pode
ser vista imediatamente. E você vai ver, você vai saber, você vai perceber, e você será
iluminado.

123 - Louise Hay

123- “A cura acontece! Desligo a minha mente e deixo que a
inteligência do meu corpo promova naturalmente o seu trabalho de
cura.”

CAPÍTULO 30 - Não fuja

CAPÍTULO 30
Parecia um filme de terror com requintes mórbidos. Enquanto eu caía em uma queda
infinita, a película da realidade se desmanchava ao meu redor e começava a definir um cenário
de pavor, conflito e destruição. A luz se fora e meu corpo mergulhava com velocidade dentro
de um mar de névoa quente e escura.
Malazar gargalhou alto mais uma vez.
Foquei minha visão e, acima de mim, a simpática casinha de tijolos brancos e marrons se
desintegrava em labaredas de fogo e se transformava nos imensos cristais das Dunas de
Vento. Antes disso, no entanto, ela rodopiou em torno do próprio eixo e as duas portas
espelhadas trocaram de posição com perfeição.
A inimaginável descoberta me fez sufocar com o próprio ar.
Como não fui capaz de perceber a maldita farsa?
Agora estava tudo tão óbvio! As peças se encaixavam: a tonteira momentânea que senti
quando entrei na pequena casa; a mesa branca bem no meio do ambiente e o vaso
centralizado sobre ela que serviriam como um proposital ponto de referência; a atmosfera
branca e ofuscante e as portas espelhadas de frente uma para a outra.
Tudo fazia parte de um jogo!
De fato, um truque simples, de mestre! Em uma fração de segundo, Malazar havia feito o
chão da casa girar cento e oitenta graus em torno do próprio eixo quando coloquei os pés
dentro dela, mas mantivera seu centro imóvel, de forma que o vaso e a flor não se mexeriam
e, consequentemente, não despertariam as minhas suspeitas. Eu pensaria, como de fato
aconteceu, que tinha sofrido uma simples tontura. Só que, a partir daquele momento, todas as
posições tinham sido alteradas!
Malazar havia trocado as portas espelhadas de lugar e, sem que eu percebesse, ele
havia colocado a vertente de saída de Chawmin atrás de mim e a porta pela qual eu havia
entrado à minha frente!
Durante todo o seu teatro, ele ardilosamente apontava e pedia para que eu abrisse a
porta errada! Aquela era a vertente de entrada de Chawmin e não a de saída, como me fez
acreditar. Astuto, ele já havia me estudado. Sempre soube que eu não a abriria por vontade
própria. Toda a conversa tinha sido pura encenação. A verdadeira porta de saída estava atrás
de mim o tempo todo e não à minha frente. Além disso, minhas suspeitas acabavam de se
confirmar: sua catacumba nunca pertenceu ao Vértice! Ela estava dentro da terceira dimensão,
em uma pequena área dentro das Dunas de Vento!
Contra a minha vontade, eu havia feito exatamente o que o diabo planejara: eu tinha
aberto Chawmin, liberado Malazar, e acabava de decretar o extermínio da segunda e da
terceira dimensões!
Refutei a palavra “amaldiçoada” para longe da minha mente e não permiti meu espírito
ser assolado pelo sentimento de culpa. Caindo ainda mais rápido, forcei meu raciocínio ao
extremo, buscando com todas as minhas forças encontrar uma solução, uma saída
minimamente razoável para todo aquele horror.
Malazar se lançava no ar, vitorioso, seguido de perto por um exército de espectros
agonizantes.
Céus! Aqueles eram os Umbris?!
As almas atormentadas tinham a aparência cadavérica e uivavam ainda mais alto do que
as raivosas rajadas de vento. O demônio, apesar da pele vermelha e órbitas completamente
negras, ainda mantinha seu disfarce humano e, com um sorriso triunfal, acelerou seu voo em
minha direção.
— Argh! — Por sorte, meu corpo se chocou contra um amontoado de terra na base da
montanha e rolou com velocidade a parte final da descida, esfolando rosto, mãos, braços e
pernas. Quando o mundo parou de girar, respirei aliviada ao perceber que não havia quebrado
nenhum osso.
Mas agora era a minha razão que rodopiava.
O vento violento das dunas cessou e, de repente, escutei bramidos de cólera, berros de
dor, relinchar de cavalos e tilintar de espadas. A noite era escura. O lúgubre ambiente era
iluminado apenas pelas tochas e a claridade dos espectros. Novo baque: a grande névoa ao
redor da arena havia desaparecido e, em seu lugar, presenciei uma sangrenta batalha entre os
zirquinianos dos quatro clãs e suas sombras.
Ah, não! O caos já havia começado! Zyrk estava em guerra!
A multidão de pessoas maltrapilhas avançava sobre os exércitos dos clãs, que, apesar
de superiores em armas e preparo, eram em número bem menor e iam tendo baixas
expressivas. A força dos magos era colocada à prova e, a julgar pelo que acontecia bem
diante dos meus olhos, sua magia não suportaria aquele ataque por muito tempo. Os soldados
de branco do Grande Conselho recuavam. As sombras miseráveis, os filhos desprezados de
Zyrk, estavam ganhando a guerra, assim como Guimlel previra.
Novo estrondo altíssimo, e a terra tremeu com violência. A multidão de zirquinianos
congelou em choque, deixando punhais, espadas e outras armas paralisarem no ar. Só agora
eles foram capazes de enxergar a chegada de Malazar e de seus Umbris.
— Protejam a híbrida!— Era a voz de Sertolin dando comando enérgico aos magos que
se encontravam dentro da arena.
Em meio ao caos, muitos zirquinianos não conseguiram abandonar o lugar e fugir, sendo
cercados pelos Umbris. Os espectros demoníacos avançaram sobre as pobres vítimas e,
brigando entre si pelos pedaços das suas almas, arrancavam pele, membros e olhos,
drenando o elixir da vida enquanto torturavam seus corpos. Eles não tentaram atacar os cinco
condenados, provavelmente por se tratarem das oferendas de seu líder.
— Não estamos conseguindo! — berrou Braham nervoso à medida que ele e seu
grupamento de magos eram subitamente repelidos da arena. — Há uma energia poderosa nos
afastando da catacumba!
— Raça repugnante! — bramia Malazar. — Vou aniquilá-la assim que sair daqui!
— Isso não vai acontecer, maldito! — rebateu o pequenino Sertolin. —Não conseguirá
ultrapassar a barreira mágica!
— Será mesmo? — Malazar desdenhou em tom desafiador.
— Seus poderes são limitados aí dentro! — Apesar de manter a postura irredutível,
Sertolin não conseguiu camuflar o semblante de preocupação.
— Ah! Esse detalhe... — O demônio parecia se divertir com a situação.
— Nina, você tem que sobreviver. Tente retornar ao portal. Nele há também uma
passagem para a segunda dimensão que é bloqueada para os zirquinianos — Uma voz
telepática sussurrou em meus ouvidos, pegando-me de surpresa. Tinha a entonação diferente,
mas eu sabia a quem ela pertencia: Shakur!
— Eu não vou fugir dessa vez — pensei determinada.
— Não entende, Nina? Só você pode desequilibrar esse duelo de forças místicas. Tudo
faz parte de um jogo diabólico. Não existem oferendas. Você é a grande oferenda! A lenda
diz que Malazar precisa sair desta catacumba antes no nascer do sol, caso contrário será
novamente encarcerado no Vértice. Mas, para conseguir isso, ele terá que se despir de seus
disfarces, assumindo sua verdadeira identidade, e se apossar da sua poderosa energia. Ele
precisará te matar — alertava-me Shakur em pensamento.
— Quem disse isso? — bradou Malazar com espanto.
Droga! Ele havia escutado também!
— É um novo truque, Guimlel? — O demônio checava o lugar com a fisionomia perigosa.
— Gostou? — A voz em forma de tornado de Guimlel assumia o ato em alto e bom som.
— Muito. Aproxime-se, Guimlel.
— Não.
— Está se escondendo de mim, mago? — atiçou Satanás. — Não consigo enxergá-lo em
meio a essa multidão de mendigos.
— Mas eu o vejo perfeitamente. Aliás, enxergo mais do que isso. Agora tenho certeza de
que seus poderes aí dentro são irrisórios — a voz atrevida de Guimlel o enfrentava.
— Você quer jogar? — Malazar trovejou num misto de cólera e desafio e caminhou
lentamente até parar em frente à linha branca cintilante delimitada no chão da catacumba, mas
não ousou ultrapassá-la. — Ótimo! Porque é o que faço de melhor!
De costas para mim, o demônio soltou um ruído gutural, curvou o corpo para a frente e,
subitamente, jogou os braços para cima, esticando-os ao máximo.
— Cada um de vocês pagará pelos meus milhares de anos de exílio! Assistirão a uma
pequena amostra do que acontecerá com todos dessa dimensão maldita!
Então a mágica do horror aconteceu: a boca de Malazar abriu, assumindo proporções
assustadoras, e, no instante seguinte, os Umbris eram sugados, um a um, para dentro dela.
Os braços e pernas de Malazar se alongaram, a pele vermelho vivo escureceu e ganhou
escamas brilhantes e afiadas. Meu punhal dourado caiu aos seus pés quando o terno branco
deu lugar a um corpo monstruoso. Num piscar de olhos, escutei os uivos altíssimos do vento,
que ganharam um tom demoníaco quando suas rajadas ficaram abafadas, ininterruptas e com
forte odor pútrido. Os berros de pânico que apunhalavam meus ouvidos subitamente
desapareceram, como se tivessem sido propositalmente desligados. Quando a ventania
cessou, todas as tochas estavam apagadas e, dentro do oceano de escuridão e silêncio
absoluto, uma bruma fantasmagórica espalhava-se sorrateiramente.
Contraí as mãos e, quando dei por mim, esmagava o caco remanescente do vaso entre
os dedos. As feridas queimaram em minha pele e acordaram minha coragem e raciocínio.
Eu ia libertá-los!
O chão tornou a vibrar e arrepiei por inteira quando uma lufada de um vento quente e
mofado percorreu meu corpo. Tentei me afastar, dando passos lentos e meticulosos em
sentido contrário, mas minhas pernas paralisaram e meu cérebro entrou em estado de choque
ao escutar um uivo ensurdecedor seguido de um gemido abafado de pânico.
A bruma se dissipou em alguns pontos, eu me virei e entendi. Saindo lentamente por
detrás da melroada névoa, um titânico monstro de mais de cinco metros de altura guinchava
alto, jogando a cabeça de um lado para o outro sem parar. Seu surgimento aos poucos era
digno dos mais rebuscados filmes de terror. Com o corpo musculoso, andar cadenciado de um
felino e o dorso coberto por grossas escamas, sua cauda assemelhava-se à de um escorpião
e sua cabeça imensa parecia a de um abutre deformado, como se tivesse sido queimado vivo.
O mais assustador ainda estava por ser evidenciado. Ao dar seu ganido de advertência, o
animal abriu seu bico gigantesco e revelou o improvável: ele tinha enormes e afiados dentes,
completamente desalinhados, num emaranhado complexo como em uma descomunal
armadilha. Na verdade eles eram perfeitos para o seu intento: dilacerar e matar. Mordi os
lábios e meu estômago embrulhou ao identificar o corpo que vinha agarrado em suas garras
afiadas: era de Tom!
Não permitiria que a morte de Tom fosse em vão. Estava determinada a reparar de
alguma forma o mal que a minha existência havia causado àquela dimensão e a todos que me
estimaram. Eu não tinha culpa de que em minhas veias corresse o sangue daquela besta.
Nelas também havia o sangue do amor puro e desmedido de minha mãe. E, dentro do meu
peito, era meu coração quem bombeava esse sangue e definiria qual parte prevaleceria. O
mesmo coração que pulsava em gratidão pelas pessoas que, naquele momento, estavam
dando suas vidas para me salvar. O maior de todos os atos de amor.
Novo ganido me fez identificar pela pior maneira de onde vinha o cheiro de ferro que havia
sentido anteriormente: escorria sangue e uma grossa saliva por entre os caninos da fera. Ela
parou de uivar e se aproximou de onde eu estava com passadas lentas e hesitantes. A
estranha atitude me fez perceber um detalhe fundamental: suas córneas eram esbranquiçadas,
quase translúcidas. O animal era cego! Vibrei por um mísero momento, recordando-me em
seguida de que, quando a natureza nos priva de um sentido, ela aguça os demais. Nesse caso,
o olfato e a audição da besta deviam ser extremamente apurados. E, de fato, eram. Uma
pedrinha estalou sob as minhas sandálias e instantaneamente o monstro girou a cabeça na
minha direção. Fiquei imóvel, aflita com a espera interminável, até escutar um soluço abafado
às minhas costas.
Samantha?
No instante seguinte o chão tremeu com força e a fera passou como um raio por mim,
como se eu não estivesse ali, ganindo e avançando com o bico aberto em direção à pilastra
onde a loura estava amarrada. Ela ia matá-la!
Se era a mim que Malazar precisava matar, por que foi em direção à Samantha? Teria
sido pura sorte ou o animal não foi capaz de me sentir?
— Não! — berrei alto, chamando a atenção do monstro para mim e interrompendo seu
ataque. Samantha me encarava com os olhos arregalados quando desatei a correr em direção
contrária. A fera enfurecida girava a cabeça de um lado para o outro e, arrastando a garra no
chão, levantou uma nuvem claustrofóbica de poeira ao redor. Um plano bem arquitetado: o
monstro encontrara um jeito de dificultar a fuga de sua vítima. No caso, eu. Meus olhos ardiam
e, tateando o ar, corri o mais rápido que pude em sentido contrário.
— Você consegue me ouvir, não consegue? — indaguei acelerada por meio do
pensamento a Shakur.
— Sim, Pequenina — respondeu ele em minha mente.
— Caso eu consiga sobreviver, o que acontecerá com Zyrk depois que eu retornar à
segunda dimensão? — Não daria nomes, pois sabia que Malazar estaria nos escutando.
— Não sei. Esse é o grande mistério, Nina.
— Mas...
— Mas você terá ao menos poupado a segunda dimensão e derrotado Malazar,
encarcerando-o novamente no Vértice — Shakur me interrompia acelerado.
— Eu vou sobreviver e vou voltar para a segunda dimensão, mas só farei isso depois
de libertá-los. Então é bom você me dizer onde está.
— Eu já imaginava essa resposta — escutei seu murmurar telepático e sorri
intimamente. Havia mais orgulho em seu tom de voz do que reprovação. — Concentre-se no
som da minha respiração. Caminhe em silêncio pela penumbra e não pela poeira. A besta
está ficando nervosa. Além de cega, ela também não consegue captar a sua essência dentro
da catacumba. — E, após um segundo de hesitação, acrescentou: — Não tenho mais como
ajudar. Minhas forças acabaram, Pequenina.
— Eu sei, pai.
— Pai?! — estupefata, a voz grave de Malazar retumbava pela Catacumba e
bombardeava meus tímpanos. — Eu ouvi errado ou você disse mesmo essa palavra, Nina?
Aproveitei o momento em que o chão tremia com as gargalhadas furiosas do demônio
para correr em direção a Shakur. Muito abatido, ele abriu um sorriso tenso quando me viu.
Compreendi, emocionada, que ele havia me concedido um último presente: utilizara o que
restou de suas forças vitais para que eu e Rick pudéssemos ficar juntos. Abracei-o com
vontade e, sem fazer barulho, desatei a cortar as cordas com a minha arma improvisada.
— Por que tenho a impressão de que não é a mim que você chama de pai, filha? — A
besta continuava a bramir e senti que o tremor ficava ainda mais forte.
Ela se aproximava.
As malditas cordas não cediam! Utilizei todas as minhas forças e nada. Aquele pedaço
de cerâmica não era a ferramenta apropriada e o tempo não seria suficiente. Droga! Eu não ia
conseguir.
Então, como mágica, algo brilhou na escuridão: meu punhal! Ele estava a uma mínima
distância da cauda da besta, que se remexia em um perigoso movimento de vai e vem. Shakur
compreendeu minha intenção e, nervoso, começou a balançar a cabeça em negativa quando
coloquei o pedaço da cerâmica em suas mãos ainda amarradas.
— Nem pense nisso, Nina! — berrou em minha mente. — Não!
— Eu preciso, pai! Desculpe.
Antes que ele dissesse mais uma palavra, beijei-lhe o rosto com carinho e já estava
correndo em máxima velocidade. Jogando meu corpo pelo chão arenoso, deslizei em direção à
adaga e senti o aço frio do punhal preencher o espaço entre os meus dedos. Equilibrando-me
de qualquer maneira, coloquei-me de pé e continuei minha corrida em direção a Richard.
Desde que mergulhara naquela catacumba dos horrores, era a primeira vez que colocava os
olhos em meu amado e uma sensação ruim, uma mistura corrosiva de ácido e gelo,
estremeceu dentro de mim. Richard tinha o olhar distante, em uma tênue divisa entre o apático
e o sombrio. Rapidamente arranquei sua mordaça e desatei a cortar as cordas. Elas eram
muitas, mas a lâmina do punhal era afiada.
— Depois de tudo que passamos... Por quê? Por que você foi atrás dele, Nina? —
sussurrou com a voz grave e acusatória.
— Sinto muito, mas eu precisava de respostas, entender quem eu sou e compreender
meu destino, Rick — respondi acelerada.
Richard contraiu a testa e fechou os olhos, taciturno.
— E conseguiu?
— Sim, eu...
— Arrr! — Um berro abafado de dor me congelou.
John!
— Estou ficando cansado dessa brincadeira, Nina — bradou a voz satânica de Malazar.
— E agora? Você vai cooperar?
— Arrrr!
Todos meus músculos contraíram com os gemidos de dor excruciante. A poeira
assentara e a névoa se dissipava, permitindo visualizar a cena com perfeição. Amarrado às
cordas, o sangue se esvaía de uma ferida aberta no abdome de John. Nervoso, o monstro lhe
desferia bicadas, ferindo-o sem piedade no tórax e empurrando seu corpo de um lado para o
outro, como um boneco de pano. Irritado, o bicho balançava nervosamente o pescoço de um
lado para o outro. John estava entregue. O animal deu seu ganido de triunfo e curvou-se veloz
em direção à presa acuada.
Cristo Deus! Ele ia matar John!
— Nãooo! — berrei descontrolada e desatei a correr.
— Ninaaa! — Richard esbravejou às minhas costas.
Utilizando todas as minhas forças, tomei máximo impulso e, jogando-me no ar, finquei o
punhal na cauda da besta. Um som semelhante a um chocalho metálico cresceu nos meus
ouvidos. O chão tremeu e eu não estava mais nele. Ao girar de maneira abrupta, a pesada
cauda me lançou violentamente para longe. Sangue escorria por minha testa e bochechas e
minha visão embaçou. Eu queria berrar, queria me levantar, mas nenhum músculo respondeu
aos meus comandos. Minha cabeça zonza latejava e minha pele ardia. Senti meus dedos
vazios. Droga! Perdi o punhal! Em fração de segundos o monstro já estava guinchando sobre
meu corpo alquebrado, imobilizando-me com suas garras afiadas, seus dentes rangendo de
forma compulsiva a poucos centímetros do meu pescoço, a saliva nojenta caindo sobre minha
face, afogando-me.
— Merrrrrrda!
O epíteto transtornado de Richard confirmava que minha situação era péssima.

Oração do dia 30- Palavras para concretizar o paraíso aqui e agora.

Oração do dia 30
Palavras para concretizar o paraíso aqui e agora.
A meditação Shinsokan para se unir ao ser absoluto consiste tão-somente em mentalizar, com a mente serena: “Deus está dentro de mim, e o paraíso existe aqui e agora”.
 

meditação diária (cecp) dia 30

A Luz interior dirige-me pra meu bem

35 - Energia Sexual: Como receber mais de sua experiência sexual. - QOPH KAF KAF

35 - Energia Sexual: Como receber mais de sua experiência sexual. - QOPH KAF KAF
O sexo crepita com intensa energia e provoca uma consciência elevada.
Mas não basta ficar ligado, precisamos ter a coragem para também entrar em sintonia. Entrando em sintonia com objetivo espiritual do sexo, estimamos paixão em nossa energia sexual.
Este Nome é a nossa chave de ignição.

REFLEXÂO:
Temos a tendência a ver o sexo como um esporte mecânico, em vez de vê-lo como um ato sagrado da alma que pode trazer prazer duradouro. 
Na Cabala, o cósmico e o erótico estão intimamente entrelaçados.
Existe uma conexão direta entre o vasto universo e nossa vida sexual particular. 
Atração, estimulação, toque, atrito, faíscas e a fusão de duas pessoas no ato de fazer amor, tudo isto tem enormes implicações místicas. 
Um beijo ou uma carteia sensual de namorados contém faíscas da Luz.
Cada vez que um homem e uma mulher se unem amorosamente, nosso mundo físico se conjuga com o Mundo Superior, trazendo Luz para toda a existência. 
Sendo assim, fazer amor é também "fazer Luz"... para o casal que está se abraçando e para o mundo como um todo. 
Esta experiência só pode ser descrita como sexo divino.
A chave para esta unificação é evitar o sexo egoísta.
Os desejos individualistas e o ego impedem uma conexão cósmica, e é neste ponto que a energia sexual começa a diminuir em nossos próprios relacionamentos.
AÇÂO:
Você purifica seus desejos para compartilhar amor e energia com seu parceiro, colocando os anseios dele ou dela na frente dos seus próprios.
Você desperta energia sexual de forma que sua paixão passe ajudar a elevar toda a existência.
Você reabastece a Luz que foi perdida por causa de atividades sexuais egoístas do passado.


MEDITE NESTAS LETRAS E VOCALIZE: Kevák 
AÇÃO: Experimente várias vezes no dia de hoje respirar profundamente e sentir o seu corpo como uma só unidade. Um único bloco interligando intelecto, emoção e físico.

Seicho-No-Ie do Brasil - Mensagem Diária

Seicho-No-Ie do Brasil - Mensagem Diária
DENTRO DE VOCÊ MESMO EXISTE A CAPACIDADE PARA SOLUCIONAR OS PROBLEMAS.
 
As lições a serem aprendidas nesta vida são muitas; mas não precisamos nos preocupar, pois existe um princípio maravilhoso, segundo o qual “jamais nos serão apresentados problemas que não consigamos solucionar”. Existem muitos problemas difíceis, mas para o sr. A são apresentados problemas que somente ele pode resolver, assim como para o B são apresentados problemas que somente ele consegue solucionar.

Livro: Mensagens

29º Dia do Mês - Exercicio de concentração

29º Dia do Mês
1. Neste dia do mês realize um exercício de concentração generalizante: Reveja todos os
exercícios do primeiro ao vigésimo oitavo dia. Mas você deve absorvê-los em um único
instante. Isto é importante! Segure o caminho percorrido neste mês em um único
momento de percepção. Ao fazê-lo, você envia o seu trabalho a uma análise específica.
Neste dia você criar uma plataforma para o trabalho do próximo mês. Você pode
visualizar tudo que você fez na forma de uma esfera e em seguida, defina essa esfera
em uma linha reta se estende infinitamente cujo ponto de partida representa o mês
seguinte. Este fornece não só uma plataforma para o próximo mês, mas também para a
sua evolução sem fim.

2. Dígitos para Concentração
* Concentre-se intensamente na sequência de sete números: 1852142
* Concentre-se intensamente na sequência de nove números: 512942180

3. Olhe para o mundo com seus próprios olhos. Olhe para o mundo com todos os seus
sentimentos. Olhe para o mundo com todas as suas células. Olhe para o mundo com
todo o seu corpo e com tudo aquilo com que você pode ver e que você é. Olhe para o
mundo e para si mesmo, olhe para dentro de si mesmo. Olhe para o mundo com o
conhecimento que o mundo é em torno de você, que te envolve. Olhe para a realidade
que lhe concede vida. Olhe para a realidade que lhe concedeu a eternidade e você
verá que onde quer que você olhe, existe apenas esta realidade que lhe concede a
vida e a eternidade.
O Criador desta realidade é Deus. E Deus, que criou esta realidade, criou a vida eterna.
Ele te vê como você se vê e o vê como você não se vê. Ele é o seu Criador. Ele é o seu
Deus.

122 - Louise Hay

122- “Estou livre da dor e totalmente em sintonia com a vida.”

CAPÍTULO 29 - Não fuja

CAPÍTULO 29
Abandonei meu animal quando o percurso ficou intransponível para ele. As incessantes
rajadas de vento continuavam a navalhar meu rosto, mas, diferentemente do que Shakur havia
dito, não eram capazes de me ferir ou enganar. Minhas passadas permaneciam firmes e minha
mente focada. Rezando para não me deparar com nenhuma besta da noite, atravessei a pé o
deserto das Dunas de Vento e, após ultrapassar uma comprida linha cintilante demarcada no
chão de trincas, foi fácil avistar o amontoado de pedras reluzentes, como gigantescos cristais
multicoloridos e brilhantes que se destacavam em meio à planície escura. Talhada nos cristais,
uma colossal escultura dourada se destacava. Dividida ao meio, a parte acima da cintura
assemelhava-se a um homem de fisionomia taciturna, torso musculoso e imponentes asas de
anjos. Sua parte inferior, no entanto, apresentava pernas felinas com escamas que se afilavam
em garras e exibia uma comprida cauda que terminava em um tridente. Seria essa escultura
Chawmin, o famoso portal pentagonal?
Distraída com a incrível visão, minha pulsação deu um salto ao presenciar o surgimento
de dois seres encapuzados de mais de três metros de altura às minhas costas. Camuflados
pelos uivos estridentes do vento, eles caminhavam com passadas lentas e ritmadas, como se
estivessem em um quadro de sonambulismo. Engoli em seco ao identificar o que cada gigante
trazia em seus braços: cadáveres! Como os corpos translúcidos tinham os olhos fechados, não
pude identificar se eram almas de humanos ou zirquinianos. De repente eles pararam sua
caminhada e suas enormes cabeças giraram na minha direção. Por debaixo do capuz de seus
mantos de cor vinho cintilante, deparei-me com olhos opacos e expressões vazias. Graças a
Deus! Eles eram cegos! Um deles abriu a boca e não havia língua, mas apenas dentes
assustadoramente afiados. Prendi a respiração quando eles interromperam o passo
cadenciado e suas narinas desproporcionalmente grandes se dilataram ainda mais. Então,
após um instante interminável de suspense e pavor, eles retomaram seu caminho. Quando os
dois seres se aproximaram de Chawmin, a parte inferior se abriu e uma língua bífida de mais
de cinco metros de comprimento, como um repugnante tapete pulsátil, desenrolou-se com
avidez e chicoteou o ar com violência. No instante seguinte, os gigantes zumbis jogaram três
dos quatro espectros sobre a língua faminta, que os enrolou com rapidez e recuou, fechando a
abertura atrás de si. Um único corpo translúcido foi erguido pelo gigante mais à esquerda e
desapareceu como mágica em suas mãos. Automaticamente os dois seres deram meia-volta e
retornaram ao caminho de onde vieram. Assim que os gigantes desapareceram do meu campo
de visão, dois outros idênticos aos anteriores surgiram com mais espectros em seus braços e
repetiram o processo, em um ir e vir mórbido e interminável.
Estremeci ao compreender perfeitamente o que acontecia bem diante dos meus olhos:
Os gigantes eram os famosos mensageiros interplanos, as criaturas místicas responsáveis
por levar os mortos da segunda e da terceira dimensões para o Plano ou o Vértice. Em seus
braços estavam os resgatados, as almas em forma de cadáveres espectrais que eram
depositadas nas margens das Dunas de Vento por resgatadores zirquinianos.
Respirei fundo e, aproveitando-me de um intervalo entre a saída de dois gigantes e a
chegada de outra dupla, corri como um raio em direção à abertura de Chawmin, a mesma de
onde havia emergido a horrorosa língua bífida. De repente escutei ganidos agudos, olhei para
trás e vi os mensageiros interplanos largarem os espectros no chão e, levitando no ar,
abandonarem o estado robotizado para, em meio a berros pavorosos, voarem com incrível
velocidade em minha direção. Céus! Eles haviam captado a minha presença!
Sem pestanejar, entrei em Chawmin e imediatamente a abertura se fechou atrás de mim.
Demorou alguns segundos até conseguir controlar o tremor em minhas pernas e recuperar o
raciocínio. Levantei a cabeça e fui tomada por grande assombro. Teoricamente eu deveria
estar no Vértice, o lugar assombrado pelo horror, pela tristeza e pelo sofrimento. Então por
que tinha a sensação de que havia algo errado? Pisquei várias vezes até compreender que o
local era surpreendentemente calmo e belo. Uma brisa agradável acariciava meu rosto e a
grama verde e repleta de flores coloridas circundava um lago cujas águas cristalinas refletiam
o cume nevado de uma cordilheira ao fundo. Um caminho de pedrinhas, ladeado por rosas
brancas e amarelas, conduzia para uma minúscula casa feita de tijolos brancos e marrons. Não
tive dúvidas e segui em sua direção. Abri a porta de madeira e meus olhos se contraíram com
a claridade ofuscante, dando-me a sensação de que, por um segundo, o chão havia tremido e
o mundo girado. Pisquei novamente e me certifiquei de que tudo estava no mesmo lugar. De
dentro da casinha emanava uma luz forte e era tudo branco e brilhante. Chão, paredes, teto,
tudo ali cintilava na cor branca. Até mesmo as rosas no vaso eram brancas! Deparei-me com
uma porta espelhada à minha frente. Ela era idêntica à que eu havia entrado. Para onde ela
me levaria?
— Seja bem-vinda, Nina — saudou uma voz agradável atrás de mim. Quando olhei para
baixo meu punhal havia desaparecido. — Isso não será preciso.
— De onde você surgiu? — girei o corpo rapidamente e dei um passo para trás.
— Eu já estava aqui quando entrou. Não percebeu? — indagou com candura um homem
de meia-idade, de pele clara e cabelos brancos. Assim como tudo ao redor, ele vestia um
terno impecavelmente branco e calçava sapatos brancos e lustrosos. Meu punhal dourado se
destacava em sua cintura. Como ele o havia retirado tão rapidamente de mim?
— Quem é você?
Ele apenas sorriu.
— Você parece cansada, filha. Tem fome? Quer beber alguma coisa? — A voz daquele
senhor era inesperadamente familiar, quase íntima. Estremeci.
— Vim me entregar. Mas com uma condição.
O sorriso dele se alargou.
— O que desejar.
Podia jurar que os olhos negros dele, os únicos pontos escuros no ambiente, brilharam
com mais intensidade. Algo se agitou dentro de mim e tive a estranha sensação de que já o
conhecia.
— Preciso de respostas — acelerei em dizer ao perceber que meu corpo respondia de
forma estranha àquele diálogo.
— Pergunte o que quiser. — Ele se aproximou ainda mais. Recuei e esbarrei no vaso,
que vibrou sobre a mesa branca situada no centro do ambiente.
— Por que a maldição não acabou já que eu pude ter um contato mais íntimo com um
zirquiniano? Por que não aconteceu o milagre que todos previram?
— Você é inteligente e isso me deixa orgulhoso, Nina.
— Responda — exigi.
— Acho que Tyron não levaria em conta como “ milagre” algo cuja procedência fosse
minha — disse com suavidade e um sorriso amistoso nos lábios. — Já que você é minha filha.
Abri a boca e meu corpo cambaleou, incerto como a minha voz.
— Dale é o meu pai!
— Ele foi apenas o veículo, Nina.
— Por que insiste em me enganar? Eu vim me entregar, droga! — esbravejei furiosa e,
por alguma razão, achei que internamente ele vibrou com a minha mudança de atitude.
— Não estou te enganando. Esperei por esse momento com tanta intensidade que não o
desperdiçaria por nada. — Seu semblante era de pura satisfação. — Os últimos dezoito anos
demoraram mais a passar que meus milhares de anos. Pareceram uma eternidade — soltou
uma risadinha baixa, como se achasse graça de sua própria piada.
Milhares de anos? Senti o chão das minhas poucas verdades amolecendo e minhas
pernas afundarem dentro dele. Decepção em forma de calafrio espalhava-se por minha pele e
todos os meus pelos eriçaram em sinal de perigo. Não podia ser.
— Quem É Você? — destaquei cada palavra com fúria.
— Eu sou o filho preterido que finalmente terá a sua chance de vingança — ele
respondeu com a voz empostada.
Naquele instante eu a reconheci: era a mesma voz que me chamou no abismo de
Marmon! Meus olhos se arregalaram e tinha certeza absoluta de que minhas pupilas estavam
ultrafinas. Ele pareceu se animar com o pavor em minhas feições.
— Eu sou Malazar, filho de Tyron! E o sangue que corre em suas veias é meu. Eu sou
seu legítimo pai, Nina!
Um buraco negro latejava furiosamente dentro de mim e sugava minhas forças. Tive de
me apoiar na mesa às minhas costas para não cair de joelhos no chão. Meu corpo estremeceu
por inteiro, meu coração desatou a socar o peito com selvageria e minha boca secou.
Malazar?! O temido demônio que habitava o Vértice?!
— Eu não sou sua filha! — grunhi em estado perturbado. — Pouco me importa se meu
maldito pai biológico vendeu a própria alma para poder ter um contato mais íntimo com minha
mãe! Isso não faz de mim sua filha!
Sem diminuir o sorriso no rosto, o homem de cabelos brancos se aproximou ainda mais
e, aproveitando-se de minha confusão mental, levantou meu queixo e me encarou.
— Olhe dentro dos meus olhos, Nina — ordenou com vontade e senti seus dedos
queimando minha pele. — Não reconhece sua herança genética?
Tentei reagir e empurrá-lo para longe, mas, em meio ao meu estado atordoado, depareime
com o que abalaria por definitivo com o último resquício de fé que lutava para se manter
vivo dentro de mim: dentro de suas pupilas negras havia um risco amarelo idêntico ao meu. A
mesma rajada amarela que apenas eu possuía!
— Não... — murmurei sem força.
Ele me soltou e liberou um suspiro de desânimo.
— Como eu possuí a alma dele por algum tempo, vou te mostrar o que pude presenciar
pelos olhos daquele covarde.
Malazar removeu o vaso da mesa, colocou-o no chão e apontou para o tampo branco
que se transformou em uma tela de projeção do passado. Flashes. Pedaços de cenas, como
trailers de filmes, começaram a ser exibidos sobre ele. Um homem bonito fazia um pacto com
Malazar logo após matar uma humana ao tentar possuí-la. Seu desespero em sentir algo
maior gerou-me aflição. Ele parecia um viciado em abstinência da sua droga. As
características físicas em comum não deixaram dúvidas: aquele era Dale, meu pai biológico.
Em seguida presenciei seu encontro com Stela, sua insatisfação quando ela lhe contou sobre a
gravidez, seu desespero quando ela fugiu grávida, sua morte.
— Ele não se suicidou. Você o matou — afirmei.
— Dá no mesmo — deu de ombros.
Pane cerebral. Um curto-circuito de horror me arruinava por dentro e não permitia minha
mente juntar os pontos e compreender os fatos.
— Então... Nunca houve amor entre eles — liberei as palavras que irremediavelmente me
rasgariam por dentro a arruinaram de vez meu espírito atormentado.
— Houve sim. Dale fez isso porque amava as sensações que a sua mãe gerava nele. E
amava a si próprio também, claro! Ele era um zirquiniano extremamente egoísta. Não que eu
ache isso ruim... — Abriu um sorriso diabólico.
Quis cegamente acreditar que meu pai havia feito a loucura de vender a alma porque
nutria um bom sentimento por Stela. Mas não! Eu nunca fui o fruto de um amor impossível
entre duas espécies distintas, mas sim o produto de um desejo doentio e avassalador. Eu era
o vírus da morte, a semente de uma negociação amaldiçoada. Meu mundo girava em um
furacão de dor e decepção, e era transformado em pó pela verdade arrasadora: Eu era a filha
do demônio, o fruto do mal em carne e osso! Estava explicado o porquê da vida infeliz e o
caminho de desgraça e morte que gerei naqueles que ousaram me amar. O fogo da destruição
pulsava em minhas veias. Minha mente acelerada sangrava. Meu coração sangrava. Minha
alma sangrava.
Eu nunca fui o milagre de Zyrk.
Eu era a maldição!
— Mas você não deve enxergar as coisas por este ângulo, Nina — Malazar colocou os
braços para trás e começou a andar em círculos. — Você é o produto de um desejo de
milhares de anos. Espero por essa oportunidade, quero dizer, por você, desde a minha maldita
queda.
— O que quer de mim? — questionei sem ânimo e sem uma gota de medo. Eles se
foram, abandonaram meu espírito juntamente com o que havia restado de bom.
— O que um pai sempre desejaria para a sua cria: glória e poder! — bradou com
entusiasmo.
— Não desejo isso.
Vendo que eu o observava com atenção, Malazar acrescentou rapidamente:
— E seus desejos realizados, claro!
— Meus desejos... — repeti as duas palavras lentamente. — Em troca de?
Ele alargou o sorriso.
— Vejo que estamos começando a nos entender — sibilou satisfeito. — Algo me diz que
você já deve saber.
— Abrir a vertente de saída de Chawmin — concluí.
— Exatamente! — Ele esfregou as mãos com vontade e olhou animado para a porta
oposta àquela que eu havia entrado.
— E o que ganharei com isso?
— Não eliminarei os zirquinianos por quem tem grande estima — disse a última palavra
de um jeito malicioso.
Senti meus músculos se contraírem de imediato e minha pulsação acelerar.
— O que você...? — grunhi. — Está blefando!
— Olhe atrás de você — Malazar passou os dedos pelas grossas sobrancelhas brancas
e, com jeito displicente, apontou para o espelho situado atrás da porta pela qual eu havia
entrado. — Talvez não goste do que verá por detrás desta porta, mas acho importante avisar:
não adiantará berrar. Ninguém do lado de fora será capaz de vê-la ou escutá-la.
Subitamente o espelho ganhou vida, como se fosse prata derretendo, e começou a ficar
transparente. O degradê de cinzas e imagens borradas tomou definição. Num plano abaixo do
nosso, como se a pequena casa em que nos encontrávamos estivesse suspensa no ar,
vislumbrei uma enorme arena circular rodeada por centenas de tochas fincadas no chão de
trincas. Atrás das tochas e fazendo o papel de arquibancada, a arena era envolvida por uma
neblina densa e fantasmagórica, impedindo-me visualizar qualquer coisa além do grande
anfiteatro. Havia cinco pilastras de pedra afastadas entre si e em cada uma delas avistei uma
pessoa amarrada e amordaçada. Meu coração começou a bater forte no peito quando
identifiquei os cinco condenados: John, Samantha, Tom, Shakur e Richard.
— Esse lugar... É a...? — paralisei sob terror.
— Minha adorada catacumba! O dia de hoje entrará para a história de Zyrk. Há centenas
de anos que não recebo oferendas e, de repente, sou agraciado com cinco de uma única vez
e... — E, encarando-me com vontade, acrescentou exultante: — Seis, na verdade. Meu tão
esperado presente!
Abaixei a cabeça, arrasada.
— Guimlel conseguiu escapar, mas Von der Hess e seus interessantes escaravelhos
capturaram esses daí das garras do Grande Conselho logo após você ter fugido. Fiquei louco,
achando que a tinha perdido de vez, mas quando a vi entrar nas Dunas de Vento compreendi
que a sorte finalmente retornara para o meu lado.
— Por que todos eles? — tentei mostrar controle dos nervos, mas minha voz esganiçada
me traiu.
— Por garantia. Os humanos são muito volúveis e você teve uma mãe humana... — deu
de ombros. — Enfim, quis me precaver. Se por acaso você se mostrasse irredutível e algo de
errado acontecesse com o zirquiniano de sua preferência, ainda assim haveria a chance de
uma troca. Sei que também nutre bons sentimentos pelos demais, quero dizer, por todos
menos a zirquiniana. A infeliz estava no grupo na hora errada... Puro azar da loura. Uma pena.
Até que ela é bem atraente...
— Você quer que eu abra Chawmin e em troca os manterá vivos?
— Viu como será fácil nos entendermos?
— Por que não aproveitou para sair daqui assim que abri a porta para entrar?
— Infelizmente não é assim que as coisas funcionam, filha. A vertente deve ser aberta
por dentro para que a profecia se cumpra. Nunca por fora. E tem que ser aberta por você.
— Sei. E o que acontecerá depois que você chegar à terceira dimensão.
Ele repuxou os lábios e arqueou as sobrancelhas.
— Não tenho interesse na terceira dimensão, Nina — esquivou-se.
— Entendo — murmurei. — E o que fará com a segunda?
— Ah! A segunda dimensão... Ela sim! Tão interessante, tão cheia de sentimentos
contraditórios e enlouquecedores, emoções carnais... — Seus olhos negros chegaram a
chamuscar de excitação e Malazar parecia delirar com a ideia. — Vou cuidar bem dela.
Prometo.
— Estamos no Vértice, então?
— Sim.
— E a sua catacumba fica exatamente onde?
— Dentro dele, obviamente! — Pela primeira vez desde que o nosso diálogo começara
ele não parecia satisfeito em me responder.
— Como pode isso se eles ainda estão vivos? — Recordava-me muito bem das almas
que eram largadas na língua bífida. Eram espectros, e não corpos com carne e osso como os
cinco condenados.
— Como eles seriam oferendas se já estivessem mortos, Nina? — questionou com
desdém. — É o único caso em que isso é possível. Os zirquinianos entregam as vítimas aos
mensageiros interplanos que, por sua vez, entram no Vértice e as amarram na catacumba. É o
único dia em que não posso ter acesso à minha catacumba antes do anoitecer — ele estreitou
os olhos e um sorriso ameaçou surgir em seus lábios. — Mas não precisarei esperar dessa
vez já que permanece noite desde ontem. O universo pressente que uma nova era se
aproxima.
Engoli em seco ao ver que ele tinha razão: o fraco sol de Zyrk não havia se levantado.
— Desista. Prefiro morrer a sobreviver sabendo que fui a causadora da destruição das
segunda e terceira dimensões — soltei determinada. Colocaria um fim naquela terrível
maldição. Ela seria aniquilada juntamente a mim.
— Você vai abrir a vertente de saída para mim — destacou cada palavra enquanto girava
o rosto e apontava para a porta à minha frente.
— Não vou! — enfrentei-o e compreendi a grande questão em jogo: eu tinha o livrearbítrio
e, contra ele, mesmo com todo o seu poder, o diabo nada poderia fazer.
— Arrr... Cale-se! — ele bradou alto e segurou meu rosto com violência, suas unhas
perfurando minha pele. Por uma fração de segundo pude enxergar o que estava camuflado por
detrás de seu meticuloso disfarce: um ser de pele deformada, de cor vermelho vivo, boca
enorme e cavidades orbitárias completamente negras. Desvirei o rosto e o iluminado lugar
havia desaparecido e dado espaço a um oceano de sombras, frio e uivos de dor. Meu corpo
tremeu por inteiro e, tomada por pavor e cólera, lancei minhas mãos em direção ao rosto
demoníaco. No instante seguinte, o senhor de aparência bondosa e cabelos brancos
gargalhava e me soltava. — Não há nada de bom que vingue aqui, Nina. Nem mesmo esse
interessante poder em suas lindas mãozinhas. Mas lá fora poderá ser de grande utilidade...
— Eu não vou sair daqui.
— Não abuse da minha paciência, filha — ameaçou.
— Eu não sou sua filha! E eu não vou abrir aquela maldita vertente! — rosnei e dei um
passo para trás. Minha perna esbarrou no vaso de flor que ele havia colocado no chão. Não
pensei duas vezes. Eu o peguei num rompante e, segurando-o com firmeza, lancei-o com força
contra o tampo da mesa. O vaso se quebrou em diversos pontos, estilhaçando-se no ar e se
espatifando no chão. Não me importei com a ardência que se alastrou por minha pele, mas
não soltei o pedaço maior que havia remanescido entre meus dedos.
— Veremos — ele estreitou o olhar e abriu um sorriso frio. — Quero ver quantos
morrerão antes de você mudar de ideia.
— Prefiro me matar a abrir Chawmin! — enfrentei-o apontando a borda cortante da
cerâmica quebrada na direção da minha jugular.
Malazar franziu a testa e repuxou os lábios.
— Se quiser ficar eternamente aqui, vá em frente. Espero que não se canse da minha
companhia.
Perdi o chão e minhas mãos paralisaram no ar. Droga! Suicídio era um bilhete apenas
de entrada para o Vértice!
— Mas, caso não faça a estupidez de se matar e se mantenha irredutível quanto à nossa
troca, morrerá de velhice aqui também — acrescentou com sarcasmo ferino.
— Nunca houve alternativa... — balbuciei aturdida com as terríveis opções.
— Há uma. Você pode escolher ficar com aqueles que estima. Você pode salvá-los. —
Sua voz ficou repentinamente aveludada e falsa. A oferta demoníaca parecia fácil demais,
tentadora demais.
— E com isso acabaria com a vida de milhares? — indaguei mordaz e sem me deixar
enganar. — Não, obrigada.
— Foi você quem pediu — ele deu de ombros, arrumou a lapela do terno impecável e,
sorrindo, apontou para a porta pela qual eu havia entrado. — O show está começando e você
poderá assistir de camarote.
Estremeci ao escutar gritos de pavor. Em seguida, o espelho da porta ficou transparente,
permitindo-me ver o que ocorria na catacumba. Novo grito, agora de dor excruciante, fez-me
congelar por inteira. Eu reconheci a voz: Tom! Tremendo da cabeça aos pés e sem conseguir
me conter no lugar, dei alguns passos em direção à maldita porta. Pelo canto do olho, vi que
Malazar me observava satisfeito e atento.
Não!
O grito ficou agarrado em minha garganta ao entender o que estava acontecendo
naquele exato instante: amarrado pelas cordas, o musculoso Tom soltava berros em meio a
prantos e se debatia violentamente enquanto, de costas para mim, um animal gigantesco e
camuflado por uma névoa escura mordia e arrancava uma de suas pernas. A cena era tão
horrorosa que foi preciso Tom desmaiar para que eu conseguisse escutar os gritos abafados e
de desespero dos demais, em especial os de John.
Um estrondo altíssimo, como de um gigantesco trovão, ressoou em meus tímpanos e o
chão tremeu com violência, fazendo-me desequilibrar. A fera soltou um grunhido alto e se
afastou, interrompendo seu ataque a Tom. O barulho ensurdecedor vinha da espessa névoa
fantasmagórica que envolvia a grande arena. Em seguida, uma forte ventania, como um
tornado, varreu a catacumba e avançou, fazendo vibrar a pequena casa onde eu e Malazar nos
encontrávamos. Por uma fração de segundo, a luz se foi e, como mágica, a neblina que
envolvia a arena se dissipou. Em meio ao oceano de sombras, achei ter visto milhares de
cabeças, uma multidão de pessoas miseráveis bramindo e socando o ar com os braços.
Pisquei os olhos e, quando os reabri, a luz havia retornado ao lugar e uma voz colérica
retumbava ao nosso redor.
— Demônio traiçoeiro! Você não vai matar Richard!
Céus! Era a voz de Guimlel que esbravejava no ar em forma de tornado?!
— Por que não? Não era esse o nosso acordo? Ou achou que poderia me enganar, caro
mago? — Malazar respondeu com descaso.
“Acordo”?
— Foi você quem quebrou nosso pacto! — Havia medo entremeado à voz colérica de
Guimlel. — Richard mal teve a chance de procriar!
— Ah! Esse detalhe... — Malazar parecia se divertir com a aflição de Guimlel. — Mas eu
o salvei e o fiz o guerreiro mais forte de Zyrk.
— Ele já era assim! — Guimlel o interrompeu.
— Já se esqueceu de que, se não fosse por mim, ele não teria sobrevivido ao ataque
mortal de uma das minhas feras? Estava praticamente morto quando você apareceu aqui com
ele ainda menino. Esqueceu-se de que me deu a sua alma em troca da vida dele?
Oh, não!
— Não! Eu troquei a minha alma para que ele vivesse até a maturidade, para que Richard
completasse seu ciclo zirquiniano!
— Mas não me contou nada sobre o fato de Richard vir a ser o procriador daquele que
colocaria um fim às minhas adoráveis criaturas! — esbravejou o demônio. Seus olhos escuros
davam provas de que sua ira crescia. — Você tentou me enganar e eu fingi cair no seu jogo.
Simples assim. Como é mesmo aquele ditado humano? Ladrão que rouba ladrão...
— Demônio maldito!
— Grato pelo elogio — suspirou com a voz restabelecida. — A única variável inesperada
nessa equação era que a híbrida se encantaria justamente por ele. Incrível os desígnios de
Tyron, não? Papai não cansa de me surpreender.
— Se você matar Richard, não ficará com a minha alma!
— Ela já é minha, caro mago. — Malazar soltou uma risada.
— Mas não a entregarei facilmente! — bramiu a voz de Guimlel com novo estrondo,
como se vários trovões retumbassem ao mesmo tempo. — Suas feras malditas não são páreo
para mim e, enquanto tiver forças, não permitirei que nenhuma delas coloque as garras em
Richard!
— Será? — vociferou o diabo erguendo as mãos para cima. Sua pele adquiriu o tom
vermelho vivo, mas apesar de suas feições hostis seus traços humanos não se alteraram. —
Tenho uma surpresinha para você.
Novos berros vindos da catacumba chamaram a minha atenção. Ela não era invadida
apenas por uma, mas por três feras ao mesmo tempo. Para meu desespero, as três sombras
gigantescas, com seus contornos ainda camuflados pela densa névoa escura, passaram pelas
pilastras externas, aproximando-se lentamente do lugar onde Richard se encontrava. A
ventania tomou proporções assustadoras e o chão tornou a tremer. As feras ganiram alto,
nervosas. Em uma língua estranha, Malazar conversava com elas, instruindo-as. Dois animais
bufaram e alteraram sua trajetória, desaparecendo em meio à bruma fantasmagórica,
enquanto um terceiro continuava seu caminho mortal em direção a Richard.
— Não! — gritei apavorada ao ver a sombra da besta maligna crescer a frente de
Richard. Mesmo no plano mais alto onde eu me encontrava, pude ver que Rick não se moveu
e, corajoso como sempre, enfrentou o animal. Vi quando a sombra do monstro se chocou
contra seu corpo e ele se encolheu de dor. Uma nova tempestade de vento envolveu a arena.
A voz de Guimlel chegava fragmentada e suas palavras não faziam sentido. A besta ia matar
Richard!
Sem suportar a dor em meu peito, minhas mãos começaram a suar frio e minha pele a
arder. Olhei para baixo e vi um discreto filete de sangue escorrendo por entre os meus dedos.
Eu não os havia furado com a cerâmica quebrada, mas com os espinhos das rosas!
Esmagada na palma da minha mão, uma minúscula e estranha planta queimou em meus
olhos e coração.
Drahcir!
Minha mente atordoada começou a girar, minha visão embaçou e meus pensamentos me
transportaram para longe dali, para o dia em que Leila me explicou sobre a falsa beleza das
rosas e as virtudes que poderia encontrar oriundas das fontes mais improváveis. “Aguarde os
espinhos dele caírem e terá muito a ganhar.” Como não havia percebido a simples charada?
Drahcir... Era Richard escrito ao contrário!
Leila afirmou que aquelas plantas esquisitas eram guerreiras inatas, que desabrochariam
e floresceriam com a adversidade e que nos presenteariam com a sua própria morte, caso
quiséssemos a sua companhia. E foi exatamente o que aconteceu. Rude e de atitudes
controversas, Richard lutou contra si e contra todos, salvou-me inúmeras vezes e agora morria
por ter me amado.
Era a minha vez de retribuir e ainda me restava o livre-arbítrio. Eu não conseguiria salválo,
como ele havia feito por mim, mas podia ser sua Drahcir e morrer junto a ele e às pessoas
que mais estimava. Suicídio estava fora de questão, mas também não permitiria que o
demônio vencesse, jamais abriria a vertente de saída de Chawmin!
— Acaba de perder tudo, besta maldita! — rosnei e, antes que Malazar pudesse me
impedir, abri a porta pela qual havia entrado e saí como um foguete, despencando em direção
à catacumba.
Pensei que escutaria o berro de ira de Malazar, mas, em seu lugar, uma estrondosa
gargalhada reverberou pelo meu espírito e toda a terceira dimensão.
Oh, não!
O demônio havia me enganado.
O horror estava apenas começando.